Para Lula, relação do Brasil-Argentina é “mais importante” do que a com Milei

O embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, afirmou nesta segunda-feira (16) em entrevista que, para o presidente Lula, a relação com o país vizinho é “mais importante” do que a que ele tem com Javier Milei.

Bitelli deu as declarações depois de ser chamado pelo governo para consultas sobre estratégias a serem adotadas nas tratativas do Brasil com o presidente argentino. Antes de falar sobre o tema, o embaixador teve uma breve conversa com Lula.

“[No encontro, Lula falou que] mais importante que a relação com Milei é a relação com a Argentina”, afirmou Bitelli. “A relação entre os países é o que interessa. A relação entre as pessoas pode ter mais afinidade, menos afinidade, proximidade ideológica, distância ideológica. O trabalho da embaixada em Buenos Aires, desde de dezembro do ano passado, é preservar a relação”, completou o diplomata.

Lula e Javier Milei têm trocado farpas publicamente nos últimos meses. Alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o argentino já chamou o petista de “corrupto” e “comunista”. O presidente Lula tem evitado contra-ataques com esse tom, mas não esconde irritação com a postura de Milei.

O petista, por exemplo, criticou a decisão de Milei não comparecer à reunião do Mercosul em Assunção, Paraguai. Na véspera, o argentino participou de uma reunião de políticos da direita em Santa Catarina, onde se encontrou com Bolsonaro. Lula classificou como “bobagem imensa” a ausência do mandatário na reunião do bloco sul-americano.

Interlocutores de Lula avaliam as atitudes de Milei como “provocações” de quem coloca a ideologia acima dos interesses do seu país, mas o Brasil tem adotado uma posição pragmática, dentro do entendimento de que a diplomacia argentina segue mantendo conversações com a brasileira, sem interrupção das relações.

 

Queda no comércio bilateral

Bitelli disse que a relação Brasil-Argentina está passando por um momento “desafiador” e o governo brasileiro está preocupado em preservar os laços com o país vizinho.

“Há oportunidades novas que estão se abrindo na argentina, independentemente, das afinidades entre os governos. Por exemplo, no campo energético. A nossa ideia é buscar maneiras de aproveitar essas oportunidades”, declarou.

O embaixador destacou que a política econômica adotada por Milei tem gerado uma “retração muito forte” no consumo dos argentinos, o que tem afetado negativamente as trocas comerciais com o Brasil. Porém, para o diplomata, esse momento de retração é “circunstancial”.

Segundo o governo brasileiro, houve uma queda de 22% no comércio bilateral Brasil-Argentina na comparação entre os primeiros semestres de 2024 e 2023. As exportações brasileiras caíram 37,6%. (Foto: Reprodução)

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