O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, ironizou as projeções subestimadas de economistas sobre a atividade econômica do País. Esse movimento de estimativas abaixo do realizado é possível observar nos últimos três anos, segundo o chefe da autarquia monetária.
Para 2023, por exemplo, a previsão no início de ano era de uma alta perto de 0,8% no Produto Interno Bruno (PIB). O número fechado ainda será divulgado pelo IBGE em março, porém, os prognósticos do governo, BC e consultorias indicam um crescimento próximo de 3%.
“É curioso a gente ver o que os agentes econômicos esperavam de crescimento e o que aconteceu, de fato, nos últimos três anos. Acho que seguir o nosso conselho, o conselho de economistas, em termos de crescimento econômico, tem sido uma péssima pedida”, brincou o presidente da autarquia monetária, em palestra promovida pela Frente da Economia Verde.
Em 2022, houve um movimento parecido. O boletim Focus, que atualmente reúne cálculos de aproximadamente 160 instituições financeiras, mostrava pela mediana uma alta de 0,29% no PIB, mas o dado oficial mostrou um crescimento de 3%.
O presidente do Banco Central observou que essa discrepância pode ser observada a partir de 2020, primeiro ano da pandemia. Historicamente, no caso do boletim Focus, ocorria um fluxo contrário, segundo economistas ouvidos: as estimativas tendiam a ficar acima do efetivamente realizado. Ou seja, superestimado.
Causas imediatas e estruturais
Campos Neto cita como fatores de influência, no curto e médio prazo, os programas de transferência de renda, sendo o principal o Bolsa Família, que ajuda no estímulo ao consumo. Como “efeito estrutural” ele fala de reformas realizadas no passado.
Medidas já aprovadas – como a reforma da Previdência e a reforma trabalhista – foram citadas como exemplos em outras palestras do presidente do BC. Elas estariam contribuindo para fomentar o crescimento potencial da economia brasileira.
O primeiro ano da nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva teve um impulso econômico do setor agropecuário, que cresceu 21,6% só nos três primeiros meses do ano. Até setembro, último balanço do IBGE, a agropecuária cresceu 18,1% na comparação com 2023. Na mesma base, o setor industrial teve elevação de 1,2% e a área de serviços acelerou em 2,6%.
Outros fatores incluem o aumento do rendimento da população, por meio de benefícios sociais e com a política de valorização do salário mínimo, por exemplo. A ampliação do poder de compra das famílias foi canalizada para o setor de serviços, conforme relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
2024
O Ministério da Fazenda tem uma projeção de crescimento de 2,2% no PIB em 2024, mais otimista em relação a mediana do mercado, em 1,6%.
O setor agropecuário deve apresentar desaceleração no segundo ano do governo Lula, segundo o último Boletim Macrofiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE), comandada por Guilherme Mello. Por outro lado, a equipe econômica aposta na expansão da oferta de crédito para as pessoas físicas, por exemplo. Isso porque há perspectiva de redução de juros e diminuição da inadimplência.
No fim de janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou a previsão de crescimento do Brasil em 2024. A entidade projetou um avanço de 1,7% para o PIB neste ano. O novo número ficou 0,2 ponto porcentual acima da estimativa anterior, divulgada em outubro de 2023.
Em 2025, o País deve crescer 1,9%, segundo o relatório. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)