Brasileiros em Portugal: quanto mais chegam, mais retornam

Henrique Acker (correspondente internacional)    –  O que você faria num país estrangeiro, trabalhando seis dias por semana, recebendo salário mínimo de 820 € e pagando cerca de 700 € só de aluguel? E se a sua autorização de residência estiver dependendo de um órgão público, no qual se acumulam mais de 400 mil pedidos?

Trabalhar muito, ganhar pouco, morar mal e ter pouco tempo livre. Essa é a situação de grande parte dos brasileiros que decide viver em Portugal. Muitos estão retornando ao Brasil, por absoluta falta de condições para permanecer em terras lusitanas recebendo salários baixos e gastando o que recebem com o aluguel.

Para piorar, o novo governo anunciou que a autorização de residência da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), só deve vigorar até o final de junho deste ano. A partir daí, muitas empresas e donos de imóveis deixaram de fechar contratos com imigrantes com visto CPLP.

 

Pedidos de socorro

A comunidade brasileira é a mais representativa no total dos pedidos de ajuda para voltar ao país de origem. Eles já representavam 82% dos beneficiários do programa da Organização Internacional das Migrações (OIM)  em 2021 e, em 2022, chegaram a 92%.

Em 2023, a OIM registrou 1.017 pedidos de ajuda de imigrantes em Portugal para regressar aos seus países de origem. Deste total, 814 eram de cidadãos brasileiros, ou seja, 80%.

Já são 400.000 brasileiros legalizados em Portugal, outros 150.000 aguardam a legalização e mais de 200.000 possuem dupla nacionalidade (dados de 2024). Em 2022, residiam em Portugal 360.000 brasileiros, sendo a segunda maior comunidade brasileira fora do Brasil, atrás apenas da dos Estados Unidos.

 

Salários baixos

Chegar a Portugal e conseguir trabalho rapidamente é difícil, a não ser nas áreas de turismo (restaurantes, cafés, hotéis, hostels) ou na construção civil, limpeza e segurança privada. É justamente nos setores de trabalho precarizado que predomina a mão-de-obra dos imigrantes. Na maioria dessas atividades não há contratos e os salários são baixos (820 €).

Os horários de trabalho nessas áreas costumam ser de 44 a 48 horas semanais, em seis dias da semana e uma folga, muitas vezes numa escala determinada pela chefia ou o patrão.

As vagas na indústria para imigrantes existem por meio de empresas terceirizadas, também com salários baixos (no máximo 1.000 €). Uma parte das empresas contrata terceirizados com escalas de seis dias/semana e diária de 8 horas de trabalho. Ao final de um ano, os terceirizados são dispensados.

 

Alugueis caros, moradias precárias

Porto e Lisboa estão entre as cidades mais visitadas e badaladas da Europa. Para europeus e estadunidenses o custo de vida em Portugal é bem mais barato que em seus países. Desde 2016 a onda de turismo fez aquecer a especulação imobiliária, primeiro na capital, depois no Porto, e a partir daí para todo o país.

A compra desenfreada de imóveis por estrangeiros ricos fez ampliar o interesse dos fundos imobiliários. O preço médio do metro quadrado nas duas maiores cidades do país disparou, equiparando-se ao de Paris e outras cidades mais caras da Europa. Em Lisboa atingiu 4.000 € em abril e no Porto 2.600 €. Os preços altos influenciaram também o mercado nas cidades do interior.

O resultado disso foi uma disparada dos preços dos aluguéis. Hoje, não é possível alugar um quarto por menos de 350 €. Uma quitinete nas duas cidades não fica por menos de 700 €. Um apartamento de quarto e sala tem preço variado de 800 a 1300 euros, dependendo do bairro. O metro quadrado do aluguel em média no Porto chega a 17 € e em Lisboa 21 €.

 

Situação de risco

Como não há imóveis disponíveis a preços razoáveis, cresceu o número de pessoas morando em quartos ou camas, em casas com ou sem os proprietários. Já há alojamentos adotando o aluguel de camas em sistema de turnos. No início de 2024, eram 37,7% da população imigrante vivendo em situação de sobrelotação habitacional.

São cerca de 130 mil os alojamentos sobrelotados nas grandes cidades de Portugal, segundo o INE. Sem contar os 4 mil alojamentos improvisados, a maioria em forma de barracas.

“Até para alugar um imóvel é complicado, porque a pessoa não tem como provar rendimento e terá que pagar um adiantamento e o proprietário vai querer garantia”, declarou à reportagem da RFi (reproduzida pelo G1) a advogada Vitoria Nabas, especializada em imigração na Europa.

 

Dois empregos

O Instituto Nacional de Estatística (INE) registrou um crescimento do número de pessoas com dois empregos em Portugal no primeiro trimestre de 2024. São agora 262,4 mil os que revelam ter um segundo emprego.

De 2022 a 2024 o grupo de trabalhadores que mais cresceu foi o dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores, com mais 68,9 mil postos de trabalho criados. Em segundo lugar surge o grupo dos “trabalhadores não qualificados”, com mais 52,7 mil empregos criados. É no setor dos serviços, justamente o mais precarizado, que estão concentrados 85% dos casos de pessoas que acumulam dois trabalhos.

A inflação causada pela guerra da Ucrânia e as medidas adotadas pelo Banco Central Europeu – aumento da taxa de juros para 4,5% – encareceram a vida em todo o Continente e também em Portugal.

O site Numbeo, que calcula o custo de vida ao redor do mundo, informa que uma pessoa sozinha precisa de 714,30 € mensais (sem o valor do aluguel incluído) para viver em Lisboa em 2024. Já para o Porto, uma pessoa sozinha precisaria de 643 € mensais (sem o valor do aluguel incluído) para viver na cidade de forma econômica. (Foto: reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/pais/brasileiros-representam-80-dos-imigrantes-que-pediram-apoio-para-voltar-ao-pais-de-origem_n1552117

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/02/15/aumenta-o-numero-de-imigrantes-brasileiros-em-portugal-que-pedem-ajuda-para-regressar-ao-brasil.ghtml

https://www.eurodicas.com.br/como-morar-em-portugal/#qual-o-valor-necessario-para-viver-em-portugal

https://www.imovirtual.com/noticias/imoblog/barometro-preco-casas-marco-2024-vender-e-arrendar/

https://www.idealista.pt/media/relatorios-preco-habitacao/arrendamento/lisboa/

https://www.dn.pt/4961347194/dois-anos-de-crise-80-do-brilharete-do-emprego-assenta-em-trabalhos-pouco-ou-nada-qualificados/

https://www.dn.pt/1908821438/nunca-houve-tanta-gente-a-ganhar-mais-de-3000-euros-liquidos-por-mes/

https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2024/05/09/63917-crise-na-habitacao-ha-mais-de-154-mil-casas-vazias-e-sem-dono

https://www.dw.com/pt-002/ser%C3%A1-o-fim-do-visto-cplp-em-portugal/a-68640361

https://www.numbeo.com/cost-of-living/city-estimator/in/Lisbon

https://www.numbeo.com/cost-of-living/in/Porto

 

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