Morre Roberto Saturnino Braga, ex-senador e 1º prefeito eleito do Rio

Saturnino estava internado no CTI do Hospital Pró-Cardíaco devido a um quadro irreversível de pneumonia. Economista e engenheiro, ficou marcado por ter decretado falência do município em 1988

 

O ex-prefeito do Rio de Janeiro Roberto Saturnino Braga morreu na manhã desta quinta-feira (3), aos 93 anos. Ele estava em cuidados paliativos no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Pró-Cardíaco, na zona sul do Rio, internado com doença pulmonar obstrutiva crônica.

A informação foi confirmada pela família ao jornal O Globo e, em seguida, pelo prefeito Eduardo Paes (PSD). O velório será no Palácio da Cidade, em Botafogo, ainda sem data divulgada. O local do enterro ainda não foi informado. O governo do estado decretou luto oficial de três dias.

O hospital divulgou na noite de quarta-feira (2) que Saturnino Braga estava internado diante de “um quadro clínico de improvável reversão”, porém sem revelar a doença que o levou à internação. Nesta manhã prefeito Eduardo Paes afirmou que Saturnino Braga foi um dos homens mais dedicados e corretos da política carioca.

“Ele foi um dos mais dedicados e corretos homens públicos que a cidade do Rio de Janeiro já conheceu. Sua história em defesa da democracia, da liberdade e do povo mais pobre será sempre lembrada. É uma grande perda para a cidade do Rio de Janeiro e para o Brasil. Meus sinceros agradecimentos por toda sua dedicação à nossa cidade. Que Deus possa confortar o coração de sua família e de seus amigos”, lamentou.

Saturnino foi o primeiro prefeito eleito do Rio após a redemocratização. Administrou a capital fluminense entre 1986 e 1988. Durante a ditadura militar, foi deputado federal e senador. Mais de dez anos depois de seu mandato na prefeitura, voltou ao Senado, entre 1999 e 2007.

Economista e engenheiro, o carioca nascido em 13 de setembro de 1931, ficou marcado por ter declarado falência do município durante a gestão. Ele estudou em colégios tradicionais e se formou em engenharia pela antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1954.

Iniciou a carreira política em 1963, como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro — então separado do antigo estado da Guanabara. Como parlamentar, representou uma coligação liderada pelo PSB. Em 1975, tornou-se senador.

Ingressou no MDB com a instauração do bipartidarismo durante a ditadura militar. No partido, tornou-se liderança após a saída dos dois grandes nomes da legenda no estado, Chagas Freitas e Amaral Peixoto. Migrou para PDT durante a ascensão da figura de Leonel Brizola no Rio na década de 1980.

Foi reeleito senador em 1982, já pelo PDT, e escolhido pelo partido como candidato a prefeito nas primeiras eleições municipais diretas da história da cidade. Até 1960, prefeitos do Distrito Federal eram nomeados. De 1960 até 1975, o Rio foi estado da Guanabara.

Saturnino Braga (PDT) venceu o pleito, que teve quase 20 candidatos. O pedetista venceu com 40% dos votos válidos, derrotando concorrentes como Rubem Medina (PFL), Jorge Leite (PMDB) e Marcelo Cerqueira (PSB). A gestão foi marcada por crises financeiras. A prefeitura estava endividada e o Banco Central proibiu novos empréstimos à cidade. Em 1988, Saturnino declarou a falência do município.

Na ocasião, o prefeito disse que a gota d’água havia sido o telex enviado pelo Banco Central às agências bancárias do país às 17h do dia 26 de agosto de 1988, uma sexta-feira, determinando o bloqueio de todas as contas da prefeitura. O episódio que levou à decretação da falência se deveu a circunstâncias nacionais e locais.

Com o fracasso do Plano Cruzado, no governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990), o Brasil entrou em um cenário de hiperinflação. No Rio, a prefeitura perdeu receitas, porque Saturnino não conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores projeto que atualizava o IPTU e outros tributos pela inflação.

A gestão também vivia uma crise política. Durante a gestão Saturnino rompeu com Brizola, governador do estado entre 1982 e 1987, e trocou o PDT pelo PSB. Saturnino foi eleito vereador em 1993 e em 1998, finalmente, conseguiu uma vaga no Senado, justamente, pelo PSB, mas numa aliança com o PDT.

Em 2000, o PDT cobrou que mantivesse um acordo com o partido de que só cumpriria metade do mandato, renunciando depois de quatro anos para que Carlos Lupi assumisse a vaga. Saturnino não cumpriu o acordo e exerceu seu último cargo eletivo até o fim. Roberto Saturnino Braga também foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Niterói.

Simultaneamente, passou a se dedicar à literatura, tendo publicado várias obras. Uma delas, “Contos do Rio”, recebeu o Prêmio Malba Tahan, da Academia Carioca de Letras, em 2000. Viúvo, Roberto Saturnino Braga deixa três filhos, Adelia, Bruno e Antonio Frederico.

(Foto: Carlos Will/Centro Celso Furtado)

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