OTAN quer mais armas sob alegação de defender a paz

Henrique Acker (correspondente internacional)   –  A Conferência de Washington, de9 a 11 de julho 2024, foi um evento para justificar a existência e o fortalecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como instrumento de intervenção militar no Mundo e o crescimento da indústria de armas. Não há no documento qualquer menção à busca da paz na Ucrânia ou no Oriente Médio.

Durante a cúpula a OTAN anunciou que, pela primeira vez desde o final da Guerra Fria, vai implantar mísseis de longo alcance dos EUA na Alemanha. São Tomahawk, SM-6 e de cruzeiro hipersônicos, com alcance bem maior do que os atuais.

Em resposta, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que “este é apenas um elo na cadeia de escalada”, depois de acusar a OTAN e os Estados Unidos de tentarem intimidar seu país. Ryabkov disse que Moscou reagirá com uma “resposta militar à nova ameaça”.

 

40 bilhões de euros para a Ucrânia

Apesar da declaração final da Conferência de Washington reafirmar o caráter defensivo da OTAN, dela consta que a “dissuasão nuclear é a pedra angular da segurança da Aliança”. Ou seja, para defender a paz coloca-se em risco a própria sobrevivência da espécie humana e do Planeta.

Mais adiante, o documento explicita os objetivos da Organização para o próximo período: “O reforço da indústria de defesa em toda a Europa e América do Norte” e o “compromisso de expansão da capacidade industrial da OTAN”.

Sobre a Ucrânia, ficou assegurado o repasse de mais 40 bilhões de euros para 2025 e que as decisões da Conferência de Washington e do Conselho OTAN-Ucrânia, combinadas com o trabalho em curso dos Aliados são “uma ponte para a adesão da Ucrânia à OTAN”.

 

Joe Biden cometeu mais uma gafe ao chamar o Presidente da Ucrânia de Vladimir Putin

 

Acusações à China

Chama a atenção a importância dada no documento aprovado na Conferência de Washington ao papel desempenhado pela China: “As ambições declaradas e as políticas coercivas da República Popular da China (RPC) continuam a desafiar os nossos interesses, segurança e valores”.

A declaração da OTAN lança um apelo à República Popular da China para “cessar todo o apoio material e político ao esforço bélico russo”.

Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lin Jian, acusou a Aliança Atlântica de difamar seu país com desinformação fabricada. “A China pede a OTAN a deixar de interferir em sua política interna, de manchar a imagem da China, e a não criar o caos na Ásia-Pacífico depois de gerar turbulência na Europa”, advertiu Lin.

 

Instabilidades na África e Oriente Médio

Apesar da conclusão de que “a Rússia continua a ser a ameaça mais significativa e direta à segurança dos Aliados”, há também no documento da OTAN menções explícitas a outros países, como o Irã, cujas “ações desestabilizadoras” estariam “afetando a segurança euro-atlântica”.

“Os conflitos, a fragilidade e a instabilidade em África e no Oriente Médio afetam diretamente a nossa segurança e a segurança dos nossos parceiros”, é outra conclusão que consta da declaração final da Conferência.

A OTAN, criada há 75 anos, foi um instrumento do que se chamou “Guerra Fria”, que opunha os EUA e seus aliados ocidentais a uma pretensa expansão do socialismo soviético na Europa, logo após o término da II Guerra mundial. Quando criada, a OTAN foi anunciada como um instrumento de defesa da paz.

No entanto, desde o fim da URSS e do Pacto de Varsóvia (1991), a Organização tornou-se um instrumento de controle e intervenção armada dos EUA e seus aliados mundo afora. Foi assim na antiga Iugoslávia, depois no Afeganistão e no Iraque. Mais a frente, com as intervenções nos conflitos na Líbia e na Síria. E agora, indiretamente, na guerra da Ucrânia. (Fotos: Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

Declaração da Conferência de Washington da OTAN (9 a 11/7/24)

Resposta da China e da Rússia

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