Servidores ambientais foram os mais atacados por Bolsonaro durante seu mandato, constata estudo

Já os policiais, foram os servidores públicos mais elogiados, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas que mapeou a dinâmica de ataques e acenos durante a gestão do ex-presidente

 

Os servidores ambientais foram a categoria mais atacada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante seus quatro anos de mandato. Do outro lado, os policiais foram os que receberam mais elogios, concentrando 80% dos acenos. É o que revela o estudo “Ataques e Acenos a Servidores Públicos e Burocratas Durante o Governo Bolsonaro (2019 – 2022)”, realizado por pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e divulgado pela Agência Bori nesta quarta-feira (24).

O estudo analisou postagens na rede social X (antigo Twitter) e do canal do ex-presidente no Telegram. Também foram analisadas as falas checadas pela agência de checagem Aos Fatos. Ao todo, a pesquisa analisou 19.802 conteúdos publicados. Desses, há menções positivas aos policiais em 307 conteúdos e ataques em apenas 18. No caso dos servidores ambientais, há ataques em 40 conteúdos e nenhuma menção positiva.

“Podemos pressupor que existem nichos com os quais o ex-presidente dialoga, então quando ele acena para policiais, ele está dialogando com a sua base eleitoral, que defende aquela categoria profissional também”, afirma Ergon Cugler, coordenador do estudo e pesquisador na FGV EAESP.

Também há menções negativas a servidores do judiciário, principalmente relacionando a uma suposta fraude eleitoral, e servidores da saúde e professores. Alguns exemplos de discursos negativos foram quando Bolsonaro acusou um suposto “Aparelhamento do Estado” operado por meio de médicos cubanos, servidores do Banco do Brasil e da Receita Federal, que estariam supostamente perseguindo ele.

Também acusou médicos cubanos de estarem financiando a ditadura. Colocou em dúvidas a idoneidade dos servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Também insinuou que os servidores da Petrobras estariam ganhando mais de 200 mil às custas de impostos.

Entre os afagos positivos, estão elogios a apreensões feitas pela polícia e ao trabalho de policiais. Ao todo, foram 521 vezes que Bolsonaro mencionou servidores públicos, sendo 141 vezes em que foram feitos ataques e 380 vezes que realizou acenos.

Servidores do Judiciário

Outro grupo atacado por Bolsonaro e que não recebeu nenhum aceno positivo foi o dos servidores do Judiciário. Em seus ataques, o ex-presidente utilizou como principal discurso a crítica às urnas eletrônicas e a uma suposta fraude eleitoral. “Ao criticar e atacar a credibilidade das urnas, o presidente dá espaço para que a parcela da sociedade que não quer aceitar os resultados das eleições se volte contra o governante eleito”, diz Lotta.

Em 8 de janeiro de 2023, após as eleições presidenciais, pudemos perceber os efeitos dos ataques de Bolsonaro ao judiciário. Os atos golpistas que destruíram as sedes dos Três Poderes e ameaçaram a democracia tiveram como combustível as falas do ex-presidente e outros políticos de extrema direita contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instituições.

O estudo ressalta que Bolsonaro equilibrou ataques e acenos para diferentes categorias de servidores públicos e burocratas ao longo dos quatro anos. “Por exemplo, acusou médicos cubanos de financiar uma ditadura ao mesmo tempo em que elogiava a atuação da Polícia Federal em apreensões. Da mesma forma, questionou a idoneidade de servidores FUNAI e do IBAMA, ao mesmo tempo em que anunciou reajuste salarial para professores e expressou apoio à categoria”, afirma a pesquisa.

Para os pesquisadores, essa oscilação tem como objetivo “consolidar uma identidade social que une grupos excluídos numa luta colectiva contra inimigos comuns – que vão desde a elite à corrupção e ao status quo”.

Cugler também chama atenção para o fato de que servidores da saúde e professores foram atacados e acenados quase igualmente pelo ex-presidente. Para ele, isso faz parte da estratégia de comunicação com a base eleitoral. “No discurso de Bolsonaro, há os ‘bons servidores’ de saúde e os ‘maus’, assim como os professores”, explica o pesquisador.

Tais discursos influenciam a percepção sobre os servidores e os serviços públicos no cotidiano. “Os servidores públicos são a porta de entrada aos serviços públicos, como acesso à saúde nos hospitais, e não são poucos os relatos de agressão verbal e até física de cidadãos a estes trabalhadores”, acrescenta Cugler.

Lotta também diz que as falas de Bolsonaro reforçam uma narrativa de ‘nós contra eles’, que é a base do populismo. “Isso abala a credibilidade, a imagem e mesmo o moral destes servidores, além de colocá-los como inimigos a serem combatidos”, aponta a pesquisadora. Cugler complementa defendendo que um governante não deveria comprar briga contra servidores públicos, pois isso dificulta a implementação de políticas públicas e o acesso da população aos serviços.

Por fim, os pesquisadores afirmaram que, a partir dos resultados do levantamento, pretendem analisar os efeitos de discursos de ataque e acenos sobre a atuação dos servidores públicos.

(Foto: Vinícius Mendonça | Ibama)

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