As recentes notícias da crise financeira na Gol, que entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos, reacenderam nos leitores lembranças de outras companhias áreas brasileiras, que já nem existem mais.
Varig, Vasp, Transbrasil e outras foram mais do que meras transportadoras aéreas.
Elas eram os ícones de uma era em que voar não era apenas um meio de transporte, mas uma experiência rica em histórias, desafios e aventuras.
Não à toa, fizeram história nos céus brasileiros.
A revista EXAME separou cinco companhias áreas que não existem mais para te contar o que aconteceu com cada uma delas.
Aperte os cintos e venha conosco nesta viagem.
A Viação Aérea São Paulo (Vasp) foi uma das principais companhias aéreas brasileiras durante boa parte do século passado. Fundada por um grupo de empresários paulistas em 1933, a empresa enfrentou dificuldades financeiras logo no início de sua história. Já em 1935, o poder estadual acabou comprando 91,6% das ações da empresa, tornando a Vasp uma estatal, carimbo que manteve até os anos 1990, quando o então governador Orestes Quércia encabeçou a privatização da empresa. O processo todo foi politicamente registrado. Uma CPI investigou irregularidades no processo de privatização, que envolveram o baixo valuation da empresa e um investimento milionário que o governo fez pouco antes de vender a então estatal.
Durante esse período, a idade avançada de parte da frota da Vasp tornou-se um desafio logístico e financeiro. Manter aeronaves antigas exigia investimentos significativos em manutenção, o que se tornou insustentável diante das dificuldades financeiras que a empresa começou a enfrentar. Além disso, o aumento da concorrência no setor da aviação também impactou a Vasp. Em 2004, vários aviões foram impedidos de voar devido a irregularidades, e também ocorreu paralisação dos trabalhadores. A chegada de empresas estrangeiras e o crescimento de outras companhias nacionais tornaram o mercado mais competitivo, exacerbando as dificuldades enfrentadas pela Vasp.
Em 2005, a Vasp suspendeu suas operações de voos regulares e entrou em processo de recuperação judicial. Apesar das tentativas de reerguimento, a empresa não conseguiu superar suas dificuldades financeiras e, em 2008, teve sua falência decretada. Hoje, a massa falida da companhia aérea processa a União em 95 bilhões de reais, alegando que políticas aplicadas pela administração federal provocaram uma defasagem nas tarifas praticadas pela empresa. Àquela época, o governo tabelava as tarifas das cias aéreas que tinham concessão de serviço público.
Hoje em dia, as aeronaves que eram da companhia ou foram cortadas para serem vendidas como sucata, ou estão expostas, como artigos nostálgicos. Assim, a Vasp encerrou suas atividades como uma das pioneiras e mais emblemáticas companhias aéreas do Brasil.
Varig
A Viação Aérea Rio-Grandense (Varig) foi uma das mais tradicionais e importantes companhias aéreas brasileiras, mas enfrentou uma série de desafios que resultaram em sua decadência e eventual encerramento.
A criação de uma empresa de transporte aéreo brasileira surgiu na mente de Otto Ernet Meyer Labastille, um alemão ex-oficial-aviador da Aviação Real Prussiana. Ele emigrou para o Brasil em 1921, tentou criar uma empresa de transporte aéreo em Recife e depois no Rio de Janeiro, mas só encontrou o apoio necessário em Porto Alegre. Em 1926, ele partiu para Alemanha em busca de aeronaves e funcionários experientes. Lá ele fez um acordo com a companhia aérea alemã Condor Syndikat: a empresa forneceria um avião e funcionários para operar a aeronave em troca de 21% da futura companhia aérea brasileira.
A Condor Syndikat recebeu autorização para voar no Brasil no dia 26 de janeiro de 1927 e no dia 3 de fevereiro foi inaugurado o primeiro voo comercial no país. Em 7 de maio de 1927, a Viação Aérea Rio Grandense foi oficialmente criada, iniciando suas operações com a aeronave Dornier Wal chamada “Atlântico” na rota conhecida como “Linha da Lagoa”, ligando Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Em 1930, a Condor Syndikat se retirou, levando a Varig a devolver os aviões, mas a empresa conseguiu apoio do governo do Rio Grande do Sul, construindo um hangar e adquirindo novas aeronaves Junkers. Em agosto de 1942, a Varig realizou seu primeiro voo internacional para Montevidéu. A chegada dos Lockheed Constellation em 1955 permitiu a abertura da rota mais longa até então, conectando Porto Alegre a Nova Iorque, com escalas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Santo Domingo. Essas aeronaves operaram até a década de 1960, quando foram substituídas pelos Boeing 707.
Com as operações internacionais e várias rotas locais, a Varig se tornou, entre as décadas de 1960 e 1980, uma das maiores e mais conhecidas companhias aéreas privadas do mundo. A empresa era conhecida por seu serviço de bordo em todas as três classes.
Nos anos 1990, endividada com a compra de novas aeronaves, a Varig passa a ter prejuízos agravados com a recessão causada pela Guerra do Golfo. A empresa vende aviões para bancos e empresas de leasing e passa a alugá-los. Na mesma época, a companhia faz uma reestruturação, dispensa mais de 3.000 funcionários e fecha 30 escritórios no exterior. Mesmo assim, os gastos estrangulam a operação da Varig, que passa a enfrentar também uma crescente concorrência no mercado, já que o governo abre o setor para companhias aéreas internacionais. Além disso, os custos operacionais da Varig aumentaram, especialmente com a alta dos preços do combustível. Se afundando cada vez mais em dívidas, a Varig mantinha um alto custo de operação e gastos descontrolados.
