Violência armada custou R$ 41 milhões ao SUS em um ano

De acordo com o levantamento da ONG Sou da Paz, foram registradas 17,1 mil internações decorrentes de ferimentos por armas de fogo — número que não retrata todos os gastos. Dinheiro seria suficiente pra custear quase 1 milhão de mamografias

 

O Brasil gastou, só em 2022, R$ 41 milhões do orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações hospitalares de vítimas de armas de fogo, segundo aponta a organização não governamental (ONG) Instituto Sou da Paz. De acordo com o levantamento, foram 17,1 mil internações, uma média de quase 50 baleados por dia, que não retratam todos os gastos com esse tipo de vítima, uma vez que não existem informações desagregadas que permitam identificar e estimar os custos de outros tipos de assistência a quem é atingido por tiros.

O dinheiro gasto com esse tipo de atendimento seria suficiente para realizar 40,5 milhões de testes rápidos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), 10 milhões de hemogramas completos e quase 1 milhão de mamografias pelo sistema público de saúde. Os dados mostram que o valor médio de uma internação por agressão com arma de fogo em 2022 foi de R$ 2.391, número 59% maior do que o de ferimentos por outros meios, e cerca de duas vezes maior que o de agressões provocadas por força corporal e por arma branca.

“Os custos do tratamento de ferimentos por arma de fogo podem variar e sobrecarregar os serviços de assistência hospitalar e ambulatorial”, aponta o Sou da Paz.

O estudo mostra ainda que, em comparação com anos anteriores, há uma tendência de queda dos custos, sobretudo a partir de 2018 — ano em que os homicídios apresentaram uma queda abrupta no país. Mas, em 2021, o sinal de alerta acendeu. “A redução nos custos reflete também a diminuição de casos de alta gravidade que custam mais e a defasagem dos preços de referência da tabela SUS para ressarcimento dos serviços prestados”, diz o levantamento.

“Em média, uma internação por arma de fogo custa três vezes mais que uma internação provocada por outros problemas de saúde”, explica Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz. As agressões intencionais são a principal causa de internações decorrentes de ferimentos por arma de fogo e responderam por 75% dessas internações, em 2022. Em seguida, vêm os acidentes (17%) e as lesões autoprovocadas (1,5%), restando 6,5% de casos em que a causa do ferimento não foi identificada.

A violência armada vitima mais pessoas negras: em 2022, representaram 57% das internações, enquanto as vítimas não negras foram apenas 16% dos atendimentos. “Chama a atenção o retrocesso na qualidade da informação desde 2021, quando a proporção de registros sem identificação do perfil racial chegou a 32%”, ressalva o instituto.

Os homens representaram 89,6% das vítimas: ficam mais tempo internados, sua diária custa mais e a taxa de mortalidade hospitalar é maior, o que, possivelmente, reflete a gravidade das lesões que os vitimam em comparação com as mulheres.

Nas regiões Norte e Nordeste, os gastos com internações decorrentes de ferimentos por arma de fogo representaram 3,2% dos gastos com internações hospitalares por causas externas, ou seja, a proporção é de 1,5 vezes superior (+150%) do que a média nacional em 2022.

(Foto: Reprodução/Artpicture)

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