Urbanização em áreas de risco triplica no país em quase 40 anos

Levantamento do MapBiomas ainda indica que aumento foi de 3,4 vezes em favelas. Na média, 3% da área urbana do Brasil está em regiões de risco

 

A urbanização em áreas de risco de desastres climáticos no País triplicou nos últimos 38 anos (entre 1985 e 2022), aponta um levantamento do MapBiomas. Os pesquisadores descobriram que a urbanização em áreas de risco aumentou 2,8 vezes. Especificamente nas favelas, o crescimento foi de 3,4 vezes. Atualmente, 3% da área urbana total do país estão em regiões de risco. Nas favelas, o percentual é muito maior: 18%.

A urbanização em áreas de risco, segundo a rede colaborativa formada por organizações não governamentais (ONGs), universidades e empresas de tecnologia, compreende 123 mil hectares no país. Estas áreas, de acordo com a definição trabalhada, são suscetíveis a inundações, deslizamentos, secas e estiagens e outros desastres climáticos. Para se ter uma ideia da dimensão, a rede de estudo indica que em 1985 as áreas urbanizadas eram 1,2 milhão de hectares. Já em 2022, este número chegou a 3,7 milhões de hectares, o que representa 0,4% do território brasileiro. Ou seja, a área urbanizada triplicou de tamanho.

“Essas áreas precárias, as favelas, em geral, elas têm uma correlação, elas ocupam mais as áreas de risco e a gente tem que refletir sobre quais são os motivos que levam as pessoas que moram nessas áreas a ocupar situações de risco”, disse Julio Pedrassoli, professor da Universidade Federal da Bahia e coordenador do MapBiomas.

Segundo o professor, a ocupação dessas regiões nas favelas acontece devido ao menor valor dos terrenos. “Em geral, não é por opção, mas por falta de opção. São os terrenos que eles têm menor valor. Então, se tem um terreno que você sabe, pode inundar, e um terreno que você sabe que pode desabar, ele não tem valor pro mercado imobiliário, é o que sobra para ocupação de uma boa parcela da população brasileira”, acrescentou.

Crescimento de áreas de favela no Brasil

Nos 38 anos de período estudado em que a urbanização nacional triplicou, o MapBiomas revela que nas favelas o aumento foi de 3,4 vezes. No total, 5% de toda a expansão urbana no país foi em favelas no período. Os dados indicam que a cada 20 anos, a área ocupada por favelas no Brasil dobra.

A ocupação perto dos leitos dos rios, que podem transbordar com chuvas fortes, triplicou neste período – 425 mil hectares. Estas áreas estão os fundos de vales e 68% dessa ocupação ocorreu após 1985. Esta situação é ainda mais crítica nas favelas, pois a cada 100 hectares de urbanização 17,3 hectares estão em áreas suscetíveis a enchentes.

As ocupações que ficam em morros com possibilidade de deslizamentos, quintuplicaram – 8,6 mil hectares para 45 mil. O levantamento também contabilizou a quantidade de desastres ambientais. Só nas últimas três décadas, eles aumentaram mais de cinco vezes. Outro ponto destacado mostra que desde 2011 houve aumento de 17,7% de ocupação em terrenos acima de 30% de declividade, o que é proibido pela Parcelamento do Solo.

“Então é importante olhar para esses dados na perspectiva que nós estamos vendo, de aumento na intensidade desses eventos, e são áreas que a gente tem que monitorar, tem que tomar cuidado com o que já existe lá, mas também olhar para elas e impedir que novas ocupações, que vão representar perigo para as pessoas”, acrescentou Julio. Ainda conforme o pesquisador, o estudo pode ser usado para criação de políticas nacionais, mas também por municípios para orientar a elaboração de planos de redução de riscos.

Confira a íntegra do estudo do MapBiomas aqui

(Legenda da foto: Bairro do município de Marabá (PA) submerso pela cheia do Rio Tocantins. Foto: Paulo Cezar/Agência Pará)

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