Por Henrique Acker – Uma onda de protestos sacode as principais cidades da Turquia desde 19 de março. As manifestações ocorrem contra a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem İmamoğlu, já anunciado como candidato do Partido Republicano do Povo (CHP) – de orientação social-democrata – para 2028, contra o atual presidente, Recep Erdoğan.
O Ministério Público informou que o tribunal decidiu prender o prefeito por suspeita de dirigir uma organização criminosa, aceitar subornos, extorsão, registro ilegal de dados pessoais e fraude em concursos. İmamoğlu ficará detido até o resultado de um julgamento por acusações de corrupção.
Colaboração com “terroristas”
Apesar das investigações apontarem para uma possível colaboração de İmamoğlu com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – ilegal e considerado uma organização terrorista pelo governo de Recep Erdoğan – o tribunal rejeitou um pedido de prisão por acusações relacionadas com terrorismo.
Além de İmamoğlu, outras 47 pessoas foram detidas, acusadas no processo. Mesmo com a proibição das manifestações, milhares de pessoas foram às ruas do país protestar. A polícia investiu violentamente contra os manifestantes e centenas de pessoas foram presas.
Em cinco dias, foram registrados protestos de rua em 51 das 88 províncias do país. Os manifestantes pedem a libertação imediata do prefeito e acusam o presidente Recep Erdoğan de ter visado İmamoğlu por razões políticas.
Erdoğan ameaça
O presidente do Partido Republicano do Povo (CHP), Özgür Özel, lançou um apelo para que as pessoas se juntem e se manifestem. Já Erdoğan considerou a atual onda de protestos como “terrorismo de rua”. “Os dias de sair para a rua juntamente com organizações de esquerda e vândalos para apontar o dedo à vontade nacional acabaram”, escreveu na Rede X.
Erdoğan provocou o dirigente do maior partido de oposição: “Özgür Özel não deve procurar longe os ladrões. Eles estão à volta dele”, disse o presidente turco, desafiando o CHP a responder diretamente às alegações do processo contra İmamoğlu, em vez de “incitar ao caos”.
“Àqueles que dizem que convocar as pessoas para as ruas é irresponsável, eu digo o seguinte: não somos nós que estamos a encher estas ruas e praças. São as vossas ilegalidades e injustiças que trouxeram as pessoas para a rua”, respondeu Özel.
Candidatura em risco
A detenção do prefeito de Istambul e pré-candidato à Presidência ocorreu no momento em que o CHP promovia prévias para indicar seu candidato à eleição presidencial de 2028. Cerca de 1,7 milhão de filiados votaram, mas o partido instalou urnas abertas a qualquer eleitor em todo o país. Segundo informações preliminares, cerca de 15 milhões de pessoas teriam participado da consulta popular.
Além do processo e da prisão, İmamoğlu pode ter sua candidatura presidencial impedida. A lei eleitoral na Turquia exige que os candidatos tenham diploma de nível superior. Dias atrás, a Universidade de Istambul anulou o seu diploma, alegando irregularidades na transferência de 1990 de uma universidade privada no norte de Chipre.
Erdoğan está no poder desde o início dos anos 2000. De 2003 a 2014, ocupou o cargo de primeiro-ministro. Em 2014, foi eleito presidente, cargo para o qual foi reeleito por duas vezes.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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