Uma operação realizada semana passada resultou na prisão de agentes que trabalhavam diretamente para Ramagem
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo da íntegra de um áudio apreendido pela Polícia Federal (PF) no notebook do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) no qual se discute um plano para anular o inquérito das rachadinhas – investigação que fechou o cerco ao senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na reunião, além de Ramagem, Bolsonaro também conversou com o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Junto a advogadas do filho parlamentar, ex-chefe do Executivo sugere falar com o então secretário da Receita Federal, José Tostes, e o então chefe do Serviço de Processamento de Dados do Governo (Serpro).
A gravação foi colhida pela Polícia Federal durante a investigação sobre a “Abin paralela”, que apura uso do órgão para espionagem ilegal durante o governo Bolsonaro. Ela tem 1 hora e 8 minutos e foi feita pelo próprio Ramagem durante encontro com Bolsonaro. Na conversa interceptada, o ex-diretor da Abin propõe abrir procedimentos administrativos contra os auditores fiscais que investigaram Flávio para anular as investigações, e Bolsonaro concorda. A estratégia foi posta em prática, e o processo contra Flávio foi arquivado em 2022.
“Neste áudio é possível identificar a atuação do Alexandre Ramagem indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”, afirma a PF.
As suspeitas envolvendo Flávio Bolsonaro vieram à tona no final de 2018 com a revelação de um relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontando movimentações vultosas de recursos por Fabrício Queiroz, que era funcionário do seu gabinete na Alerj. Queiroz, amigo antigo da família Bolsonaro, é acusado pelo Ministério Público de ser o operador do esquema de rachadinha — ou seja, seria ele o responsável por gerenciar a contratação dos funcionários fantasmas, o recolhimento dos salários e o repasse desses valores ao filho do presidente.
Os promotores afirmam ter provas de que esse dinheiro era usado por Queiroz para pagar na boca do caixa contas da família de Flávio, como boletos do plano de saúde ou da mensalidade escolar das filhas. Além disso, dizem que parte do recurso desviado era lavado por meio do investimento em imóveis e por uma loja de chocolate que o senador possuía em um shopping no Rio de Janeiro. (Foto: Domingos Peixoto)
Confira o áudio na íntegra: audio e texto