Baptista Almeida, em depoimento à PF, teria dito que relatou a Bolsonaro que não houve fraude nas eleições, segundo relatório militar, e que o ex-ministro da Justiça era responsável por fornecer embasamento jurídico para decretar um estado de defesa ou de sítio
Em seu depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, agravou significativamente a situação do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. Conforme relatado pelo depoente, o ex-ministro da Justiça era responsável por fornecer embasamento jurídico para que Jair Bolsonaro pudesse decretar um estado de defesa ou de sítio. As informações são da coluna desta terça-feira (12) da jornalista Bela Megale do Jornal O Globo.
O testemunho do militar, que vale ressaltar foi alvo da fúria do general Walter Braga Netto por não aderir à tentativa de golpe, teve uma duração de aproximadamente dez horas e ocorreu antes do depoimento do ex-comandante do Exército, Freire Gomes, que prestou declarações aos investigadores no início do mês. As informações apresentadas por ambos como testemunhas no inquérito sobre o plano golpista foram transmitidas a Mauro Cid, ex-ajudante da Presidência e atual delator, que foi interrogado nesta segunda-feira (11).
Assim como Freire Gomes, Baptista Júnior teria sido pressionado pelo ex-presidente a aderir a tentativa de golpe e, após a negativa, se tornou alvo do núcleo comandado por Braga Netto que incitava ódio contra os militares que teriam se negado a encampar a intentona. Em nova informação sobre o teor do depoimento, Bela Megale afirma que o ex-comandante da Aeronáutica teria dito aos investigados que o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, atuava como um consultor jurídico de Bolsonaro nos temas relativos ao golpe.
Na casa de Torres, que chegou a ser preso após os atos de 8 de janeiro – quando viajou para os EUA um dia após assumir a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal -, a PF encontrou uma das versões da minuta golpista. Bapstista Júnior também teria confirmado que esteve na reunião – relatada depois por Freire Gomes – em que Bolsonaro teria pressionado os comandantes das três forças a aderirem ao golpe. Segundo a PF, apenas Almir Garnier, da Marinha, teria colocado “as tropas à disposição”.
O brigadeiro ainda afirmou que teria dito a Bolsonaro que o relatório militar apontou que não houve fraudes nas eleições. Para os investigados, a informação mostra que o ex-presidente seguiu com o plano golpista, mesmo diante da negativa ao seu discurso de fraude nas urnas eletrônicas.
(Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil – Divulgação)