“Auditoria e fiscalização dos sistemas eleitorais ocorrem antes, durante e após a eleição”, disse o TSE
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rebateu nesta quarta-feira (24) uma declaração do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que no Brasil “não auditam nenhum registro” do sistema eleitoral. A Corte eleitoral afirmou que o boletim emitido pelas urnas eletrônicas brasileiras é um “relatório totalmente auditável”.
O pleito venezuelano ocorre no próximo domingo (28) em meio a um cenário de pressão sobre Maduro. Pesquisas apontam o candidato da oposição, Edmundo González, com até 60% das intenções de voto.
Questionado pela imprensa a respeito da declaração de Maduro, o TSE respondeu: “O Boletim de Urna (BU) é um relatório totalmente auditável”. O tribunal encaminhou ainda três textos para corroborar a afirmação. Em um dos textos, o TSE explica que o Boletim de Urna (BU) é um “relatório detalhado com todos os votos digitados no aparelho”, sendo disponibilizado na porta de cada seção eleitoral.
Assim, é possível comparar os dados de cada seção com as informações divulgadas online. Outro texto destaca que a “auditoria e fiscalização dos sistemas eleitorais ocorrem antes, durante e após a eleição”, através de processos como a análise do código-fonte e a lacração das urnas.
A declaração de Maduro foi feita durante um comício entre a noite de terça-feira (23) e a madrugada de quarta. “São três da manhã, mas antes temos que esclarecer à extrema direita que respeitem o processo eleitoral, que nós vamos ganhar outra vez e que na Venezuela vai haver democracia, liberdade e paz. Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias. Eles fazem uma auditoria, como vocês sabem, em 54% das mesas. Em que outra parte do mundo se faz isso? Nos EUA? É inauditável o sistema eleitoral. No Brasil? Não auditam nenhum registro. Na Colômbia, não auditam nenhuma ata. Na Venezuela, auditamos no momento, na mesa”, disse Maduro na ocasião.
A fala de Maduro ocorreu em meio a uma escalada retórica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é o mais recente desdobramento de uma série de declarações desde que o mandatário venezuelano alertou, também em um comício, que o país enfrentava o risco de um “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso não fosse reeleito.
Inicialmente, o governo brasileiro minimizou a declaração, defendendo o distanciamento do processo eleitoral venezuelano. No entanto, um dia após a fala de Maduro repercutir no Brasil, interlocutores do Itamaraty afirmaram que o Brasil só atuaria na questão se fosse chamado por representantes de Maduro e da oposição, “dentro do espírito de Barbados”, referindo-se a um acordo assinado entre oposição e governo venezuelano em outubro do ano passado no país caribenho.
Em sua primeira menção ao presidente venezuelano após a declaração sobre o “banho de sangue”, Lula foi evasivo e afirmou que os venezuelanos “que elejam os presidentes que quiserem”, destacando que o Brasil não possui contenciosos pelo mundo e que “o Brasil tem que gostar de todo mundo”. Lula retomou o tema nesta semana em uma coletiva de imprensa com agências internacionais.
“Fiquei assustado com as declarações de Maduro de que se perder as eleições haverá um banho de sangue. Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue — disse o presidente brasileiro durante a entrevista coletiva em Brasília. — O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, disse.
A resposta de Maduro veio sem menção direta a Lula. Em uma declaração na terça-feira (23), sem citar Lula diretamente, o presidente venezuelano sugeriu que “quem se assustou” com sua fala tomasse “um chá de camomila”.
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)