Lula pede a Congresso retirada do projeto de Bolsonaro sobre mineração em terra indígena

Proposta de Bolsonaro tramitava em regime de urgência desde 2022. Arthur Lira decidirá se tira ou não da pauta da Câmara

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) solicitou ao Congresso Nacional que o projeto de lei (PL) 191/20, que regulamenta a exploração de minérios, petróleo e geração hidrelétrica em território indígena (TI) demarcado, fosse retirado de tramitação da Câmara dos Deputados. A mensagem foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta sexta-feira (31).

Apresentado por Jair Bolsonaro em fevereiro de 2020, o projeto ficou parado na Câmara dos Deputados até março de 2022, quando o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e o centrão aprovaram requerimento de urgência da matéria, sem ouvir os indígenas e sem passagem pelas comissões especiais da Câmara. A proposta não chegou a ser votada pelos parlamentares. Agora, pelo regimento interno da Câmara, caberá deferir o pedido de Lula.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou nas redes sociais que esta é uma “importante resposta do governo Lula na proteção dos povos indígenas no Brasil e pela preservação ambiental”.

Conforme a Constituição Federal, as atividades descritas na proposta só podem ser realizadas em TIs com autorização prévia do Congresso, por meio de decreto legislativo e consultando as comunidades afetadas, que devem ter participação nos resultados. A proposta previa permissão para lavra garimpeira em terras indígenas em locais definidos pela Agência Nacional de Mineração (ANM), desde que consentido pelos povos originários.

Em fevereiro, a bancada do PSOL na Câmara enviou um ofício ao Planalto, pedindo que o presidente retirasse o projeto de tramitação. A solicitação se baseou no artigo 104 do Regimento Interno, que estabelece que o autor de um PL, neste caso o governo federal, pode requerer a exclusão da proposta em qualquer fase do seu andamento.

“Desde novembro de 2020, lideranças ianomâmis vêm pleiteando o auxílio do Poder Público Federal para conter as invasões de garimpeiros que culminaram em uma série de violações graves de direitos humanos, com registros de homicídios; estupros; contaminação por diversas doenças, dentre as quais covid-19; bem como tornando impossível a subsistência das comunidades, posto a dificuldade de realizar atividades extrativistas, como por exemplo a pesca”, diz o texto do documento enviado a Lula e aos ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas).

A proposta de Bolsonaro foi alvo de diversos protestos de artistas, ambientalistas e movimentos sociais. O Ministério Público Federal já se manifestou contrário ao projeto duas vezes, declarando ser inconstitucional. A aprovação da urgência ocorreu em uma sessão noturna na Câmara, enquanto o evento-protesto, capitaneado por Caetano Veloso, reuniu artistas na Esplanada dos Ministérios, no chamado Ato pela Terra.

(Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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