Segundo investigação da Polícia Federal, o objetivo do ex-presidente era ficar em território americano durante a tentativa de golpe de Estado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) transferiu R$ 800 mil para um banco dos Estados Unidos antes de viajar ao país pouco antes de terminar o mandato, em 28 de dezembro de 2022, aponta um relatório da Polícia Federal (PF). A transferência foi feita para que Bolsonaro ficasse nos EUA enquanto seus apoiadores tentariam um golpe de Estado no Brasil para tentar anular o resultado das eleições e mantê-lo no cargo. O então presidente aguardaria os desdobramentos e o desfecho em solo norte-americano, apontam as investigações.
O dinheiro teria sido transferido no fim de dezembro de 2022, poucos dias antes de ele deixar o governo. A PF afirma que entre os recursos podem estar valores que tiveram origem no desvio de bens públicos, como jóias recebidas pela presidência durante a gestão Bolsonaro, mas que faziam parte do patrimônio da União.
“Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de golpe de Estado que estava em andamento”, afirma a PF. A informação foi publicada pela jornalista Andréia Sadi, no portal G1. A reportagem do Correio confirmou com fontes na PF que o envio de dinheiro e a ida aos Estados Unidos estão interligados com a tentativa antidemocrática.
A corporação afirma que Bolsonaro e seu entorno “tinham a expectativa de que ainda havia possibilidade de consumação do golpe de Estado”. “Alguns investigados se evadiram do país, retirando praticamente todos os seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os EUA, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”, aponta a investigação, em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde corre o inquérito sobre o caso.
Ainda de acordo com as apurações, em janeiro de 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, os investigados perceberam que o golpe não tinha sido consumado. “O que se concluiu é que, diante da não consumação do golpe, diversos investigados passaram a sair do país sob as mais variadas justificativas (férias ou descanso), como no caso do ex-presidente Bolsonaro e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres”, destaca outro trecho do documento. Atualmente, o ex-presidente está impedido de deixar o país, após ter o passaporte apreendido pela PF no âmbito da Operação Tempus Veritatis.
Cautelares
Outros investigados, como o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), estão impedidos de saírem do país e têm de cumprir mais medidas cautelares. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, eles não podem manter conversas entre si, nem mesmo por meio de seus advogados.
As diligências estão em andamento desde o ano passado. No entanto, somente após a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a participação do ex-chefe do Executivo no esquema ganhou forma e foi vinculada a provas colhidas no curso das apurações. Cid deu informações sobre o papel dele próprio e de outros investigados na articulação que começou em julho de 2022 e se intensificou após as eleições.
(Foto: Adriano Machado)