IA: o novo brinquedo dos meninos mimados das big tech

Por Henrique Acker      – As bolsas de valores reagiram negativamente ao anúncio de que uma empresa chinesa (DeepSeek) desenvolveu um sistema de inteligência artificial eficiente, a um custo infinitamente menor que as grandes companhias ocidentais. Há relatos de uma desvalorização de cerca de um bilhão de dólares das chamadas big tech.

Para além da disputa entre empresas dos EUA e da China pela hegemonia no controle bilionário da tecnologia de ponta e sua aplicação, o que está em jogo é o futuro da sociedade humana.

Como toda tecnologia inventada e aplicada, a Inteligência Artificial  (IA) é mais uma ferramenta a serviço da humanidade. No entanto, a questão não está nos “perigos” e “ameaças” que ela representa a curto prazo, mas quem terá o poder de desenvolvê-la e controlá-la. Ou seja, para quais fins ela será usada e as consequências para a sociedade.

 

A serviço de quem?

A questão central é se a tecnologia deve estar a serviço da humanidade ou se a humanidade pode estar subordinada a uma tecnologia, que supostamente teria argumentos “científicos” para apresentar respostas aos problemas da própria humanidade.

A sofisticação de possibilidades oferecidas pela IA – do controle do trânsito ao diagnóstico e tratamento de doenças – implica somente na apropriação do conhecimento humano pelas grandes empresas de tecnologia de ponta, a partir da observação dos costumes dos usuários e da operação de algorítimos.

Uma IA nada cria, no máximo cruza dados em tempo recorde para oferecer respostas a questões que o próprio ser humano pode dar. Um dos maiores problemas do uso intensivo de IA no cotidiano será, certamente, a ausência do pensar coletivo para a busca de decisões por consenso ou pela maioria dos seres humanos.

 

Big tech não querem regras

Como a ciência da computação tem sido um ramo de atividade desenvolvido quase exclusivamente pelo setor privado, a partir dos interesses de grupos empresariais, o risco iminente é que, ao deterem o controle dos seus mecanismos, essas companhias tornem-se muito mais poderosas do que já são.

Mais poderosas inclusive que governos, como temos visto na tentativa das big tech em ignorar ou fugir a qualquer regra sobre difusão de notícias falsas nas redes sociais. Até aqui, a possibilidade ou não da publicação de falsidades na internet (fake news) não está resolvida. E se depender dos donos dessas corporações, vamos viver num verdadeiro “liberou geral”.

O combate à desinformação, que parece algo óbvio para a humanidade – até como questão ética – torna-se um problema de mercado para as companhias de alta tecnologia, na medida em que o algorítimo detecta que a mentira e o escândalo dão muita audiência nas redes e grande retorno financeiro.

Até os nossos dias, todas as sociedades humanas experimentaram novas tecnologias e criaram regras e limites em forma de leis para sua aplicação, a partir dos problemas detectados. O avanço da IA sob o comando de um seleto grupo privado de multinacionais ameaça fugir ao controle da humanidade, servindo exclusivamente às relações de “mercado”.

 

“Alexia” do futuro

Um dos riscos mais iminentes para o ser humano deverá ser a dependência de conhecimento e informação, concentrada nos programas de IA das grandes corporações do setor. Além de limitar o exercício do raciocínio, o ser humano seria direcionado a respostas prontas, oferecidas por grupos privados.

O surgimento de uma interatividade permanente entre as diversas formas de IA e o ser humano também pode levar a uma perda de identidade e de conexão humana. Ou seja, vamos passar a tomar decisões não mais com base nas experiências e no diálogo com outros seres humanos, mas por influência de uma IA. Estão aí as “Alexia” da vida como um balão de ensaio.

É evidente que todas as respostas dadas por uma IA serão fruto do conhecimento produzido e acumulado pela humanidade que estiver arquivado na memória desses programas. O que faz da IA uma ferramenta importante é a capacidade de armazenamento, a quantidade de informações e a velocidade das respostas ao que é perguntado.

No entanto, as decisões que dizem respeito à humanidade cabem à própria humanidade, a partir de valores humanistas e não em esquemas matemáticos racionais, a partir de um cruzamento de dados. Não há ferramenta neutra. Sua utilização estará sempre em disputa entre os interesses de grupos privados e o conjunto da sociedade.

 

Democracia em risco

Não será de estranhar se, no futuro, diante de uma crise política, a “opinião” de uma IA prevalecer, em detrimento de uma consulta democrática da população, como prevêem os manuais elementares da mais frágil democracia.

Quanto mais as ferramentas de IA estiverem sob o domínio de grupos privados, mais riscos teremos de viver sob a aparente “racionalidade” de soluções autoritárias, com base na lógica do lucro para uns poucos e do sacrifício da maioria.

Não por acaso, os CEO das principais corporações de alta tecnologia se alinharam com Trump na eleição dos EUA. A declaração de apoio de Elon Musk (Rede X) ao partido neonazista da Alemanha é uma demonstração evidente de que mundo passa pelas cabeças dos meninos mimados que dirigem essas companhias.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

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