Síria cai nas mãos de grupos islâmicos ortodoxos

Henrique Acker  –     O chamado “Eixo da Resistência”, formado por Irã, Iraque, Síria e Líbano, sofreu duro golpe no Oriente Médio com a queda do governo de Bashar al-Assad, na Síria. A derrota de seu aliado pode isolar o Irã na região, ainda mais depois do enfraquecimento político e militar do Hamas, em Gaza, e do Hezbollah, no Líbano.

Uma constelação de grupos armados islâmicos ortodoxos, sob a hegemonia do Hayat Tahrir al-Sham – HTS (ex-Al-Nusra, braço da Al-Qaeda), tomou o poder em menos de duas semanas de combates contra o regime sírio.

Apesar de ser encarado como um líder radical “pragmático”, na primeira declaração pública ao país, Abu Mohammed Al-Jawlani disse que a queda de Assad foi “uma vitória para a nação islâmica”. Em outras ocasiões, Jawlani afirmou que o objetivo de seu grupo era “libertar a Síria da repressão”.

 

Ofensiva organizada

A ofensiva militar a partir da cidade de Idlib – controlada pelo HTS – já estava preparada, mas foi contida durante o tempo em que o presidente turco, Recep Erdogan, tentou negociar com Damasco uma solução política para o conflito.

No entanto, Assad negou-se a admitir a presença de tropas turcas no norte do seu país, como condição para controlar a zona hoje ocupada pelos curdos, combatidos pelo governo da Turquia.

Como resultado do enfraquecimento do governo de Assad desde a ofensiva dos grupos sunitas jihadistas sobre Damasco, a Turquia já avançou suas tropas dentro do território sírio, em áreas controladas pelos curdos ao norte.

Abu Mohammed Al-Jawlani

Aliados não sustentaram Assad

A Rússia, tradicional aliada do governo sírio, ainda opôs resistência aérea contra as milícias nos primeiros dias do conflito. No entanto, ao perceber que o regime de Assad não teria forças para enfrentar os grupos armados salafistas, passou a negociar com a oposição a preservação de suas duas bases militares no litoral da Síria, no Mar Mediterrâneo.

O próprio governo iraniano não investiu no envio de tropas e no enfrentamento armado contra os grupos da oposição dentro do território sírio. Ainda mais porque, depois da queda da cidade de Aleppo, o governo sírio orientou seu exército a baixar as armas. Em junho, o governo do Irã já havia alertado Assad para uma possível ofensiva militar da oposição.

Em maio de 2023, a Síria foi reintegrada na Liga Árabe e tentou uma aproximação com a Arábia Saudita e o Qatar, afastando-se do apoio incondicional que dava até então aos palestinos.

 

Biden e Netanyahu

Em pronunciamento, o presidente Joe Biden saudou a queda de Assad, mas fez a ressalva de que os EUA estão vigilantes, diante das desconfianças que existem sobre o futuro do país. Washington quer um diálogo com todos os grupos políticos e religiosos para uma transição negociada do poder.

O receio de Washington é que, dado as características heterogêneas da população e dos grupos de oposição, a Síria passe por uma situação semelhante à da Líbia, com lutas internas e dois governos disputando o comando do país.

Por sua vez, aproveitando o cessar-fogo que vigora atualmente no Líbano, o governo de Israel tratou de avançar suas tropas sobre a fronteira e bombardeou cerca de 100 alvos na Síria.

Terroristas ou “rebeldes”?

A Síria está localizada entre a Turquia (ao norte), o Iraque (a leste) e a Jordânia (ao sul). Seu território faz fronteira oeste com o Líbano e é banhado pelo Mar Mediterrâneo.

O país possui uma população total de cerca de 30 milhões de pessoas e é o lar de diversos grupos étnicos e religiosos, inclusive árabes, gregos, armênios, assírios, curdos, circassianos, mandeus e turcos.

Desde março de 2011, quando começou a guerra civil no país, cerca de seis e meio milhões de sírios buscaram refúgio no exterior. Os grupos religiosos incluem sunitas, cristãos, alauitas, drusos, mandeus e iazidis. Os árabes sunitas são a maior comunidade religiosa, cerca de 30% da população do país.

Até o início da ofensiva, há menos de duas semanas, os saladistas do HTS eram tratados como “terroristas” pela mídia empresarial do Ocidente. Agora são denominados de “rebeldes”. O HTS também é designado como uma organização terrorista pela ONU, EUA, Turquia e outros países.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

 

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