Governo brasileiro não sabe explicar por que o Brasil tem sido excluído das permissões para atravessar a fronteira com o Egito; especulações apontam posições do Brasil na ONU e declarações de Lula sobre Israel. Segundo a embaixada do Brasil na Palestina, 571 pessoas receberam liberação, dentre as quais 367 são norte-americanos e 127 britânicos
A terceira lista de estrangeiros autorizados a sair da Faixa de Gaza foi divulgada nesta sexta-feira (3) pela embaixada do Brasil na Palestina. Pelo terceiro dia consecutivo, o grupo de 34 brasileiros, palestinos com residência no Brasil e parentes próximos que estão aguardando para sair da Faixa de Gaza pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, não entrou na lista de pessoas autorizadas pelas autoridades egípcias a entrarem no país. A situação causa profunda angústia no grupo e obriga o governo brasileiro a intensificar negociações para tentar obter o esperado sinal verde, que, até agora, favoreceu amplamente países aliados do governo de Benjamin Netanyahu, sobretudo Estados Unidos e Reino Unido.
A abertura da fronteira nestes três primeiros dias para a retirada de palestinos com dupla cidadania e estrangeiros, privilegiou cidadãos de 25 países. Ao todo, as duas listas somam permissões para Austrália, Áustria, Bulgária, Finlândia, Indonésia, Jordânia, Japão, República Tcheca, membros da Cruz Vermelha e de ONGs, Azerbaijão, Barhein, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Macedônia, México, Suíça, Sri Lanka e Chade.
Em sua grande maioria, americanos. Somente nesta sexta, dos 571 autorizados, 367 são cidadãos americanos e 127 britânicos. Estados Unidos — que não entraram na lista no primeiro dia de abertura da fronteira — e Reino Unido, ambos membros permanentes e com direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, são importantes aliados de Israel na guerra contra o Hamas.
Na quinta-feira, de um total de 576 estrangeiros autorizados pelo Egito — num processo pouco transparente e no qual, segundo fontes, Israel participa—, 400 eram americanos. A preferência escancarada a cidadãos americanos, em momentos em que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, faz sua segunda visita a Israel desde o início do conflito, em 7 de outubro, deixa pouco espaço para outros países. E o Brasil, que tem um grupo pequeno esperando nas cidades de Rafah e Khan Younes, vive momentos de frustração.
O embaixador do Brasil no Egito, Paulino de Carvalho Neto, disse nesta semana não haver previsão no “curtíssimo prazo” de saída dos 34 brasileiros da Faixa de Gaza. “Não dá para prever quando será. Não há previsão de que isso ocorra tão cedo. Não há prazo estipulado para eles saírem. Não há previsão no curtíssimo prazo de que eles sejam retirados de lá. Hoje não há a menor condição para retirá-los”, afirmou.
Diplomaticamente, não há explicação para essa exceção do grupo brasileiro nestas listas. Mas algumas especulações têm crescido no âmbito político, diplomático e acadêmico, entre elas a de uma retaliação ao governo brasileiro por suas posições em votações no Conselho de Segurança da ONU, que foi presidido pelo Brasil no mês de outubro. Na votação de um projeto de resolução apresentado pelos EUA no conselho, o Brasil, diferentemente da Suíça, Japão e Reino Unido — os dois primeiros membros rotativos, e o terceiro membro permanente, que votaram a favor — se absteve.
No entanto, algumas fontes do governo descartam que esse posicionamento explique a exclusão do Brasil utilizando um argumento recorrente: a autorização a cidadãos da Indonésia, país que não reconhece o Estado de Israel, e que votou a favor de uma resolução sobre ajuda humanitária no conflito na Assembleia Geral da ONU rechaçada pelo governo de Netanyahu. A explicação, apontam outras fontes, poderia ser o bom relacionamento entre a Indonésia e o Egito. Já o presidente brasileiro adotou um tom mais duro com o governo de Netanyahu, que, segundo algumas fontes diplomáticas, teriam mais peso na atitude de Israel em relação aos brasileiros do que os posicionamentos do Brasil na ONU.
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