Tremor de terra volta a assustar portugueses

Henrique Acker (correspondente internacional)  –  Um tremor de terra de média proporção foi sentido em Portugal na manhã desta segunda-feira, 26 de agosto, por volta das 5h10, pelo horário de Lisboa. O abalo atingiu 5.3 da escala de Richter (0 a 10), teve seu epicentro no mar, a 58 quilômetros a oeste da cidade de Sines – distrito de Setúbal – a cerca de 16 km de profundidade. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) o tremor não causou danos pessoais ou materiais.

Portugal situa-se numa região de acúmulo e fronteira de placas tectônicas – grandes estruturas rochosas que se movimentam constantemente. O deslocamento dessas placas, que pode acontecer a milhares de quilômetros de profundidade, faz com que o país esteja sujeito a tremores de terra e terremotos, como os que ocorreram em 1755 e 1969.

Apesar da tranquilidade das autoridades, o tremor foi sentido em todo o país. “Recebemos muitas chamadas sobretudo de pessoas que queriam saber o que se passava e o que deviam fazer”, afirmou o comandante José Miranda, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). Ainda foram sentidas “quatro réplicas” de menor efeito, de 1.2, 1.1, 0.9 e 1.0 na escala de Richter.

 

Abalo atingiu 5.3 da escala de Richter (0 a 10) –  (Foto: Reprodução)

 

Autoridades veem normalidade e elogiam serenidade

As reações das autoridades variaram da formalidade ao elogio pela tranquilidade com que a população encarou o abalo sísmico. O Presidente Marcelo Rebelo de Souza negou que tenha havido falhas na comunicação entre a Proteção Civil e a população. Rebelo de Souza assegurou que as autoridades trabalharam com “rapidez e eficiência” no acompanhamento da situação.

De férias, o primeiro-ministro Luis Montenegro, publicou mensagem no X, em que elogiou a serenidade do povo português e prometeu continuar a “trabalhar na prevenção e capacidade de reação para garantir a segurança de todos”.

O primeiro-ministro em exercício, Paulo Rangel, divulgou nota oficial, em que apelou à população para que “mantenha a serenidade e siga as recomendações da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil”. No entanto, a rede de telefonia celular não foi acionada para a comunicação direta com a população.

Num comunicado por volta das 8 horas da manhã, o Comandante Nacional da Proteção Civil, André Fernandes, declarou que apesar de se tratar de “um evento atípico”, tratou-se de um sismo “dentro da normalidade”, sem a necessidade de ativar “planos especiais” de emergência.

 

Prevenção e segurança sísmica

O Prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, parece otimista. Em declaração à TV SIC Notícias ele assegurou que “só dez por cento dos edifícios municipais precisam de reforço anti-sísmico”.

No entanto, em entrevista à Agência de Notícias Lusa, o presidente do colégio de Engenharia Civil da Ordem dos Engenheiros, Humberto Varum, reiterou a necessidade do país começar a preparar um plano nacional de segurança sísmica e defendeu um maior rigor ao longo das fases de projeto, construção ou manutenção das edificações.

Já o comandante dos Bombeiros Jorge Mendes lembrou que “desde 1969 não se sentia nada com esta intensidade”. Mendes considerou o tremor como um aviso que o país continua sujeito a sismos, alertando que “deve criar-se mecanismos preventivos para que não haja consequências”.

 

20 anos de avisos sem respostas

“Os sismos não matam, o que mata são as construções”. Palavras de Mônica Amaral Ferreira, investigadora do Instituto Superior Técnico ao falar sobre a falta de resposta em caso de sismos, tanto nos hospitais, como nas escolas e creches em Portugal, em 10 de outubro de 2023, ao Podcast “O futuro do futuro”, do Jornal Expresso.

Em 20 anos, a comunidade científica alertou vários governos, mas nem sequer o isolamento de base, que reduz a probabilidade de colapso, deverá ser colocado nos novos Hospitais de Évora e Lisboa. Segundo Mônica, a maioria dos quartéis de bombeiros portugueses poderá não abrir as portas depois de um sismo.

“As creches, muitas vezes, funcionam no térreo de prédios de habitação. E estão lá crianças, bebês, que não conseguem fugir ou ter um comportamento de autoproteção”, lembra Mônica Amaral Ferreira.

 

Terremoto de 1755 deixou entre 10 mil e 70 mil mortos e destruiu cerca de 85% das construções de Lisboa – (Foto: Wikimedia Commons)

 

Histórico de tragédias

O último tremor de terra de grande magnitude em Portugal ocorreu em 1969. Alcançou 7,9 na escala de Richter e atingiu sobretudo o Algarve e toda a região sul do país. Causou treze mortes e muitos estragos materiais.

O caso mais grave de terremoto que se tem notícia no país ocorreu em 1 de novembro de 1755, atingindo Lisboa. Calcula-se que o tremor de terra tenha alcançado 8.0 na escala de Richter, provocando incêndios em várias localidades. Logo a seguir, como consequência, um maremoto com ondas que podem ter chegado a 20 metros de altura varreu a cidade.

À época, Lisboa contava com cerca de 200 mil habitantes. A destruição foi tamanha que os historiadores citam um mínimo de 10 mil mortos, mas há quem calcule a morte de 30 mil pessoas. A destruição atingiu três quartos da capital portuguesa.

O evento teve tamanha repercussão que provocou os primeiros estudos que levariam à Sismologia como ciência e aos passos iniciais da engenharia sísmica no Ocidente, com a proposição de medidas preventivas nas cidades em caso de terremotos. (Foto: Reprodução/IPMA)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fonte: 

Observador

Notícias ao Minuto

Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica

Expresso 

BBC News Brasil

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