Confirmada como membro-titular da CPMI dos atos golpistas, deputada paulista disse que foco será identificar os organizadores, financiadores e participantes desses atos terroristas. Ela acredita que a comissão deve alcançar congressistas da oposição e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. “Ele precisa explicar, até porque ele é o grande mentor desses atos que ocorreram no dia 8 de janeiro”, defende.
Thiago Vilarins – A Federação PSOL-Rede definiu os nomes da deputada Erika Hilton (SP) e do deputado Pastor Henrique Vieira (RJ) como seus representantes na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro deste ano — quando foram invadidos e depredados os edifícios sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal — que será instalada na próxima quinta-feira (25), às 9h. Erika e Henrique se revezarão na titularidade e na suplência da Comissão.
De inicio, os partidos, de ambos os lados, apostaram para a CPMI nomes com experiência em situação de confronto no Legislativo, já com participações em outras emblemáticas comissões de investigação. No entanto, com o tempo foi crescendo dentro da base dos partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a necessidade de ampliar a visibilidade dos grupos que não se viram representados em outras comissões, como a CPI da Pandemia.
Neste sentido, Hilton será a primeira mulher trans e negra a ocupar um colegiado com teor investigativo na Câmara dos Deputados. Já com a presença do Pastor Henrique, a federação PSOL-Rede pretende romper o discurso de que o autoritarismo e as posturas antidemocráticas são consensuais no setor evangélico.
A reportagem do Opinião em Pauta conversou com ambos e nesta edição vai reproduzir os posicionamentos da deputada Erika Hilton. Para ela, o foco da sua atuação será em torno de desvendar os organizadores, financiadores e participantes dos atos terroristas e garantir que eles sejam responsabilizados.
“A baderneira que nós assistimos no dia 8 de janeiro atacou diretamente o processo democrático de direito, a soberania das urnas, que elegeu este governo e caberá ao PSOL ajudar ao governo a consolidar a democracia nesse país. Então, nós vamos pra lá sim, para desmascarar esses terroristas, esses vândalos, esses criminosos que atentaram contra a democracia”, disse.
Uma das preocupações, segundo ela, é de que não haja anistia, nem para Jair Bolsonaro, nem para parlamentares que incentivaram ou participaram dos atos, nem para demais aliados. “Contra fatos não há argumento, o que aconteceu, aconteceu, e o nosso papel com a CPMI vai ser identificar, desmascarar e responsabilizar esses criminosos. E, se eles (parlamentares da oposição) também estiverem por de trás disso, que eles também sejam responsabilizados”, comentou.
“E o ex-presidente (Jair Bolsonaro) precisa explicar, até porque ele é o grande mentor desses atos que ocorreram no dia 8 de janeiro. Por mais que ele negue, por mais que tenha dado aquele depoimento a PF, a gente sabe como foi. Nós acompanhamos os últimos quatro anos do governo Bolsonaro e sabemos o quanto ele incitou, o tempo inteiro, a violência contra as urnas, contra o processo democrático, contra as eleições, tentando assim trazer para o país um capitólio e conseguiu ainda piorar a questão aqui no Brasil. Então, acho sim que a CPMI pode chegar ao ex-presidente”, completou.
Confira a conversa da reportagem do Opinião em Pauta, realizada na última quinta-feira (18), no salão verde da Câmara dos Deputados:
A senhora, juntamente com o Pastor Henrique Vieira, foram indicados pelo PSol para serem membros-titulares da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro. A escolha foi por dois deputados estreantes aqui na Câmara, enquanto as outras siglas têm optado por nomes mais veteranos. Qual a orientação do partido em relação à atuação de vocês?
O nosso objetivo é desmascarar o que foram os atos terroristas de 8 de janeiro. Acho que a contribuição que o PSol prestará a essa CPMI é fazer com que os responsáveis sejam identificados, que os mentores sejam identificados e que essas pessoas sejam responsabilizadas. A baderneira que nós assistimos no dia 8 de janeiro atacou diretamente o processo democrático de direito, a soberania das urnas, que elegeu este governo, como um governo vencedor do pleito eleitoral e caberá ao PSOL ajudar ao governo a consolidar a democracia nesse país. Então, nós vamos pra lá sim, para desmascarar esses terroristas, esses vândalos, esses criminosos que atentaram contra a democracia no dia 8 de janeiro. Vamos resgatar a verdade e garantir que não haja impunidade para os que conspiraram e tentaram destruir a democracia brasileira.
O outro lado, também está montando uma tropa de choque forte, com nomes muito identificados com o bolsonarismo, como a ex-ministra Damares Alves, o senador Sérgio Moro e os filhos do ex-presidente. Como devem ser esses embates e qual a estratégia para que eles não transformem a CPMI em um palanque de oposição ao governo?
A gente ainda não discutiu sobre as estratégias em relação a não transtornar isso em um palanque da oposição, mas eu acho que nós vamos nos amparar em dados. Eu acho que está muito mais desfavorável a eles do que a qualquer outro cenário. Eles são os grandes responsáveis e protagonistas desse caos criminoso que não teve adesão na sociedade. Foi uma parcela minúscula que veio, fez essa baderna e não sentiu amparo. Então, eu acho que a estratégia vai ser a estratégia do desmascaramento, vai ser a estratégia da exposição daquilo que ocorreu e vai ser dizer que não tem para onde correr. Contra fatos não há argumento, o que aconteceu, aconteceu, e o nosso papel com a CPMI vai ser identificar, desmascarar e responsabilizar esses criminosos. E, se eles também estiverem por de trás disso, que eles também sejam responsabilizados.
A senhora também tem essa percepção de que o pedido de abertura dessa CPMI pela oposição foi um verdadeiro ‘tiro no pé’ deles e de que ela deve atingir diretamente o ex-presidente Bolsonaro?
Eu não acho que ela foi um tiro no pé, mas acho que ela pode chegar até o Bolsonaro. Nada é inevitável na política, tudo se dá um jeito, mas eu acho que há muitas possibilidades, sinceramente. E acho que a Federação PSOL-Rede vai sim tentar cumprir esse com esse papel de fazer com que o ex-presidente possa ser convocado. O ex-presidente precisa explicar, até porque ele é o grande mentor desses atos que ocorreram no dia 8 de janeiro. Por mais que ele negue, por mais que tenha dado aquele depoimento a PF, a gente sabe como foi. Nós acompanhamos os últimos quatro anos do governo Bolsonaro e sabemos o quanto ele incitou, o tempo inteiro, a violência contra as urnas, contra o processo democrático, contra as eleições, tentando assim trazer para o país um capitólio e conseguiu ainda piorar a questão aqui no Brasil. Então, acho sim que a CPMI pode chegar ao ex-presidente.
Até o inicio deste ano, o Congresso Nacional não tinha nenhuma representante trans. Agora, a Câmara já tem uma bancada com a presença da senhora e da deputada Duda Salabert (PDT-MG). E ambas participarão da CPMI dos atos golpistas, que deverá monopolizar as atenções do legislativo nos próximos meses. Qual a importância de ocupar mais esse espaço aqui nessa Casa?
Eu acho que a importância de lembrar que quando as democracias, ainda em processos democráticos, nós somos vulneráveis, precarizadas e não conseguimos exercer uma democracia plena. Estar ali também terá esse papel de lembrar isso a sociedade e lembrar que nossa comunidade segue sem democracia, mesmo dentro da democracia.
(Foto: Mandato Erika Hilton)