População brasileira quer penas severas contra crimes ambientais

Levantamento com 18 países do G20 constata que, 72% dos entrevistados concordam em punir legalmente os responsáveis por danos ao meio ambiente

 

A maioria dos cidadãos dos países que compõem o G20 defende a responsabilização criminal de governos e líderes empresariais por práticas que causam danos graves ao meio ambiente e ao clima. Uma pesquisa realizada pela Earth4All e pela Global Commons Alliance (GCA), que entrevistou mil pessoas em cada uma das 18 nações participantes, incluindo o Brasil, revela que quase três em cada quatro entrevistados apoiam a ideia de punições mais severas para tais ações.

No total, 72% apoiam criminalizar os responsáveis por danos ao meio ambiente — no Brasil, o percentual foi maior, de 83%. Conduzida pela Ipsos UK, a pesquisa segue mudanças legislativas históricas recentes, incluindo o reconhecimento do ecocídio como crime federal na Bélgica, no início do ano. Projetos semelhantes foram propostos ao Congresso Nacional brasileiro e em países como Itália, México, Holanda, Peru e Escócia.

Os resultados revelam uma ansiedade profunda entre os cidadãos das maiores economias do mundo sobre o presente e o futuro do planeta. Entre os entrevistados, 59% estão muito ou extremamente preocupados com o estado da natureza hoje, um ligeiro aumento em relação à Pesquisa Global Commons de 2021. Além disso, 69% concordam que a Terra está se aproximando de pontos de inflexão relacionados ao clima e à natureza devido às atividades humanas.

Os países do G20 representam cerca de 85% do produto interno bruto (PIB) global, 78% das emissões de gases de efeito estufa, mais de 75% do comércio mundial e cerca de dois terços da população do planeta. “A maioria das pessoas quer proteger os bens comuns globais; 71% acreditam que o mundo precisa agir imediatamente. Nossa pesquisa demonstra que as pessoas nas maiores economias do mundo estão profundamente cientes da necessidade urgente de proteger nosso planeta para as gerações futuras”, comentou Owen Gaffney, colíder da iniciativa Earth4All.

 

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A pesquisa categoriza os entrevistados em cinco “segmentos de administração planetária”. A maioria (61%) foi identificada como “progressistas estáveis”, “otimistas preocupados” e “administradores planetários” — grupos que defendem ações fortes para proteger o meio ambiente. Segundo os analistas do levantamento, isso marca um ponto de inflexão social, com mais gente, agora, exigindo ações para proteger o planeta do que aquelas que não o fazem.

Além do Brasil, foram ouvidas pessoas de Argentina, Austrália, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. A pesquisa também incluiu quatro países fora do G20: Áustria, Dinamarca, Quênia e Suécia.

“As pessoas em todos os lugares estão muito preocupadas com o estado do nosso planeta”, observa Jane Madgwick, diretora executiva da GCA. “Isso exigirá uma liderança ousada e um esforço verdadeiramente global, conectando ações entre nações e de baixo para cima.” Jojo Mehta, cofundador e CEO da Stop Ecocide International, nota que há mudanças políticas significativas em favor da legislação sobre ecocídio. “Mais notavelmente, no início desse ano, a União Europeia incluiu infrações qualificadas em sua recém-revisada Diretiva sobre Crimes Ambientais que pode abranger conduta comparável ao ecocídio.” Isso significa que os estados-membros da UE agora têm dois anos para transformar essas regras em leis nacionais.

A pesquisa também revelou diferenças de gênero na preocupação ambiental. As mulheres tendem a exibir níveis mais altos de ansiedade com o estado da natureza hoje e para as gerações futuras. Sessenta e dois por cento delas estão extremamente ou muito preocupadas, em comparação com 56% dos homens. Além disso, 74% das entrevistadas acreditam que ações importantes para lidar com questões ambientais devem ser tomadas imediatamente na próxima década, em comparação com 68%.

Apenas 25% das mulheres acreditam que muitas alegações sobre riscos ambientais são exageradas, enquanto 33% dos homens têm essa visão. As entrevistadas também são significativamente menos propensas a acreditar que a tecnologia pode resolver problemas ambientais sem que os indivíduos tenham que fazer grandes mudanças no estilo de vida (35% em comparação com 44%).

Outra revelação da pesquisa foi a de que, em economias emergentes, como Índia (87%), China (79%), Indonésia (79%), Quênia (73%) e Turquia (69%), as pessoas se sentem mais vulneráveis às mudanças climáticas em comparação com habitantes da Europa e dos Estados Unidos. Aqueles que se percebem como altamente expostos a riscos ambientais e climáticos também mostram os maiores níveis de preocupação e urgência em relação à ação climática. Esse grupo tem maior probabilidade de vincular a saúde humana e planetária e a ver benefícios em abordar questões ambientais.

(Foto: Reuters)

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