TV denuncia omissão do papa João Paulo II em casos de pedofilia, na Polônia. Escândalo cauda desconforto no país.

De acordo com uma investigação jornalística transmitida pela televisão polonesa, o cardeal Karol Wojtyla estava ciente de casos de pedocrime na Igreja polonesa antes de ser eleito papa em 1978.

Se havia alguma suspeita, agora há evidências.

O cardeal Karol Wojtyla estava ciente de casos de crimes infantis na Igreja polonesa antes de se tornar Papa João Paulo II em 1978, de acordo com uma investigação jornalística apresentada, com depoimentos de apoio, pela televisão privada polonesa DTV.

Enquanto foi cardeal e arcebispo de Cracóvia, no sul do país, de 1964 a 1978, Karol Wojtyla teve conhecimento de casos de violência sexual cometida por padres de sua diocese contra menores, que transferiu de uma paróquia para outra para evitar escândalos, de acordo com o autor da pesquisa, Michal Gutowski.

Um dos padres incriminados foi enviado pelo futuro papa à Áustria.

O cardeal Wojtyla, neste caso, escreveu uma carta de recomendação ao então cardeal de Viena, Franz König, sem informá-lo das acusações contra o padre.

Como parte da investigação, Michal Gutowski conheceu vítimas de padres pedófilos, seus parentes e ex-funcionários da diocese.

Ele também cita documentos da ex-polícia secreta comunista da SB, mas também raros documentos da Igreja aos quais teve acesso.

A Diocese de Cracóvia negou-lhe o acesso aos seus arquivos, segundo o jornalista. Já aconteceu que a Igreja polonesa se recusa a fornecer documentos, mesmo aos tribunais ou a uma comissão pública de inquérito em casos de pedofilia.

 

Uma prova

 

Até agora, muitos atribuíam o silêncio de Wojtyla sobre esses assuntos ao contexto da época na Polônia: sua experiência sob o jugo dos nazistas e depois dos comunistas que, da mesma forma, não hesitaram em espalhar falsas acusações de abuso sexual para prender padres e reduzir a influência da Igreja Católica, inimiga desses regimes, teria sustentado sua atitude defensiva em relação ao clero e sua cegueira.

Desejando permanecer anônima, uma testemunha entrevistada por Michal Gutowski confirmou ter relatado pessoalmente ao cardeal Wojtyla as agressões sexuais de um padre em 1973.

“Wojtyla primeiro queria ter certeza de que não era um blefe. Ele pediu para não denunciar em lugar nenhum, disse que cuidaria disso”, disse o homem, acrescentando que o cardeal havia perguntado explicitamente se o assunto poderia permanecer encoberto.

“O que você descobriu é inovador porque mostra o que muitas pessoas suspeitavam há anos, que João Paulo II sabia que esse problema existia antes mesmo de se tornar papa”, disse Thomas Doyle, ex-padre, dos primeiros relatos de abuso do clero católico nos Estados Unidos. “Ele tinha que saber, mas não havia provas. E aí temos provas”, observou.

Em 1985, Thomas Doyle, ex-frade dominicano, especialista em direito canônico, havia enviado um relatório de quase 100 páginas escrito com outro padre e um advogado. Segundo ele, o Papa João Paulo II, informado, havia enviado um bispo ao local para resolver as coisas, sem publicidade, pensando que seriam resolvidas internamente.

Um livro contendo acusações semelhantes contra Karol Wojtyla será publicado na quarta-feira, 8 de março, na Polônia. Fruto de uma investigação do jornalista holandês Ekke Overbeek, intitula-se Máxima culpa: João Paulo II sabia.

Vários casos de pedocrime dentro do clero, revelados principalmente pela imprensa, abalaram a Igreja polonesa nos últimos anos. Vários altos funcionários poloneses foram sancionados pelo Vaticano.

As denúncias têm causado desconforto ao povo polonês, já que o papa ainda é considerado um herói nacional em seu país natal.

Papa Francisco

As pessoas que veem em Karol Wojtyla um modelo e ponto de referência e que moldaram a política e a cultura na Polônia desde a queda da Cortina de Ferro, são inclusive chamadas de Geração JP2.

João Paulo II morreu em 2005 e foi canonizado em 2014.

No Vaticano, em entrevista ao jornal argentino La Nación, o  papa Francisco pede mais compreensão.

“Você tem que colocar as coisas no tempo delas”, afirma o sumo pontífice.

“Naquela época, tudo era encoberto. Até o escândalo de Boston. Foi só quando estourou o escândalo de Boston que a Igreja começou a olhar para o problema”, afirmou Francisco. (Foto: A12)

 

Com informação da BBC

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