Plataforma contorna decisão judicial do STF e volume de publicações em português dispara nesta quarta-feira
Uma mudança no registro dos servidores do X permitiu a usuários brasileiros voltarem a ter acesso à rede social nesta quarta-feira (18), contrariando a ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A rede foi suspensa no Brasil em 30 de agosto, após descumprir ordens judiciais, mas conseguiu contornar a restrição com uma mudança nos servidores. Provedores de internet, responsáveis pelo bloqueio, dizem que a atualização na plataforma, na prática, dificulta a restrição.
Desde o início do dia, usuários do X têm relatado que voltaram a ter acesso à rede. De acordo com provedores de internet, a rede social do bilionário sul-africano de extrema-direita Elon Musk passou a usar um sistema que funciona como uma espécie de “escudo” para proteger seus servidores. Uma das companhias contratadas para isso foi a Cloudflare, que oferece o serviço para grandes empresas brasileiras, incluindo bancos. Ao todo, a empresa americana opera com 23 milhões de sites no mundo.
De acordo com a Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), a rede social passou a usar servidores da empresa americana Cloudflare, que oferece proteção e redistribuição de tráfego. “O X passou a funcionar com um novo software, que não está mais usando os IPs da rede social, mas da Cloudflare. Não é uma coisa simples de bloquear”, explicou Basílio Rodríguez Perez, conselheiro da Abrint, ao jornal O Globo. Segundo ele, a mudança técnica dificultou significativamente a aplicação da ordem judicial.
Para restringir a rede social, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) depende da ação de cada provedor de internet, que fica responsável por bloquear o acesso ao IP da rede social. Segundo a agência, são mais de 11 mil provedores de banda larga homologados no Brasil.
Desde que identificaram a mudança de rota no registro do X, os provedores estão em contato com a Anatel para entender como fazer o bloqueio da rede, já que o IP (Protocolo de Internet) registrado mudou. Basílio Rodríguez Perez, da Abrint, diz que é “quase impossível” bloquear o Cloudflare sem restringir “uma série de serviços legítimos e necessários” que rodam com o sistema da empresa americana.
Para proteger aplicativos e sites de ataques cibernéticos, a Cloudflare usa um mecanismo chamado de proxy reverso, que foi adotado pelo X, explica Pedro Diógenes, diretor técnico para a América Latina na empresa de tecnologia CLM. “Um proxy reverso, como o oferecido pela Cloudflare, funciona como um intermediário que gerencia o tráfego da Internet entre os usuários e o servidor de um site. Ele não só melhora a segurança e a velocidade do site, mas também permite mascarar o IP real do servidor, mostrando apenas o IP do proxy”, pontua o especialista.
Ao usar um proxy reverso, como os oferecidos pela Cloudflare, o X conseguiu “mascarar” o IP real do servidor. Diógenes afirma que o serviço é usado de forma legítima pelo setor privado para proteger os servidores originais de ataques diretos. Em outras palavras, é como uma “barreira invisível que protege a infraestrutura”, mas sem impactar a experiência dos usuários, diz.
A consultoria Arquimedes revelou que, com a mudança no acesso, o volume de publicações em português no X subiu para 3,5 milhões nesta quarta-feira. Foi um aumento de 1 milhão de postagens. Mas antes do bloqueio, a média diária de posts em português era de 12 milhões. Ela caiu para 2,5 milhões, que ainda é um número expressivo, mesmo com a suspensão da rede social.
Integrantes do STF dizem que a liberação se deu por alguma “instabilidade no bloqueio da plataforma”. A Corte ainda checa informações sobre postagens feitas por alguns internautas. A Anatel afirmou que está que está verificando os relatos de usuários, e que não houve mudança na decisão que suspendeu a rede social.
(Foto: GPS/Giro Marília)