Stédile confronta deputados de extrema direita na CPI do MST

O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, admitiu nesta terça-feira, 15, que invadir a fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Petrolina (PE) “foi um erro”.

Em depoimento à CPI do MST, ele negou ligação do movimento com o PT, em resposta a insistentes perguntas dos deputados de oposição sobre o assunto, mas disse que o agronegócio que não está com Lula “é burro”.

No começo deste ano, como parte de ações do chamado “abril vermelho”, o MST invadiu uma área de preservação ambiental e de pesquisas genéticas da Embrapa em Pernambuco. Após a ocupação, a empresa pública divulgou um comunicado dizendo que a ação era “inaceitável”. Stédile foi questionado na CPI e acabou reconhecendo que o ato foi um equívoco, mas ainda assim tentou justificar a invasão.

“Cada acampamento tem autonomia do que faz. Concordo, às vezes eles exageram e erram, mas eles têm o direito de decidir”, afirmou Stédile. Ele alegou que a invasão à Embrapa aconteceu porque era “a área pública mais próxima” e que conseguiram chamar a atenção da opinião pública, sem “destruir nada”.

Naquela data, cerca de 1.500 integrantes de diferentes movimentos invadiram o centro de pesquisas da empresa, ligada ao Ministério da Agricultura porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cumpriu a promessa de destinar áreas para assentar as família acampadas na região.

No longo depoimento à CPI do MST, Stédile disse que estava mais preocupado em “discutir o Brasil” do que tratar de pequenas questões e fugiu de responder perguntas do relator, deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro da Agricultura do governo Jair Bolsonaro.

A sessão foi marcada por um duelo entre os dois.

Stédile foi questionado sobre a existência de uma associação que detém o controle sobre o site do MST, assina convênios e recebe recursos públicos em nome do movimento. Segundo Salles, a Associação Brasil Popular (Abrapo) recebeu R$ 2 milhões de recursos da União, incluindo repasses da Petrobras e do BNDES. Stédile disse que não sabia dos repasses financeiros a essa associação.

Stédile fez uma exposição sobre ações do MST e criticou setores do agronegócio que segundo ele ainda não se deram conta dos prejuízos que causam.

A Aprosoja foi o principal alvo dos ataques.

“O agronegócio está dividido. Há a metade que estuda e apoiou Lula. A outra parcela só pensa em ganhar dinheiro. É o agronegócio burro, financiou o 8 de janeiro”, disse. “Aquele agronegócio burro, que só pensa em lucro fácil, está com os dias contados.”

O líder do MST afirmou que políticos ligados a partidos de esquerda como PT e PSOL fazem parte do movimento, mas “não têm ingerência” sobre ele.

 

Líder do MST  aplaudido e abraçado

Houve uma recepção incomum para receber Stédile na Câmara dos Deputados. Aplaudido e abraçado por parlamentares do PT e do PSOL e integrantes do grupo, Stédile seguiu o caminho ao plenário da CPI do MST para dar o seu depoimento de braços dados com baianas. O acompanharam militantes, lideranças religiosas, congressistas e três advogados.

Um deles, Roberto Podval, teve a entrada barrada, gerando uma confusão generalizada ainda na porta de entrada, antes de a sessão iniciar. A razão do tumulto: a audiência desta terça-feira, 15, era, até o momento, o dia mais importante do trabalho da CPI. Assessores, integrantes do movimento e militantes fizeram fila para tentar entrar. A presidência optou a limitar a quantidade de assessores presentes e restringiu o acesso apenas para funcionários parlamentares que usassem pulseira.

De um lado, a oposição — derrotada após uma articulação do governo com o Centrão que retirou a maioria do grupo — tinha a melhor oportunidade para fazer denúncias sobre o MST na comissão. Cabia então à base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara fazer a defesa.

Em reunião com Stédile na segunda-feira, parlamentares do PT e PSOL previram a prisão do líder do MST, já que ele optou por não pedir habeas corpus. Nas redes, o movimento organizou um “tuitaço” com a #TôComMST para mobilizar militantes que começou às 11h. Até às 14h37, foram 5.896 mensagens produzidas.

O dia já foi cercado de acontecimentos simbólicos no Congresso. Pela manhã, o Senado realizava uma sessão solene em homenagem à Marcha das Margaridas, um movimento de trabalhadoras rurais em busca de direitos; na mesma Casa, o relator da CPI do MST, Ricardo Salles (PL-SP), denunciava o trabalho de ONGs ambientais na Amazônia na CPI das ONGs.

A esquerda fez volume na comissão. Os deputados acompanharam a sessão ou vestindo bonés do MST ou os posicionando em suas mesas. A reportagem identificou pelo menos 11 dentro da sala. “Temos orgulho de estar com um movimento como esse”, disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR).

Os principais nomes do partido marcaram presença: entre eles, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), Maria do Rosário (RS) e até o governador do Ceará, Elmano de Freitas, que abraçaram Stédile enquanto Salles o fazia questões.

Os parlamentares mais radicais da oposição falaram e não pouparam os ataques. Delegado Éder Mauro (PL-PA) o chamou de “delinquente que invade terras dos outros”, “vagabundo” e bandido”; Evair Vieira de Melo (PP-ES) associou o MST ao narcotráfico. Ambos foram repreendidos por Podval, advogado de Stédile. “Eu não vou aceitar”, disse. Stédile apenas ouviu os ataques enquanto comia uma maçã. (Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO)

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