A companhia pediu recuperação judicial em junho de 2005, com dívidas de 5,7 bilhões de reais. No ano seguinte, iniciaram-se as demissões na empresa, totalizando mais de 5.000 postos de trabalho cortados em apenas um dia. Como consequência a malha aérea era ajustada a uma frota cada vez menor e a companhia começou a deixar de voar para vários destinos como Nagoya, Tokyo, Cancún, Lisboa, Milão, Madrid, Munique, Paris, Los Angeles, Nova York, México, Montevidéu, Assunção e Bogotá. Até o inicio de julho de 2006 a VARIG estava reduzida a uma frota de dez aeronaves e sete destinos.
Em julho de 2006 a Varig foi dividida em duas empresas. A nova foi leiloada e vendida para a Volo Brasil, que continuou a operar com a licença da Varig até obter a sua própria licença para operar. Já a “antiga Varig” ficou com as dívidas. Em abril de 2007, a “nova Varig” foi comprada pela Gol e teve, aos poucos, sua frota transformada para a marca da compradora. Já a antiga Varig tentou seu último plano de se reerguer e lançou uma companhia aérea com o nome “Flex” em março de 2007. Porém em pouco tempo a empresa encerrou atividades novamente. No dia 20 de agosto de 2010 foi decretada a falência Varig. Até hoje, alguns funcionários tentam receber da massa falida da empresa, que também tem processos na União cobrando indenizações bilionárias pelo período em que o preço das passagens foi tabelado.
Transbrasil
A Transbrasil foi criada em 1955 por Omar Fontana, filho de Attilio Fontana, fundador da Sadia, empresa do ramo alimentício, inicialmente para transportar carne fresca de Santa Catarina para São Paulo. Já no ano seguinte, passou a combinar o transporte de carga com o de passageiros. Pouco depois, comprou a Transportes Aéreos Salvador e passou a se consolidar como uma companhia aérea comercial.
Em 1973, Omar abriu o capital aos seus funcionários e mudou a razão social da empresa para Transbrasil. Nos anos 1980 ocorreram ampliações e consolidação do mercado. Em junho de 1983 chegaram três Boeing 767-200, com os quais iniciou voos internacionais para Orlando, nos Estados Unidos.
Os sucessivos planos econômicos dos anos 1980, com o congelamento de preços das passagens, mas não dos custos, causaram prejuízos fortes para a Transbrasil. Nos anos 1990, voltaram a investir em voos internacionais, mas os custos e a concorrência estrangularam a operação. No início dos anos 2001, a empresa chegou a ficar sem crédito para a compra de combustível para suas aeronaves, e todos os seus voos foram cancelados.
Durante esse período, houve pedido de recuperação judicial da companhia. A falência da Transbrasil foi oficialmente decretada em 2002. Em 2005, houve especulações de que a colombiana Avianca e a brasileira Oceanair tentariam adquirir a marca, mas a história não avançou.
Webjet
A Webjet foi criada por executivos do mercado financeiro em 2004 para funcionar como uma low cost, e teve seu primeiro voo em 2005. Mas a concorrência logo encurtou a rota da companhia. Gol, Tam e Varing abaixaram os preços das passagens nos mesmos horários que a Webjet, o que fez a empresa quebrar poucos meses depois de começar a operar. Em 2006, ela foi vendida a primeira vez. No ano seguinte, uma nova venda, desta vez para a CVC, que passou a fretar as aeronaves da Webjet. Por ali, operou por cerca de cinco anos.
Em 2011, a Gol compra a Webjet por 310 milhões de reais. No ano seguinte, as operações foram encerradas. Segundo reportagem da EXAME da época, a decisão fez parte da estratégia de concentrar os esforços de racionalização dos voos da GOL com foco na redução de custos e consequente melhora nos resultados. A justificativa da empresa era que os aviões da Webjet geravam cerca de 30% de custos a mais que os operados da Gol, além da frota exigir mais manutenção por ser mais antiga. Cerca de 850 funcionários foram demitidos.
Tam
A Tam surgiu em 1961. Se chamava Táxi Aéreo Marília, uma empresa de 10 pilotos de aviões monomotores que faziam transporte de cargas e passageiros no Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Seis anos depois, o grupo foi comprado pelo empresário Orlando Ometto, um dos maiores produtores de açúcar do mundo. Depois, entra na sociedade também o comandante Rolim Amaro. Os anos seguintes foram de consolidação da marca. Em 1996, passou a operar em todo território nacional. Dois anos depois, também entrou no mercado internacional, com uma rota entre São Paulo e Miami.
No início dos anos 2000, a Tam fez parcerias com outras companhias aéreas e passou a integrar também uma parceria internacional, com a Star Alliance. Já no início dos anos 2010, acontece uma fusão entre a Tam e a chilena Lan. Com isso, surge uma nova holding, denominada Latam Airlines Group. Em 2016, tanto a Lan como a Tam trocam de marca e passam a se chamar, também, Latam. No mesmo ano, é concluído o processo de fusão. (Foto: Reprodução)