Ipea: motoristas de aplicativo estão trabalhando mais horas e ganhando menos

Pesquisa realizada a partir de dados do IBGE, analisou ainda queda na contribuição previdenciária dos profissionais que atuam via plataformas digitais

 

A precarização das condições de trabalho de motoristas de aplicativo aumentou em uma década no Brasil. De acordo com estudo “Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta quinta-feira (23), os impactos atingem as jornadas de trabalho, as contribuições previdenciárias e também menor renda média. Todos são consequências, conforme análise, da expansão de motoristas no transporte de passageiros após o avanço de aplicativos no país.

Em 2015, eram cerca de 600 mil profissionais. Em 2022, o total alcançou cerca de 1 milhão e 100 mil, acréscimo vindo de aplicativos, com 88% dos profissionais como autônomos. Neste mesmo período, o rendimento médio passou de cerca de R$ 3.100 para menos de R$ 2.400. Nesse levantamento ainda é revelado que os trabalhadores dessa categoria que mantinham jornadas entre 49 e 60 horas semanais cresceu de 21,8%, em 2012, para 27,3%, em 2022.

A situação mostra um dado amargo: os motoristas trabalhadores em aplicativo passaram a trabalhar mais e ganhar menos na última década. Segundo o Ipea, esse aumento na jornada não se repetiu com outras categorias autônomas e, para completar, o número de trabalhadores que contribuíam com a previdenciária, de forma absoluta, caiu de 47,8%, em 2015, para 24,8%, em 2022. Ou seja, a precarização aumentou no grupo e, mesmo assim, uma parcela ainda rechaça a organização do governo para regulamentar o trabalho com a oferta de benefícios e cobertura previdenciária.

Este quadro é ainda mais perverso com os entregadores de motociclistas e bicicletas. A renda menor desse público que correspondia a 56 mil trabalhadores, em 2015, e foi a 366 mil, em 2021, retraiu de R$ 2.250 para R$ 1.650 nestas datas. De acordo com Carlos Henrique Corseuil, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, com base na proposta de regulamentação do trabalho de motoristas de aplicativo que passou para análise legislativa, o estudo visa “subsidiar a construção dessa política e informar a sociedade como um todo são as principais importâncias, pois muitas vezes as pessoas não sabem onde buscar informação qualificada.”

De acordo com os autores do levantamento, Sandro Sacchet e Mauro Oddo, técnicos do Ipea, mesmo que os dados mostrem a precarização os trabalhadores ainda “reproduzem a narrativa” de que são “empreendedores de si mesmos”.

(Foto: Uber/divulgação)

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