Vítimas de abuso por Trump dizem que ´será pior´ retorno dele à Casa Branca

Surpresa“, “repulsa” e “frustração“: estas são algumas das expressões empregadas por três mulheres ao relatar suas reações ao saber que Donald Trump voltaria a ocupar a Casa Branca em 2025.

Amy Dorris, Natasha Stoynoff e Beatrice Keul afirmam que sofreram abuso sexual por parte de Trump muitos anos atrás. Embora suas denúncias não tenham sido levadas a tribunal, seus testemunhos foram divulgados na mídia dos Estados Unidos e do Reino Unido.

À Universa, elas compartilham suas narrativas e visões sobre o futuro da nação. Ao ser contatado através de sua equipe, Trump não fez comentários.

 

 

‘Me agarrou’

Amy Dorris, de 52 anos, residente em Michigan, declarou que foi vítima de agressão sexual por Trump na primeira semana de setembro de 1997. Sua história veio à tona em 2020, através do jornal The Guardian.

Naquele período, ela atuava como modelo e recebeu um convite para assistir ao US Open de tênis, em Nova York, no box reservado de Trump. Ao deixar o banheiro, ela relata ter encontrado uma surpresa bem desagradável.

“Trump me segurou e tentou me dar um beijo. Eu o afastei, mas ele persistiu em me agarrar e me tocou por toda parte. Precisava usar meus dentes para afastar a língua dele da minha boca. Expliquei que estava no evento com meu namorado e pedi que ele me deixasse em paz, até que finalmente consegui escapar”, relata Amy Dorris.

Amy declarou estarestarrecida” com a agressão e que, no momento, se responsabilizou pelo que aconteceu. Ela pensava que a situação havia sido desencadeada por alguma ação sua. Atualmente, ela isso como um padrão de comportamento de Trump.

Essa percepção surgiu após a divulgação de um vídeo em 2016, no qual Trump, sem ter consciência de que estava sendo filmado, se orgulha de ter apalpado e assediado mulheres.

Uma gravação em fita de vídeo, realizada em 2005, foi publicada pelo jornal norte-americano The Washington Post um mês antes das eleições de 2016. Esse conteúdo impactou a candidatura de Trump, embora não tenha sido suficiente para impedir sua vitória.

“Trump explicou detalhadamente tudo o que ocorreu entre nós“, afirma ela. “Isso me permitiu compreender de maneira mais intensa os eventos que se desenrolaram.”.

Amy optou por não acusar Trump pelos eventos que aconteceram. Ela está convencida de que, se tivesse tentado, seu relato teria sido desacreditado.

“Não sinto remorso por não ter feito a denúncia na época, pois nada teria mudado. Isso teria sido uma experiência dolorosa. Você realmente acredita que os policiais tomariam alguma atitude contra Trump, sendo ele a pessoa mais influente ali?”

 

‘Será muito pior’

Desde os anos 70, 28 mulheres se manifestaram publicamente para acusar Trump de assédio sexual. A única que se destacou por apresentar uma denúncia formal contra o republicano foi a jornalista Elizabeth Jean Carroll.

Amy e as 27 outras mulheres criaram uma rede de apoio chamada Trump Survivors Against Trump (“Sobreviventes de Trump contra Trump”). Em 2020, após a derrota de Trump nas eleições, o grupo se juntou pelo Zoom para comemorar.

“Em 2020, estávamos celebrando, pois acreditávamos que ele não retornaria. Existe uma espécie de ligação fraternal entre nós”, comenta Amy, acrescentando que o grupo está incerto sobre o que fazer neste momento.

Estamos apenas tentando preservar um ambiente seguro para as vítimas de Trump. Acredito que seu possível retorno à presidência impactará a todas de maneira negativa. Não será como antes; a situação será muito mais grave”, expressa Amy Dorris.

 

 

‘Me empurrou contra a parede’

A repórter Natasha Stoynoff, 59 anos, de Toronto, integra o grupo de “sobreviventes de Trump”. Anteriormente correspondente da revista People, ela foi encarregada, no começo dos anos 2000, de relatar temas associados ao empresário.

Ela relata que foi vítima de agressão sexual em dezembro de 2005. Naquele período, sua esposa, Melania, esperava o primeiro e único filho do casal.

Na data da agressão, Natasha visitou a casa de Trump —o sofisticado resort Mar-a-Lago, localizado na Flórida— com o objetivo de entrevistar o casal e tirar fotos para uma matéria sobre seu aniversário de casamento. Em um certo instante, Melania subiu para se trocar. Durante esse tempo, Trump se ofereceu para apresentar a casa à repórter.

Trump mencionou que havia um espaço específico que eu precisava explorar. Assim que entramos naquele local a sós, ele trancou a porta. Virei-me e, em questão de momentos, ele me pressionou contra a parede, invadindo minha boca com sua língua”, narra Natasha Stoynoff

Senti-me confusa, mas ao mesmo tempo aliviada, quando o mordomo de longa data de Trump entrou no ambiente enquanto eu tentava me desvincular. Ele nos avisou que Melania estaria descendo em breve.“.

Depois da agressão, Natasha afirma ter ficado “em estado de choque” e ter permanecido em silêncio enquanto acompanhava Trump e o mordomo até o jardim externo. Durante aqueles breves momentos a sós com ele, ela recorda que sua autoconfiança despencou para zero”.

