Conheça o perfil de estudante mais propenso a planejar massacres em escolas

Um estudo publicado pela Unicamp apurou características predominantes entre estudantes que planejam atentados de violência extrema em escolas.

A pesquisa também apontou formas pelas quais os potenciais agressores são cooptados na web.

Em 21 anos, o Brasil registrou 22 ataques violentos em escolas. Do total, 9 foram executados apenas nos últimos 8 meses.

Os dados ilustram a escalada de casos que têm ganhado destaque na mídia.

Ao analisar as ocorrências em escolas brasileiras, a doutora em Educação e professora da Unicamp, Telma Vinha (foto acima), uma das autoras do estudo, em entrevista à GloboNews, listou algumas características comuns aos agressores.

 

O perfil predominante

De acordo com o estudo da Unicamp, os autores de atentados a escolas no Brasil são, em geral, jovens do sexo masculino, brancos, com “gosto pela violência”.

“É muito comum eles se exibirem na internet com armas e facas”, disse a pesquisadora Telma Vinha.

A pesquisadora destacou que, em alguns casos, há claros indícios de “transtornos mentais variados” entre os agressores, sendo que o problema não é o transtorno em si, mas como ele é catalisado pela exposição ao discurso de ódio contra grupos ditos minoritários.

“Eles apresentam a característica de isolamento social, não são os meninos mais populares da escola, têm relações sociais mais restritas. Eles também têm características de misoginia, masculinidade tóxica, são racistas e homofóbicos”, pontuou a doutora em Educação e professora do Departamento de Psicologia Educacional da Unicamp.

Telma frisou que potenciais agressores cultivam um sentimento de ressentimento, “como se o mundo lhes devesse algo”. Eles acreditam que são os segmentos da sociedade “privilegiados” por políticas afirmativas que lhes retiraram oportunidades.

O ressentimento atravessa, portanto, o perfil socioeconômico da família onde esses agressores estão inseridos. “Eles não têm perspectiva de melhoria de vida, há pouca mobilidade econômica. Então, é como se não tivessem um propósito.”

 

Futuros agressores cooptados

Telma Vinha explicou  que os agressores, geralmente, são alunos ou ex-alunos de escolas onde sofreram bullying ou situações de exclusão.

“Associado a isso, esses adolescentes agora são adeptos de discursos extremistas. Estão articulados em comunidades mórbidas, que são fóruns online de incentivo à violência e misoginia.”

“Há poucos anos atrás, eles precisavam entrar na deep web para encontrar esses fóruns extremistas. Agora isso tudo está na superfície da internet. São páginas no Twitter, fóruns de games. Geralmente, são cooptados enquanto jogam online. O problema não é o jogo ser violento em si. É, por exemplo, estar jogando e começar a xingar uma menina. Lá eles são incentivados a fazer isso, começam a ofender, se sentem apoiados e, então, são convidados para entrar em comunidades de crimes reais no Discord, por exemplo.”

O Discord é uma plataforma voltada aos gamers e, segundo Telma Vinha, ostenta no Brasil uma das comunidades mais “radicalizadas” da web.

“Esses locais funcionam como uma câmera de eco reforçando uma tendência [à violência extrema]. Lá, eles são acolhidos, valorizados, se sentem pertencentes e compartilham ressentimentos. Eles odeiam juntos, e são incentivados a cometerem ataques para mostrar valor. Agem sozinhos, mas como se fosse uma missão.”

 

Maior número de mortes possível

O massacre de Columbine, nos EUA, é um marco na subcultura de violência extrema que se instalou em fóruns na web dedicados a fomentar discurso de ódio e incentivar ataques armados em escolas. (Foto reprodução TV)

O massacre de Columbine, nos EUA, é um dos mais famosos atentados contra escolas no mundo. Ocorreu no final da década de 1990, deixando 15 mortos. Seus autores são hoje idolatrados em fóruns extremistas.

Para Telma Vinha, o episódio virou um “marco” justamente por fomentar esse fenômeno da “idolatria”.

“Jovens começam nessa subcultura não para voltar à escola e se vingar. O que eles querem é conseguir o maior número de mortes possível, porque assim eles se tornam os ‘sanctus’, esses meninos cultuados, que inspiram, que são idolatrados.”

 

O efeito contágio e o papel das mídias

Anos após Columbine, estudiosos detectaram que a cada novo massacre televisionado com detalhes sórdidos, outros três podem surgir na sequência. Por isso, Telma Vinha celebra a “auto-regulação” que a imprensa brasileira faz nos últimos tempos, cobrindo massacres sem dar holofotes aos autores e seus métodos.

“Há um efeito contágio, inclusive na mídia. É muito interessante que isso muda no Brasil. Depois do ataque em São Paulo, a mídia passa a não divulgar mais quem fez e como fez, porque este processo inspira outros ataques.”

Na entrevista, Telma Vinha ainda falou sobre a responsabilidade de plataformas como o Twitter, que resiste a apelos do governo brasileiro para moderar conteúdo violento em suas páginas.

“Flávio Dino [ministro da Justiça] está certo em ir no pescoço do Twitter”, pois é uma das redes sociais onde a violência extrema está escancarada ao público, disse. (Foto Reprodução)

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