Dados de civis são usados em celulares do Exército sem autorização

(Revista Forum)  – Em depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira (5), o tenente-coronel Rodrigo Azevedo, preso durante a Operação Contragolpe, revelou a prática de utilização de dados de civis brasileiros sem autorização para o registro de chips em celulares operados por militares das Forças Especiais do Exército. Azevedo, conhecido como um dos “kids pretos” – grupo ligado ao Comando de Operações Especiais (Copesp) –, afirmou que os dados eram obtidos em grupos do Telegram, utilizando informações aleatórias para registrar os aparelhos, supostamente em missões sensíveis.

“Minha intenção era ter esse celular para anonimizá-lo, realmente”, declarou Azevedo à PF, justificando que tal prática é recorrente em operações clandestinas para evitar a identificação dos agentes. Entre os exemplos citados pelo militar, estava um chip registrado em nome de “Arthur Silva Barbosa”. Segundo ele, a escolha de dados de terceiros se dava de maneira deliberada, sem qualquer consentimento, como forma de proteger os operadores e suas missões.

A revelação trouxe à tona uma prática alarmante, que levanta sérios questionamentos sobre o uso indevido de informações pessoais e a violação de direitos civis por instituições militares. A PF destacou que essa técnica não foi apenas aplicada em ações estratégicas legítimas, mas também utilizada em operações criminosas. Um dos telefones registrados com dados de terceiros, segundo as investigações, foi usado durante a tentativa abortada de sequestro e assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em dezembro de 2022.

De acordo com o delegado Fábio Schor, que conduz as investigações, o problema central não era apenas a técnica de anonimização, mas o objetivo ilícito para o qual os aparelhos foram utilizados. “O problema dessa situação é que esse celular foi usado numa ação para tentar prender, barra, executar o ministro Alexandre de Moraes”, afirmou Schor durante o depoimento de Azevedo.

Surpreso com a admissão de Azevedo sobre o uso de dados de civis e o vínculo com as ações investigadas, o delegado destacou a gravidade do caso. “O senhor está confirmando que esse telefone é do Batalhão de Operações Especiais, ou seja, um telefone que foi usado numa ação para tentar prender, matar o ministro Alexandre de Moraes. Isso torna ainda mais grave a situação”, afirmou Schor, demonstrando espanto com o envolvimento do Exército nesse contexto.

A investigação aponta que os telefones utilizados eram de propriedade do Exército, o que agrava a situação, configurando o uso de equipamentos institucionais para ações fora do escopo legal. Outros episódios também reforçam a gravidade do caso: o major Rafael Martins Oliveira, outro membro do grupo, usou a identidade de um civil envolvido em um acidente de trânsito para registrar um chip de celular. Esses dispositivos foram rastreados pela PF e revelaram o planejamento e a execução de missões relacionadas à trama golpista. (Foto: PF/Divulgação)

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