O Presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto afirmou em entrevista nesta terça-feira (30) ser contrário a desonerações — como a de combustíveis implementada na gestão de Jair Bolsonaro (PL) ou aquela voltada a folha de salários, que é pivô de divisão entre o governo Lula e o Legislativo.
Na visão de Campos Neto, as desonerações em geral “são ruins” e geram má alocação de recursos. Para o presidente do BC, a “tentação” de abrir mão de recursos para abaixar preços ou levar outro tipo de melhora à economia no curto prazo, sem a recomposição futura, faz com que a política seja como “vender o almoço para comprar metade do jantar”.
“Sou a favor [no caso da desoneração da folha] de pensar em eliminar, mesmo que alguns setores precisem fazê-lo de forma faseada, de pensar em não ter desoneração, mas uma política mais uniforme, que distribua melhor os recursos […] Em geral, sou contra este tipo de política”, disse.
Ainda sobre a desoneração da folha e a tentativa do governo Lula de realizar o ajuste fiscal por meio da elevação de receitas, Campos Neto afirmou que este caminho é menos eficiente e tende a gerar mais inflação do que a arrumação das contas públicas com o corte de gastos.
Por outro lado, mencionando experiências em dois governos de vieses distintos, o presidente do BC admitiu as dificuldades para cortar gastos no Brasil — especialmente por conta das indexações e elevado número de despesas obrigatórias no País. Para este aspecto, pediu uma “reforma”.
“É muito difícil imaginar qualquer tipo de corte de gasto que não passe por uma mudança muito grande nessa parte de indexação e obrigação de gasto”, disse Roberto Campos Neto.
Campos Neto ainda observou o aumento de despesas implementado no início do governo Lula e afirmou que a mudança da meta de resultado primário para 2025 parece ter, de fato, ter gerado efeito adverso para a expectativa dos atores do mercado. A meta saiu de superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0%.
“Quando foi mudada a meta, percebemos algum efeito [na curva longa]. O mercado já entendia que o governo não cumpriria a meta fiscal, e a preocupação era de que depois da mudança da meta era a expectativa ficasse pior ainda. Dados já mostram que [a expectativa] começa a piorar”, disse.
Apesar das ponderações, o presidente do BC reconheceu os esforços do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelo ajuste fiscal e pediu que Executivo e Legislativo ajustem sua narrativa de perseguição da meta fiscal para que as expectativas voltem aos eixos. (Foto: Divulgação)