O ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, chama a atenção para o crescimento organizado da extrema direita no cenário internacional, liderado principalmente pelos Estados Unidos, e assegura que o Brasil enfrenta um risco iminente. Em sua reflexão, Dirceu relaciona a crise gerada pela globalização à emergência de movimentos ultraconservadores, como o trumpismo, ressaltando os impactos prejudiciais da financeirização da economia sobre as democracias e a soberania dos países.
“Não estamos podendo manter a democracia na crise da globalização”, afirma Dirceu em um artigo publicado no site Congresso em Foco.
Segundo ele, o modelo econômico que prevaleceu após as crises de 2008 e 2011 promoveu a desindustrialização de países como o Brasil e os próprios EUA, além de precarizar o trabalho, destruir empregos formais e empurrar amplas parcelas da população para a informalidade e a desesperança. Nesse cenário, a juventude é particularmente afetada por uma “espécie de semisservidão”.
Dirceu também questiona a real soberania do Brasil diante do controle exercido pelo capital financeiro e pelo agronegócio exportador. “Não há como ter um projeto de desenvolvimento nacional e garantir nossa independência […] num regime de crescimento mínimo, de dependência das exportações de commodities e ainda totalmente subordinada aos interesses do mercado financeiro”.
O ex-ministro denuncia o que considera conivência e omissão das elites nacionais – financeiras, agrárias e midiáticas – diante de ameaças externas que, segundo ele “fazem de conta que não estamos sob ameaça da extrema-direita norte-americana e suas congêneres em todo o mundo”.
No texto, Dirceu também relaciona a estadia do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos a uma articulação antidemocrática com apoio de lideranças do PL e da própria família Bolsonaro, acusando o grupo de manter vínculos com os responsáveis pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. “Continuam financiando o bolsonarismo e organizando uma intervenção externa nas eleições de 2026”, afirma.
Ele também ressalta que a ofensiva contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), faz parte da mesma estratégia. “É uma forma diversionista de defender e proteger os golpistas e o bolsonarismo das consequências da tentativa de golpe de Estado”, argumenta.
O ex-ministro observa que os métodos utilizados para desestabilizar a democracia brasileira não são novos. “Os recados estão sendo dados e com métodos que conhecemos historicamente aqui em 1964 e no Chile em 1973”, escreve. “Busca-se criar um clima que justifique a intervenção não só pelas redes ou medidas jurídicas ou administrativas, mas com medidas de força, agora não mais militares, mas com as tarifas, sanções e bloqueios”, destaca.
Ele cita como exemplo a repentina mobilização em torno de supostas ameaças terroristas na Tríplice Fronteira, com destaque para a menção ao Hezbollah em Foz do Iguaçu, e a alegada descoberta de “espiões russos” no país. O ex-ministro também chama atenção para notícias sobre o interesse dos EUA em estabelecer bases militares em Natal, Fernando de Noronha e no Paraguai.
José Dirceu finaliza o texto denunciando a ofensiva neoliberal contra o Brasil, que visa reduzir o país a mero exportador de matérias-primas. Entre os alvos prioritários dessa estratégia neoliberal estariam instituições como Petrobras, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e até a Previdência Social. “Recusando-se a qualquer medida tributária progressiva”, diz ele, “preservam a desigualdade e a pobreza, abandonando de vez qualquer soberania e projeto de desenvolvimento nacional”. (Foto: Reprodução)