Pesquisa avalia o impacto na saúde mental de quem tem contas em atraso

9 em cada 10 inadimplentes sofreram impacto emocional negativo por conta das dívidas em atraso. Ansiedade foi o sentimento negativo mais citado no levantamento, atingindo 78% dos entrevistados; 72% apresentaram alterações no sono e 53% afirmam ter ficado mais irritados e intolerantes com as pessoas próximas

 

Estar com as contas em atraso é um problema que afeta não apenas a vida financeira, mas também a saúde física e mental dos endividados. É recorrente nestes casos o aumento da ansiedade e a incidência do vício em comida, álcool ou cigarro. É o que mostra pesquisa encaminhada ao Opinião em Pauta pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), realizada com brasileiros com contas em atraso há pelo menos três meses. Nove em cada dez inadimplentes (97%) afirmaram ter sofrido com algum tipo de sentimento negativo ao descobrir que estavam endividados.

O mais citado foi a ansiedade, que atingiu sete em cada dez entrevistados (78%). Não muito longe em termos de proporção, também estiveram presentes na vida daqueles que se viram inadimplentes: angústia (75%), stress ou irritação (71%), vergonha (71%) e tristeza e desânimo (69%). “As frustrações e incertezas provocadas pela inadimplência não se restringem ao campo financeiro, tendo impacto significativo também na saúde física e emocional dos endividados. Por isso, é importante que o consumidor que estiver enfrentando esse tipo de situação busque ajuda de amigos e parentes ou de especialistas para encontrar uma solução para as dívidas. Negociar requer racionalidade e equilíbrio”, destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.

A pesquisa aponta ainda que 90% dos inadimplentes relataram terem sofrido o impacto das dívidas no padrão de vida – sendo que 44% dizem que a vida foi totalmente afetada. Apenas 7% afirmam que o padrão de vida não foi impactado. Por causa das dívidas atrasadas, 20% evitam fazer compras a prazo, 17% começaram a fazer um controle rígido dos ganhos e gastos, 16% têm evitado comprar itens de vestuário e 14% evitam sair com pessoas que gostam de gastar e possam incentivá-los a fazer compras.

A maioria dos consumidores endividados (73%) afirmaram que tentaram tomar algum tipo de crédito no último ano, sendo que 58% queriam pagar dívidas e 24% comprar alguma coisa. Entre os que tentaram tomar crédito no último ano, 74% conseguiram, sendo que as modalidades mais utilizadas foram o empréstimo (36%), cartão de crédito que já possuíam anteriormente (23%), a emissão de um novo cartão de crédito (15%) e o uso do limite do cheque especial (13%). 24% não tiveram êxito na liberação de crédito.

A situação de inadimplência é capaz até de tirar o sono dos endividados, literalmente: 72% relataram terem tido alteração no sono e 63% menos vontade de sair e socializar. Além disso, cinco em cada dez endividados (56%) têm procurado fazer atividades que os ajudem a não pensar nos problemas das dívidas. Mais da metade dos entrevistados (55%) têm tido alterações no apetite; 48% afirmam que têm ficado mais desatentos ou improdutivos no trabalho e 42% descontam a ansiedade no vício, como cigarro, comida e álcool. Já 24% compram mais que o habitual ou perderam o controle das compras.

“Nem todos os consumidores conseguem lidar com a inadimplência de forma racional. Muitas vezes, a pessoa fica tão frustrada ao descobrir que está endividada que evita lidar com a situação alimentando comportamentos negativos, como descontar em vícios ou até em compras excessivas. Esse tipo de atitude pode aumentar ainda mais as dívidas, gerando uma espécie de círculo vicioso e deixando o inadimplente em uma situação pior do que estava antes”, explica a especialista em finanças da CNDL, Merula Borges.

Além de afetar a saúde física e mental, as dívidas em atraso também podem ter impacto na dimensão profissional e social dos inadimplentes. Quatro em cada dez entrevistados (43%) têm produzido menos e 37% têm sido menos pacientes com os colegas. Já no ambiente familiar, 53% afirmam ter ficado mais irritados e intolerantes com as pessoas próximas e 44% têm sido mais descuidados com o bem-estar da família.

Questionados sobre os maiores temores com relação às dívidas pendentes, 35% temem não conseguir pagá-las e 18% serem considerados desonestos pelas pessoas. 73% dizem ter um nível de preocupação alto ou muito alto frente a essas dívidas.

 

Especialista em finanças – Investimento e Risco, Merula Borges (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

 

Confira a entrevista com a economista Merula Borges sobre a pesquisa. Com mais de 12 anos de experiência na área financeira, a bacharel em Administração de Empresas e especialista em investimentos e risco pela Fundação Getúlio Vargas, e em Gestão de Negócios pelo IBMEC, é a atual coordenadora financeira e administrativa na Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas:

 

De acordo com a pesquisa, qual é o maior temor dos consumidores endividados em relação às dívidas em atraso?

O maior temor de quem está com contas em atraso é ficar com as dívidas, não conseguir pagar essas dívidas e ser considerado como desonesto pelas pessoas que conhecem. E ainda tem o temor de ter que vender algum bem, se desfazer de algum bem, para conseguir pagar as dívidas que estão em atraso.

 

Quais são os principais impactos de inadimplência nas emoções?

A pesquisa contou que tem sim um impacto direto nas emoções daquelas pessoas que deixam de pagar suas contas. Os entrevistados apontaram, principalmente, a ansiedade, angústia, estresse e a vergonha de terem problemas financeiros de por suas contas atrasadas.

 

Quais são os principais impactos da inadimplência na saúde dos entrevistados?

A pesquisa também apontou os impactos na saúde daqueles que tem as dívidas em atraso. O principal fator de saúde, que é afetado, segundo os entrevistados, são as alterações de sono. Mas, também, foram citados problemas como falta de vontade na hora de sair, na hora de socializar… Outras questões como fazer outras atividades para tentar esquecer a situação que se encontra e, ainda, tem aqueles que descontam no apetite, uns pra mais outros pra menos, e também aqueles que descontam em algum vício, seja ele cigarro, álcool ou até mesmo fazendo novas compras e piorando a situação que já estão.

 

A pesquisa aponta algum impacto em relação a produtividade no trabalho?

A pesquisa apontou que não é só impacto da saúde que os entrevistavam endividados tem por estarem com suas contas em atraso. Mas, também, com relação à produtividade do trabalho. 43% disseram que ficaram menos produtivos depois que estão com o nome sujo, com as dívidas em atraso. Além disso, tem aquele público que também relatou irritação maior com as pessoas da família, da na vida, do seu dia a dia.

(Foto: Reprodução)

 

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