Sociedade civil entrega propostas aos presidentes na Cúpula da Amazônia

Hiroshi Bogéa (Belém) – Já quase no final do primeiro dia da Cúpula da Amazônia, por volta das 17 horas desta terça-feira, 8, representantes dos oito países amazônicos receberam seis documentos, a partir de representantes da sociedade civil, com demandas para a região.

Os documentos foram definidos a partir das discussões feitas durante o evento pré-Cúpula – os Diálogos Amazônicos, entre 4 e 6 de agosto em Belém, reunindo quase 30 mil pessoas, entre brasileiros e estrangeiros.

Além de eventos organizados pelo governo com participação da sociedade civil, cerca de 400 eventos foram auto-organizados, ou seja, estruturados espontaneamente pela participação popular.

O compromisso do governo federal é que os documentos sirvam de base para a Declaração de Belém, que tem previsão de ser divulgada ainda nesta terça-feira (8).

Cópias dos documentos entregues foram distribuídas à imprensa.

Confira, a seguir, o resumo das principais propostas da sociedade civil aos presidentes:

 

Proteção dos territórios

Relatório 1: “A participação e a proteção dos territórios, dos ativistas, da sociedade civil e dos povos das florestas e das águas no desenvolvimento sustentável da Amazô- nia. Erradicação do trabalho escravo no território”.

Principais pontos:

  • necessidade do reconhecimento das tecnologias sociais nos territórios, como no campo da economia dos usos sustentáveis e práticas tradicionais, deve ser compreendido como estratégico;
  • urgência da demarcação e a proteção das Terras Indígenas
  • construir processos coletivos de defesa da Amazônia
  • promover a formação de promotores indígenas de Direitos Humanos

 

 

Saúde e segurança alimentar

Relatório 2: “Saúde, soberania e segurança alimentar e nutricional na região amazônica: ações emergenciais e políticas estruturantes”.

 

Principais pontos:

  • implementar política responsável de produção e distribuição de alimentos, considerando diferenças culturais, étnico/raciais e de gênero;
  • avançar na regularização fundiária que garanta os direitos aos territórios das populações indígenas, quilombolas e tradicionais, além dos agricultores familiares;
  • pensar políticas públicas que fortaleçam a produção existente, como também o abastecimento de quem tem tido dificuldade de acesso a alimentação;
  • enfrentar o racismo ambiental também respeitando as estratégias de produção e organização das mulheres, pela potencialização do acesso a terra e a defesa do território.

Preservação 

Relatório 3: “Como pensar a Amazônia para o futuro a partir da ciência, tecnologia, inovação, pesquisa acadêmica e transição energética”.

Principais pontos:

  • avançar na gestão de uma política integrada do solo que seja sensível à água como um dos fatores essenciais à vida e à produção
  • favorecer a mobilização de recursos voltados à produção de ciência, conhecimento e tecnologia a partir da Amazônia e em diálogo com o conhecimento dos povos que aqui vivem
  • países membros da OTCA devem assumir o compromisso de preservar ao menos 80% da Amazônia até 2025
  • eliminar a mineração ilegal e o uso de mercúrio até 2027
  • proibir a mineração de ouro na Amazônia
  • fechar os mercados ilegais de mercúrio, ouro e outros produtos

 

Mudança dos clima e agroecologia

Relatório 4: “Mudança do clima, agroecologia e as sociobioeconomias da Amazônia: manejo sustentável e os novos modelos de produção para o desenvolvimento regional”

Principais pontos:

  • declarar emergência climática na Pan-Amazônia e construir um Plano Estratégico Regional de Ação Emergencial para a Amazônia.
  • adotar medidas urgentes para a preservação e o equilíbrio da floresta, evitando o ponto de não-retorno e garantir a preservação de pelo menos 80% do bioma até 2025
  • construir um plano de eliminação do desmatamento ilegal, degradação e contaminação até 2025, e de um plano similar para o desmatamento legal até 2027
  • recuperar as florestas degradadas com sistemas agroflorestais, com predominância de espécies amazônicas
  • investir na restauração florestal (biocultural) considerado seus agentes sociais no território
  • promover integração e sinergia entre as unidades de conservação existentes.
  • desenvolver acordos de cooperação e ações transfronteiriças de combate às práticas predatórias que contribuem para a expansão dos incêndios, do desmatamento e da contaminação.

 

Relatório 5: “Os povos indígenas das Amazônias: um novo projeto inclusivo para a região”.

Principais pontos:

  • rejeição da tese do marco temporal e consolidação de salva guardas jurídicas para que novas propostas dessa natureza não possam ser retomadas
  • políticas públicas de saúde e educação escolar intercultural e de qualidade
  • revisão de legislações que contemplem os indígenas que vivem em contextos urbanos, no que tange às políticas educacionais, culturais e de saúde específicas
  • políticas de valorização e fortalecimento das línguas indígenas, com a cooficialização das línguas indígenas
  • criação de universidades Indígenas, bem como incorporação de ciência e história indígena nos currículos universitários
  • demarcação de todos os territórios indígenas e titulação dos territórios quilombolas reivindicados até 2025

Racismo

Relatório 6: Amazônias Negras: Racismo Ambiental, Povos e Comunidades Tradicionais

 

Principais pontos:

  • promover economia produtiva para combater a desigualdade e a pobreza entre a população afro que ocupa os países da região amazônica
  • enfrentar, em conjunto com as comunidades afrodescendentes, os desafios de construir diplomacia real e concreta para promover interesses e direitos
  • assumir o enfrentamento ao racismo ambiental como tema central na Cúpula da Amazônia e na Cop 30
  • criar Comitê de Monitoramento da Amazônia Negra para, entre outros pontos, debater encarceramento da juventude negra e incentivar as ações antirracistas em instituições de ensino
  • ampliar políticas de promoção da igualdade racial
  • titular comunidades quilombolas.

 

Na imagem, representantes da sociedade civil entregam documentos aos chefes de Estado.

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