Por Henrique Acker – Como era de se esperar, as bolsas de valores do mundo inteiro desabaram nesta segunda-feira, 7 de abril, data em que passaram a vigorar as primeiras tarifas a produtos estrangeiros nos EUA, impostas a 80 países pelo governo Trump. As taxas mais elevadas entram em vigor na próxima quarta-feira, 9 de abril.
Os grandes investidores venderam freneticamente ativos de risco, como as ações de empresas negociadas em bolsa, para colocar o dinheiro em opções mais seguras, como o ouro e os títulos do Tesouro americano. Todos temem as consequências da guerra comercial global iniciada por Trump.
Já no sábado, 5 de abril, economistas e agentes do mercado financeiro calcularam que as perdas chegaram a 3 trilhões de dólares nas bolsas S&P 500 e Nasdaq, nos EUA, só nos primeiros dias após o anúncio do tarifaço de Trump. “Esqueçam o mercado por um segundo”, declarou Trump na noite de 6 de abril para minimizar a crise.
Tombo gigantesco na Ásia
A queda desta segunda-feira foi a quarta onda nos mercados financeiros mundo afora nos últimos dias, desde que Trump anunciou o tarifaço. As ações chegaram a registrar taxas de negócios em valores de um ano atrás.
A venda generalizada na Ásia impactou diversos setores, incluindo empresas de tecnologia, fabricantes de automóveis, bancos, cassinos e empresas de energia.
O preço das commodities também foi afetado. As preocupações com a demanda derrubaram o custo do petróleo em mais de 3% nesta segunda-feira, depois de uma baixa de 7% registrada na sexta-feira, 4 de abril.
O cobre – componente vital para o armazenamento de energia, veículos elétricos, painéis solares e turbinas eólicas – também ampliou as perdas.
Perdas na Europa
A situação na Europa não foi diferente. “A fuga continua, com os investidores buscando um abrigo para seu dinheiro em meio à tempestade de tarifas”, observou Susannah Streeter, chefe de finanças e mercados da Hargreaves Lansdown.
Em Paris, os preços das ações da Airbus, fabricante de aviões, da Safran, fabricante de motores, e da Kering, proprietária da Gucci, lideraram as perdas, caindo 10%.
A empresa alemã de armamentos Rheinmetall despencou mais de 13% e o Commerzbank afundou quase 12% em Frankfurt.
O grupo aeroespacial Melrose Industries liderou a lista de perdedores em Londres, com uma queda de cerca de 8,5%.
Aliados preocupados
Mesmo apoiadores de Trump estão preocupados com o “tarifaço”. É o caso do bilionário americano Bill Ackman, fundador e presidente do fundo Pershing Square Capital Management, foi à rede social X na noite de domingo (6) para se manifestar.
“Ao impor tarifas massivas e desproporcionais a nossos amigos e inimigos do mesmo jeito e, assim, lançar uma guerra econômica global contra o mundo inteiro de uma vez, estamos no processo de destruir a confiança em nosso país como parceiro comercial, como um lugar de negócios, como um mercado para investir capital”, observou Ackman.
“Quando os mercados desabam, os novos investimentos cessam, os consumidores param de gastar dinheiro, e empresas não têm escolha a não ser cortar investimentos e demitir trabalhadores. O presidente tem a oportunidade, na segunda (7), de fazer uma pausa de 90 dias, negociar e resolver as tarifas assimétricas injustas. Senão, estaremos rumando para um inverno econômico nuclear autoimposto, e devemos começar a nos preparar para o pior”, alertou o investidor.
Segundo fontes do governo dos EUA, mais de 50 países afetados pelas novas tarifas já teriam entrado em contato para negociar com a Casa Branca. Depois da China, que anunciou os mesmos 34% de taxação aos produtos dos EUA, a União Europeia também se prepara para anunciar medidas em resposta ao tarifaço de Trump.
Milhões de investidores nos EUA perdem
Mais de 158 milhões de adultos americanos investem em bolsas de valores, o que corresponde a 61% da população adulta do país, de acordo com pesquisa Gallup.
A maior parte deles são pequenos investidores, que colocam suas reservas em fundos privados de previdência – visando garantir sua aposentadoria — ou em reservas para financiar os estudos dos filhos ou a compra da casa própria. Foi a eles que Trump prometeu prosperidade e riqueza.
São justamente esses investidores da classe média estadunidense, que fazem parte do eleitorado conservador e de direita, os mais vulneráveis em momentos de queda das bolsas. Caso as perdas continuem, Trump deverá enfrentar uma rápida queda de popularidade.
Cerca de 90% do capital investido em bolsas nos EUA está concentrado entre os mais ricos. Sem falar dos investidores estrangeiros que também operam no mercado financeiro dos EUA.
Nasdaq, NYSE ou CME
A NYSE, ou apenas Bolsa de Nova York, é a maior bolsa de valores do mundo. Fundada em 1792, reunia 2.584 empresas listadas e seu valor chegava a US$ 25,8 trilhões em 2022. Entre elas gigantes mundiais como Coca-Cola e Disney.
A “Nasdaq” é uma das maiores bolsas de valores do mundo, com 3.790 empresas. A Nasdaq ganhou destaque desde a sua criação, em 1971, com a listagem das maiores companhias de tecnologia de ponta, como Apple, Microsoft e Meta.
A terceira bolsa americana é a Chicago Mercantile Exchange (CME), que opera principalmente com commodities, como derivativos de petróleo, metais e grãos. Seu valor de mercado é estimado em US$ 66 bilhões, bem menos que a NYSE. No entanto, a CME reúne um dos ativos mais negociados do mundo: o contrato futuro das 500 maiores empresas do mercado internacional.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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