Uma hora depois, ao retornar ao hotel, a surpresa se transformou em fúria. Eu me perguntava: ‘Por que não o acertei com um soco? Por que não consegui me manifestar? Por quê?’

Ao voltar para a redação da People, Natasha procurou sua supervisora. Em meio a lágrimas, relatou o que havia acontecido e solicitou a mudança de editoria. Um colega a aconselhou a reportar o incidente ao editor-chefe da People, mas ela decidiu ficar em silêncio para “não criar complicações“.

Fiquei atordoada e temerosa sobre o que Trump poderia fazer em relação a mim e à minha trajetória profissional se isso viesse à tona“, relata Natasha. “Eu também me lembrava de Melania. Ela estava radiante naquele dia, cheia de entusiasmo por sua gestação. Não queria arruinar a felicidade dela.”

Tal como Amy, a repórter nunca se dirigiu à polícia, porém sua história foi revelada na revista People em 2016. Em 2023, Natasha também prestou depoimento no processo de agressão sexual envolvendo Elizabeth Jean Carroll —resultando na condenação de Trump no caso.

 

‘Pulou em mim como um animal’

A antiga modelo suíça Beatrice Keul, de 53 anos, foi a mais recente a se manifestar publicamente contra o republicano, acusando-o de assédio sexual. O incidente aconteceu em novembro de 1993.

Nesse ano, Beatrice competiu em um certame de Miss Suíça, conquistando a segunda posição. Uma equipe americana registrou o evento em vídeo. Em seguida, a modelo foi convidada por Trump a participar de um concurso de beleza que ele organizava em Nova York, com todas as despesas cobertas.

Naquele momento, experimentei a sensação de uma garotinha partindo para a vasta América. Senti uma mistura de espanto e entusiasmo! As pessoas ao meu redor estavam cheias de ciúmes.

Em Nova York, Trump e Beatrice se encontraram durante um almoço destinado à imprensa. Após uma conversa que durou um certo tempo, eles se despediram. De repente, um membro da equipe de Trump se aproximou dela e informou que Trump gostaria de se encontrar com ela, pedindo que a modelo o seguisse até uma suíte.

“Trump me surpreendeu. Assim que me virei, ele se lançou contra mim como uma fera. Eu não estava pronta para isso. Fiquei atordoada”, relata Beatrice Keul.

“Ele me segurou, me beijou e tentou puxar meu vestido. Estive prestes a chorar, mas consegui conter as lágrimas para não mostrar vulnerabilidade. Em um certo instante, ele olhou em meus olhos e creio que refletiu: ‘Isso não vai funcionar‘. E então, me deixou ir. Depois, pediu que mantivéssemos aquilo em segredo.

Tal como Amy e Natasha, Beatrice decidiu não comunicar o ocorrido às autoridades e, por muitos anos, tentou esquecer o que havia acontecido. A primeira vez que ela mencionou o episódio foi no final de outubro deste ano, durante uma conversa com o Daily Mail, aproximadamente uma semana antes das eleições.

 

‘O sonho americano está morto’

Continuo sem acreditar.Dessa forma, Amy iniciou sua resposta sobre sua reação à vitória de Trump. Ela relata que, na noite da eleição, participou de uma chamada de vídeo com algumas das “sobreviventes”.

Em certo momento, elas notaram que a contagem dos votos “não estava satisfatória“, e foi então que Amy decidiu ir para a cama. Ao despertar, o resultado já havia sido definido.

“Eu realmente não conseguia acreditar. Jamais imaginei que ele conseguiria vencer. Não estava pronta para essa surpresa“, disse ela.

Tenho a impressão de que os direitos femininos estão prestes a retroceder. Creio que o ideal americano não existe mais”, afirma Amy Dorris.

Para Natasha, o candidato republicano conquistou a vitória nas eleições ao fundamentar sua campanha em falsidades.

Em 2016, após a primeira vitória de Trump, Natasha descreveu sua reação como surpresa e mal-estar“. Atualmente, a jornalista observa que “a surpresa e o medo são infinitamente mais intensos“, uma vez que a sociedade o compreende melhor.

Estou me sentindo enjoada. Sinto uma grande decepção, desespero e preocupação com o nosso país”, comenta. “Estou apreensiva em relação ao futuro das mulheres e das meninas que se transformarão em mulheres nos próximos quatro anos.”

Beatrice diz que é afortunada por não ser uma cidadã americana e por não estar obrigada a residir nos Estados Unidos nos próximos quatro anos.

Fazemos parte de uma sociedade onde esses indivíduos se unem a outros com características parecidas e exercem poder sobre o mundo.”

Durante um pronunciamento na campanha de 2016, Trump chamou as mulheres que o acusaram de abuso sexual de “mentirosas terríveis“. Quanto ao testemunho de Amy Dorris, a advogada da campanha de Trump afirmou à CBS News em 2020 que “as acusações são completamente infundadas“.

Quando contatada pela Universa, a equipe de Trump não se pronunciou.

Na imagem, Amy Dorris com Trump no torneio de tênis US Open  (Foto: Arquivo pessoal)

Com informação da Universa.

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