75ª Conferência da OTAN: EUA e União Europeia traçam planos no terreno militar

Henrique Acker (correspondente internacional)    –  Começou na terça-feira, 9 de julho, e vai até quinta-feira, 11 de julho, a 75ª Conferência da Organização do Tratado do Atântico Norte (OTAN*), em Washington, capital dos EUA. O encontro reveste-se da maior importância para a estratégia geopolítica tanto do governo estadunidense quanto da União Europeia.

Três aspectos gerais são relevantes na pauta da Conferência de Washington: 1) A polarização econômica, política e militar entre os países da OTAN e o bloco China/Rússia; 2) Os destinos da guerra da Ucrânia; 3) A condução e o financiamento da Organização para o próximo período, quando os EUA poderão estar sob a presidência de Donald Trump.

 

Cinco pontos estratégicos

Gastos com Defesa – A conferência debaterá o investimento de 2% do PIB dos países membros na área da defesa, para que este não seja um máximo, mas um mínimo comum da contribuição de todos à OTAN. Até aqui, 23 dos estados-membros (2/3) atingiram esta meta, o que significa que um terço continua aquém deste percentual.

Fundo para a Ucrânia – Na agenda da reunião de cúpula estará uma proposta do antigo secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, de criar um fundo de longo prazo para a Ucrânia de 40 bilhões de euros anuais.

Flanco Sul – Os analistas da Aliança reconhecem que esta zona – Mar Mediterrâneo, África e Golfo Pérsico – poderá ser, a curto prazo, um local onde os interesses da Rússia e da OTAN entrarão em colisão. Síria, a Líbia e o Sahel são potenciais “barris de pólvora” prontos a explodir, num cenário de escalada de conflitos com Moscou.

Censura aos meios adversários – A Conferência de Washington deverá reforçar a necessidade de uma estratégia clara e de soluções rápidas para o que a OTAN considera os ataques de informação da Rússia, China e seus aliados. Os analistas ocidentais advertem que os esforços para sancionar, proibir ou atenuar os efeitos da propaganda patrocinada pelo Estado russo não estão sendo eficazes.

 

O “sério desafio” da China – A conferência de Madrid, em 2022, nomeou a China como um concorrente sistêmico e o novo Conceito Estratégico da OTAN definiu o posicionamento de Pequim como um “sério desafio” aos interesses dos aliados. Os EUA e a União Europeia estão preocupados com a disparada do investimento militar chinês e com a possibilidade de perderem a sua vantagem tecnológica para Pequim. A OTAN deverá aprofundar sua aliança com a Austrália, o Japão, a Coreia do Sul e a Nova Zelândia, visando ao patrulhamento das águas internacionais dos oceanos Índico e Pacífico.

 

Situação “extremamente perigosa”

Em meio à Conferência que marca os 75 anos da OTAN, analistas independentes advertem para o avanço da corrida mundial à fabricação e venda de armas e munições.

Os gastos militares globais em 2023 tiveram seu maior aumento percentual desde 2009 (6,8%), chegando ao valor recorde de 2,4 trilhões de dólares, em consequência dos conflitos armados em andamento. É o que aponta o relatório publicado em 22 de abril deste ano pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).

O destaque de gastos militares vai para a Europa, o Oriente Médio e a Ásia, de acordo com os autores do relatório. Já os tradicionais líderes do ranking mundial – os EUA, a China e a Rússia –   aumentaram ainda mais seus investimentos no setor.

 

 

“Todos os membros da OTAN, com exceção de três, aumentaram seus gastos. Além disso, 11 dos 31 membros da aliança militar atingiram ou até mesmo ultrapassaram sua meta de 2% do PIB com gastos militares, mais do que em qualquer outro momento desde o fim da Guerra Fria”, disse o pesquisador do Sipri, Xiao Liang.

Para o cientista político Niklas Schörnig, do Instituto Leibniz de Pesquisa sobre Paz e Conflitos, um retrocesso nos gastos só seria possível se houvesse uma paz na Ucrânia que não dividisse o país.

No caso do conflito China-Taiwan, ele ainda espera que os EUA e a China possam controlar a situação por meio de negociações. “No momento, a atual situação global, e os números do Sipri refletem isso claramente, é extremamente perigosa”, adverte.

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(*) A OTAN foi criada em 4 de abril de 1949 pelos EUA e outros 11 países fundadores, visando conter o avanço da influência soviética sobre os países europeus no pós-guerra. Só mais tarde, em 1955, a URSS e seus aliados criaram o Pacto de Varsóvia, como resposta à OTAN. O Pacto de Varsóvia foi extinto em 1991, com o fim da URSS, mas a OTAN segue como uma força de intervenção militar dos EUA e seus aliados em todo o Mundo.  (Foto: Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

OTAN

RTP

DW

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