Por que Brasil deixou de recomendar vacinas AstraZeneca e Janssen contra covid-19

O Ministério da Saúde não recomenda mais o uso de vacinas de vetor viral (AstraZeneca e Janssen) como reforço contra a covid-19.

As vacinas de vetor viral são criadas a partir de um tipo de adenovírus que não prejudica a saúde humana.

No interior dele, os cientistas inserem alguns genes do Sars-CoV-2, fazendo com que a imunidade de quem recebeu a dose seja treinada contra o causador da covid-19 sem receber os danos da infecção.

Quem tomou qualquer uma das vacinas, no entanto – seja como primeira dose ou reforço – não deve se preocupar.

A interrupção do uso e produção do imunizante pelo Ministério da Saúde nada tem a ver com a eficácia, mas sim com um possível risco aumentado de trombose dias após a vacinação, segundo documento publicado pelo Ministério da Saúde.

O Ministério da Saúde informa que, até o dia 17 de setembro de 2022, foram notificados no e-SUS – excluindo dados de São Paulo, que não foram divulgados no documento – 98 casos (0,02 casos por 100 mil doses aplicadas) com suspeita de Síndrome de Trombose com Trombocitopenia (queda de plaquetas) com relação temporal com as vacinas.

De acordo com o documento do Ministério da Saúde, “devido à raridade das ocorrências, ainda não foi possível identificar fatores de risco associados à síndrome, a exceção de um aparente aumento do risco em indivíduos com idade abaixo de 40 anos de idade”.

Na avaliação do imunologista Gustavo Cabral, não é possível afirmar com confiança, justamente pela falta de clareza na associação, de que as vacinas são responsáveis pelos casos de trombose.

“Os estudos científicos que tenho lido são muito bons, mas falta muita explicação para como a vacina vai ser o gatilho”, aponta ele, que é pesquisador da Universidade de São Paulo e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Apesar da falta de explicação detalhada, Cabral entende que a decisão do Ministério da Saúde é razoável no momento epidemiológico atual, no qual as vacinas de vetor viral não são indispensáveis como eram no ápice da pandemia.

Vacina de vetor viral cumpriu seu papel em momento crítico

Entre as possíveis consequências de uma infecção de covid-19 está justamente a criação de trombos — com uma incidência, inclusive, muito maior, do que a correlação feita com as vacinas de vetores virais.

Um estudo publicado na revista científica Radiology mostra que, entre 3.342 infectados com covid-19 que precisaram de hospitalização a taxa de trombose foi de 16,5%.

“Em 2021, quando a possibilidade dessas vacinas causarem quadros trombóticos surgiu, estávamos em um momento de pouca oferta de imunizantes e diante de uma doença que tem como característica causar trombose. Deixar de vacinar por uma vacina que hipoteticamente causaria o quadro não seria correto na época”, avalia o infectologista.

“Esse raciocínio, em 2023, já não vale mais. O benefício da vacina hoje é inferior e é inaceitável oferecer risco trombótico. Grande parte da população está vacinada com múltiplas doses, ou seja, temos uma população protegida e uma oferta maior de vacinas. Não é razoável fazer a mesma análise.”

 

As recomendações atuais

A produção do soro da vacina da AstraZeneca pela Fiocruz, que tinha um acordo para produzir uma versão nacionalizada do imunizante, foi interrompida.

A maioria dos pacientes tinha menos de 40 anos, e por isso, a recomendação oficial apresentada no documento é que as vacinas de vetor viral

Cabral também chama atenção para o fato de que, após uma dose inicial de vacina de vetor viral, o melhor é usar, para reforço, outro tipo de tecnologia.

“Essas vacinas de vetor viral carregam informações do vírus até as nossas células. Nas doses seguintes essa informação já chega de forma menos efetiva.”  (Foto: Defodis Images/ Getty)

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