‘Veicular desinformação fere ética jornalística’, diz pesquisadora sobre entrevista de Flávio Bolsonaro ao Roda Viva

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), utilizou o seu tempo no programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (8), para atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e difundir desinformação.

O parlamentar atribuiu a derrota de seu pai na eleição presidencial de 2022 a uma suposta interferência do TSE no processo eleitoral que teria favorecido o vencedor Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“O processo eleitoral todo não foi imparcial. Não foi equilibrado entre Lula e Bolsonaro. O que o TSE fez antes, durante e depois das eleições, ficou muito claro para todo mundo que ele pesou muito mais a favor de um lado do que do outro. Você vai lembrar que a gente foi censurado de falar muitas verdades sobre o Lula”, disse mais uma vez sem apresentar provas.

A entrevista de Flávio Bolsonaro levantou o debate sobre quais são os limites para veicular informações incorretas. Gyssele Mendes, da coordenação executiva do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e mestre e doutoranda em comunicação, afirma que a veiculação de desinformação fere os princípios éticos do jornalismo.

“Quando uma informação equivocada está sendo veiculada, as emissoras e os profissionais de imprensa têm o dever ético de corrigir a informação” ao mesmo tempo em que a informação é divulgada, afirma Mendes.

Tal mediação e correção, defende a comunicadora, não devem ser vistas como uma censura. “A mediação parte do princípio de que há um diálogo com posições divergentes sendo colocadas. Isso é do debate público. Com a censura, não há diálogo, o que existe é apenas o cerceamento e silenciamento.”

A pesquisadora dia que “não é de hoje que as emissoras de rádio e TV cumprem o papel de desinformar a sociedade. Basta olharmos para qualquer cobertura da grande mídia sobre movimentos sociais, sobre manifestações da esquerda brasileira ou qualquer fato que vá de encontro aos interesses políticos e econômicos das emissoras. No entanto, não podemos perder de vista que as emissoras de rádio e TV são concessões públicas, com o dever constitucional de atender a finalidades informativas, educativas, entre outras, conforme o capítulo V da Constituição Federal. Quando elas se colocam como espaço para disseminação de desinformação, elas ferem um princípio constitucional. Além disso, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em seu artigo 2º, define que “a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida”. Ou seja, a veiculação de desinformação por meios de comunicação significa também ferir os princípios éticos do jornalismo”.

 

Gyssele Mendes sugere como os profissionais da imprensa devem fazer essa mediação:

“Quando uma informação equivocada está sendo veiculada, as emissoras e os profissionais de imprensa têm o dever ético de corrigir a informação. Isso de forma alguma pode ser considerada censura, pois não há o silenciamento, não há o impedimento da manifestação, e sim a correção de uma informação sabidamente equivocada. Jornalistas têm o dever de divulgar os fatos e informações de interesse público e devem se manifestar caso estejam diante de informações que contrariem isso”, diz.

Ao ser indagada sobre que tipo de mediação pode ser considerada uma censura, a cientista responde:

“Acho que mediação e censura são coisas completamente diferentes. A primeira parte do princípio de que há um diálogo com posições divergentes sendo colocadas. Isso é do debate público. Com a censura, não há diálogo, o que existe é apenas o cerceamento e silenciamento, não há manifestação contrária possível em um episódio de censura. Nós vimos isso acontecer recentemente em inúmeros episódios durante o governo Bolsonaro. A desinformação deve ser vista como uma estratégia política que visa o lucro, seja ele financeiro, simbólico, de capital político, entre outros. Portanto, a veiculação de desinformação não é algo ingênuo por parte das emissoras e elas devem ser cobradas por isso”, explicou. (Foto: Internet/ Reprodução)

 

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