“Baseado em livros e fatos”, diz presidente da Vai-Vai – rebatendo críticas de policiais ao enredo da escola

O presidente da Vai-Vai, Clarício Gonçalves, rebateu, nesta terça-feira, 13, as críticas à escola de samba de São Paulo no carnaval de 2024. Ao Terra, ele nega que a ala que trazia pessoas fantasiadas de policiais do Batalhão de Choque e usavam chifres e asas vermelho-alaranjadas simbolize que a escola esteja contra algum órgão público. “Isso jamais”, destacou ele.

“O enredo é baseado em livros e fatos. Aquela ala que foi polêmica é uma coisa que estava dentro do enredo. Não é possível você falar de um enredo e você ocultar a história. Mas, em momento algum, a gente tem alguma coisa contra a organização que realmente protege São Paulo”, continuou o presidente da Vai-Vai.

Clarício reforçou que a posição da Escola do Povo, como a Vai-Vai é conhecida, é a de aceitar “qualquer pessoa. Não temos bandeira de futebol, não temos bandeira política”, disse. “Nós pegamos uma história e relatamos ela do formato que tinha que ser, com os quatro elementos do hip-hop. Esse nosso enredo foi um dos mais comentados, porém com várias interpretações. E nós estamos sendo bombardeados”.

A declaração de Clarício foi dada momentos antes do início da apuração das notas dos desfiles, ocorridos nos últimos dias 9 e 10. Ainda nesta terça, a agremiação emitiu uma nota em resposta ao Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, que criticou o desfile da agremiação do Bixiga.

No texto, a Vai-Vai afirma que o enredo de 2024 “tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs”.

A nota diz, ainda, que a escola de samba “buscou homenagear e dar vez e voz aos muitos artistas excluídos que nunca tiveram seu talento e sua trajetória notadamente reconhecidos”, por meio de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, em 1997.

O álbum do grupo vendeu mais de meio milhão de cópias e abordou temas como racismo, miséria e desigualdade social. Por isso, “a ala retratada no desfile de sábado, à luz da liberdade e ludicidade que o carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação”.

O texto da agremiação diz também que a ala retrata parte da história da capital paulista na década de 90, quando já havia “índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundos, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época”.

“O que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a nota.

 

Reclamações de policiais 

Maior campeã do Carnaval de São Paulo, a escola desfilou no último sábado, 10, e contou com a presença de Mano Brown e Negra Li.

O desfile gerou uma repercussão negativa por parte do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), que divulgou uma nota de repúdio.

O sindicato que representa a categoria afirma que a escola “tratou com escárnio a figura de agentes da lei”. “Com direito a chifres e outros itens que remetiam à figura de um demônio, as alegorias utilizadas na ala Sobrevivendo no Inferno, demonizaram a polícia”, diz a nota.

“O Sindpesp aguarda que a Vai-Vai, num momento de lucidez e de reflexão, reconheça que exagerou e incorreu em erro na ala em questão, e se retrate, publicamente”, afirma o documento.  (Foto: Ricardo Matsukawa/Especial para o Terra)

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