Paris em chamas: Franceses seguem nas ruas contra aumento da idade para a aposentadoria

Por Henrique Acker (Correspondente Internacional)  –   “Você acha que eu gosto de fazer essa reforma (previdenciária)? Não”, disse Emannuel Macron, em entrevista à TF1 e à France 2 TV, em 22 de março. “Mas não há cem maneiras de equilibrar as contas… essa reforma é necessária.”

Foi assim que o Presidente francês definiu sua posição diante da crise política e a onda de protestos que sacode o país, em função da reforma que impõe mais tempo de trabalho (de 62 para 64 anos) para que os franceses tenham direito à aposentadoria.

Depois de recorrer a um decreto presidencial, para fugir do risco de ver o projeto derrotado no Parlamento, Macron defendeu sua decisão, mesmo com a proximidade das eleições parlamentares, previstas para o final deste ano. “Entre as eleições de curto prazo e o interesse geral do país, eu escolho o interesse geral… não vamos tolerar nenhuma desobediência”.

Berço da democracia ocidental, a França foi surpreendida pela adoção de um decreto presidencial para impor a reforma previdenciária. Para muitos franceses, a decisão de Macron escancara a necessidade de apelar às ruas como único meio de luta política, o que também faz parte da tradição republicana francesa.

Por apenas nove votos uma das duas moções de censura ao governo apresentadas ao Parlamento foi derrotada, o que prova a impopularidade da medida. O Governo chegou a proibir manifestações de rua, o que foi ignorado por trabalhadores, a população em geral e a juventude, em especial. Já foram efetuadas centenas de prisões em todo o país.

Ao contrário de reduzir os protestos, todos os dias após a decretação da reforma são registradas manifestações e enfrentamentos com a polícia nas ruas de Paris e outras cidades do país, como Nantes, Estrasburgo e Lille. Os bloqueios de refinarias já começam a afetar o abastecimento de combustíveis.

Nova greve geral realizou-se em 23 de março, com bloqueios de avenidas e de estradas de ferro, além de protestos que reuniram centenas de milhares de franceses. Só depois de decretar o aumento da idade necessária para a aposentadoria, Emannuel Macron se disse disposto a receber os sindicatos. No entanto, o Presidente francês já afirmou que não pretende voltar atrás.

A radicalização nas ruas de Paris e de outras grandes cidades faz recuar até mesmo os setores mais moderados do sindicalismo, historicamente dispostos a negociar com os governos. Por enquanto, não há sinais de que um dos lados vá ceder, depois de dois meses de mobilizações populares. (Foto: Prensa Latina)

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