Por Henrique Acker – Venâncio Mondlane, candidato do Podemos na eleição presidencial em Moçambique, convocou a quarta rodada de manifestações populares no país, a partir desta quarta até sexta-feira (13 a 15 de novembro). Os protestos contestam a vitória de Daniel Chapo, candidato pela Frente de Libertação de Moçambique – Frelimo, que foi declarado vencedor com 70% dos votos contra 20% do Podemos, no processo eleitoral de 9 de outubro.
Mondlane tentou registrar sua candidatura pela Coligação Aliança Democrática (CAD), mas foi impedido pelo órgão que coordena o processo eleitoral no país. Acabou sendo inscrito como candidato à Presidência pelo partido Podemos.
Inicialmente, Mondlane tinha condicionado o diálogo com a Frelimo à apresentação dos editais originais das eleições, afirmando que “os votos não se negociam, se contam”. Agora, acrescentou outras seis exigências e não descartou a possibilidade de um governo de união com outras forças políticas.
Pastor evangélico
Segundo fontes não oficiais, Mondlane estaria exilado na Suécia, de onde coordena o movimento de protesto pela anulação da eleição em Moçambique. Sua presença na Suécia não se dá por acaso. Ele é pastor da Igreja Evangélica Ministério da Divina Esperança e, em julho deste ano, esteve em Upssala, na Conferência Europeia das Igrejas Evangélicas.
Em Estocolmo, reuniu-se com líderes da maior igreja evangélica da Suécia, a Filadélfia Church. De acordo com o jornal moçambicano Dossiers & Factos, neste encontro, Mondlane “apresentou seu manifesto com os valores que sustentam o plano de governo e o sonho de uma sociedade próspera para Moçambique”.
No giro pela Europa, Mondlane encontrou-se com dirigentes do Chega, partido de extrema-direita de Portugal. Em entrevista à DW África, o professor universitário de ciência política e direito, Régio Conrado, membro do CAD, reconheceu que “o Chega é um partido xenófobo, é um partido racista, é um partido negacionista, que entra em contramão com a história política, social e cultural de Moçambique.”
O atual presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, reuniu-se em 8 de novembro com o líder da Igreja Ministério Divina Esperança, Luis Fole. Os analistas acreditam que o encontro serviu para Nyusi enviar alguma mensagem a Venâncio Mondlane.
Guerras e pobreza
O país sofreu dificuldades imensas impostas por mais de 15 anos de guerra interna contra a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que mais tarde tornou-se um partido do qual Mondlane foi um dos dirigentes.
Apesar do crescimento de 3,2% do PIB no primeiro trimestre deste ano e da previsão anual de crescimento econômico em torno de 5,5% em 2024, a pobreza multidimensional continua elevada no país, passando de 55% em 2014/15 para 53,1% em 2022.
De acordo com o Conselho de Ministros, os efeitos principais dos problemas do país estão “conjugados com o aumento dos preços dos alimentos, choques climáticos que afetam a produção agrícola das famílias e o setor de transportes, e a situação de terrorismo no norte”.
De sete anos para cá, o governo da Frelimo enfrenta a guerrilha jihadista do grupo “Ahl al-Sunnah wa al-Jamma’ah”, ligado ao Estado Islâmico, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Nesses sete anos, cerca de um milhão de moçambicanos fugiu ou foram expulsos da região e cerca de quatro mil pessoas foram mortas.
Exigências para um acordo
Venâncio Mondlane apresentou seis exigências para um acordo com a Frelimo. A primeira é que o governo deve apresentar os documentos eleitorais originais, garantindo a transparência do processo. A segunda exigência é que o Estado se mantenha neutro e independente de influências partidárias, removendo o que ele chama de “ditadura partidária”.
Em terceiro lugar, Mondlane quer que os benefícios fiscais sejam canalizados para o desenvolvimento local dos distritos e províncias, promovendo a autonomia regional. A quarta demanda é a construção de três milhões de casas para jovens, com o objetivo de enfrentar o déficit habitacional.
Mondlane pede também a criação de um fundo entre 500 e 600 milhões de dólares para incentivar o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico voltado para a juventude. Ele exige ainda a libertação imediata dos manifestantes detidos e a indenização pelo Estado das famílias das vítimas mortais das manifestações. (Fotos: Internet / Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
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