Em decisão histórica, papa Francisco libera bênção para casais homossexuais

A benção, no entanto, é não litúrgica. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (18) por meio de um documento assinado pelo Papa Francisco

 

Em uma decisão histórica aprovada pelo papa Francisco, o Vaticano disse que os padres católicos romanos podem administrar bênçãos não litúrgicas para casais do mesmo sexo. A novidade foi anunciada por meio de um documento oficial, divulgado nesta segunda-feira (18). Agora, padres e bispos podem abençoar casais homossexuais e em “situação irregular” para a igreja Católica. O documento, no entanto, enfatiza que a benção não poderá ter semelhança a uma cerimônia de casamento.

“Esta benção nunca acontecerá ao mesmo tempo que os ritos civis de união, nem mesmo em conexão com eles. Nem sequer com as vestimentas, gestos ou as palavras próprias de um casamento”, explica o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé.

Além disso, os padres católicos podem, a partir de agora, fazer a cerimônia se quiserem, mas estão proibidos de impedir “a entrada (em igrejas) de pessoas em qualquer situação em que possam procurar ajuda de Deus através de uma simples benção”.

Vale lembrar que, em outubro, durante discurso, o papa Francisco havia indicado que a Igreja poderia passar a permitir a bênção a casais homossexuais em um futuro próximo.

Embora a resposta anterior tenha sido mais sutil, o documento de oito páginas divulgado nesta segunda-feira, cujo título é “Sobre o significado pastoral das bênçãos”, explicitou situações específicas. Uma seção de 11 páginas foi intitulada como “Bênçãos de casais em situações irregulares e de casais do mesmo sexo”.

A Igreja ensina que a atração pelo mesmo sexo não é pecaminosa, mas os atos homossexuais são. Desde sua eleição, em 2013, Francisco tentou tornar a Igreja mais acolhedora às pessoas LGBTQIA+, sem mudar a doutrina moral da instituição. O Padre James Martin, um proeminente padre jesuíta americano que ministra à comunidade LGBT, chamou o documento de “um grande passo em frente no ministério da Igreja” para eles.

Em publicação no X Martin disse que o documento “reconhece o desejo profundo de muitos casais católicos do mesmo sexo pela presença de Deus nas suas relações amorosas”, acrescentando que “juntamente com muitos padres, terei agora o prazer de abençoe meus amigos em uniões do mesmo sexo”.

Oposição

A decisão desta segunda-feira certamente encontrará oposição dos conservadores, que já criticaram o papa quando ele fez os primeiros comentários sobre o assunto em outubro. Ulrich L. Lehner, professor de teologia da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, afirmou que a nova orientação do escritório doutrinário “convida a mal-entendidos e semeará confusão”.

Expressando preocupação de que alguns bispos usariam isso como pretexto para fazer o que é explicitamente proibido, o professor acrescentou: “é, e odeio dizê-lo, um convite ao cisma”. O documento, cujo título latino é Fiducia Supplicans (Suplicante de Confiança), destaca que a forma da bênção “não deve ser fixada ritualmente pelas autoridades eclesiais para evitar confusão com a bênção própria do Sacramento do Matrimônio”.

Complementa ainda que pode ser aplicada àqueles que “não reivindicam uma legitimação do seu próprio estatuto, mas que imploram que tudo o que é verdadeiro, bom e humanamente válido nas suas vidas e nas suas relações seja enriquecido, curado e elevado pela presença do Espírito Santo”. “Em última análise, uma bênção oferece às pessoas um meio de aumentar a sua confiança em Deus”, explicou, adicionando que “deve ser nutrida, não impedida.”

O documento diz que a bênção não deve estar vinculada ou cronometrada com uma cerimônia de casamento civil e ser realizada sem nenhuma das “roupas, gestos ou palavras próprias de um casamento”. Os locais para tais bênçãos, disse, podem ser “em outros contextos, como uma visita a um santuário, um encontro com um sacerdote, uma oração recitada em grupo ou durante uma peregrinação”.

A decisão foi assinada pelo cardeal Victor Manuel Fernandez, chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé do Vaticano, e aprovada pelo papa em uma audiência privada com Fernandez e outro funcionário do escritório doutrinário nesta segunda-feira.

(Foto: Reuters)

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