Sérgio Tavares, jornalista ou influenciador digital da extrema-direita?

Henrique Acker (correspondente internacional)  – Afinal, quem é e o que faz Sérgio Tavares, o português que viajou ao Brasil alegando que  trabalharia como fotógrafo na manifestação de 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro?

Qualquer pessoa de bom-senso que abra os programas publicados por Tavares em seu canal no Youtube, é capaz de perceber uma coincidência: só há entrevistas com personagens da extrema-direita. Uma das mais recentes foi, justamente, com Bolsonaro (3/2/2024 ).

 

Sem visto de trabalho

O português disse ter sido surpreendido pelo procedimento da Polícia Federal, que o levou para prestar esclarecimentos nas instalações do Aeroporto de Guarulhos (São Paulo), onde desembarcou no mesmo dia da manifestação bolsonarista.

Tavares alega que os policiais o interrogaram sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 e o regime político brasileiro, que ele qualifica de “ditadura do Judiciário”. Em comunicado sobre o caso, a PF afirma que “tal indivíduo teria publicado em suas redes sociais que viria ao país para fazer a cobertura fotográfica de um evento. Todavia, para isso, é necessário um visto de trabalho, o que ele não apresentou.”

“Vale ressaltar que as mesmas medidas são adotadas por padrão na grande maioria dos aeroportos internacionais”, conclui a nota da PF.

 

Viagem com despesas pagas

Tavares nunca foi jornalista profissional, apesar dos canais e meios de comunicação bolsonaristas no Brasil insistirem em o classificar como tal. A esse respeito, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), órgão responsável pelo registro dos profissionais de imprensa que trabalham em Portugal, informa que “nunca emitiu nenhum título de acreditação profissional a Sérgio Tavares.”

Ele alega que trabalhou como correspondente para uma emissora de rádio portuguesa em Timor-Leste, em 2004. No entanto, não se conhece a legislação de Timor para atestar se naquele país a qualificação profissional de jornalista é exigida para o exercício da função.

Outros detalhes importantes cercam a presença relâmpago de Tavares no Brasil. Em conversa no canal de Youtube de Tiago Pavinatto (28/2/2024), o radialista e conhecido bolsonarista Alexandre Pitolli, da Rádio Auriverde de Bauru -SP, contou que lançou uma campanha de doações para pagar os custos do deslocamento de Tavares ao país.

 

“Vaquinha”, isenção profissional e desabafo

A “vaquinha” citada por Pitolli é mais uma diferença da atividade de um jornalista profissional para um influenciador digital. Em respeito à ética profissional, nenhum jornalista aceitaria fazer uma cobertura isenta de uma manifestação política com as despesas pagas pelos próprios promotores do evento, o que comprometeria seu trabalho.

Chamado ao carro-de-som na Avenida Paulista para dar seu testemunho sobre o que se passou na PF, Sérgio Tavares fez as seguintes afirmações: “Eu vou garantir que a Europa e o mundo vão saber a verdade sobre o Brasil. O mundo vai saber que vocês precisam da liberdade. Não pode ter censura. Não pode haver perseguição. Não podem obrigar bebês a serem vacinados. Essa imagem vai correr a Europa toda, o mundo todo”.

Em tom de desabafo, Tavares ainda publicou mensagens no seu Twitter (Rede X): “Sou mais jornalista do qualquer um desses corruptos “encarteirados”, porque não sirvo interesses, nem agendas. A minha missão é a VERDADE (postado em 29/2/2024).”

 

Ofensas a colega da RTP

Em setembro do ano passado, Sérgio Tavares foi o estopim de um episódio lamentável, quando ofendeu profissionais da Rádio e Televisão Portuguesa (RTP), chamando a jornalista Helena Correia de “vadia”. O fato ocorreu durante a cobertura da ação de campanha eleitoral do partido Chega (extrema-direita), em Funchal, na Ilha da Madeira, e foi denunciado pela direção regional do Sindicato dos Jornalistas.

Algo semelhante ocorreu nos EUA, em 2022, com o influenciador digital bolsonarista Allan dos Santos (*). Na porta de um prédio onde era realizado um evento dirigido a empresários brasileiros, em Nova Iorque, Santos interpelou um homem, perguntando se o Brasil estaria vivendo uma tirania, referindo-se ao STF.

Como o cidadão se recusou a responder, Allan dos Santos o perseguiu aos gritos: “Responde o que estou perguntando, rapaz, seja homem. Não responde, fica calado, seu covarde. Fica calado, seu covarde, seu merda”.

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(*) Allan dos Santos afirma ser jornalista, mas também não tem formação profissional nem diploma. Tem contra si um mandado de prisão no Brasil, vive nos EUA desde 2022 e é uma das figuras centrais do inquérito sobre a difusão de notícias falsas durante o governo Bolsonaro. O STF despachou pedido de extradição de Santos, mas até agora as autoridades estadunidenses não acataram a solicitação.  (Foto: Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

https://www.ccpj.pt/pt/deliberacoes/comunicados/a-ccpj-esclarece-que-sergio-tavares-nao-e-jornalista/

https://www.poder360.com.br/seguranca-publica/pf-diz-que-jornalista-portugues-passou-por-protocolo-regular/

https://www.youtube.com/watch?v=9i-90FfiFVM

https://funchalnoticias.net/2023/09/15/sindicato-dos-jornalistas-fala-de-insultos-durante-campanha-do-chega/

https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/10/21/quem-e-allan-dos-santos-e-quais-sao-as-acusacoes-contra-o-blogueiro-bolsonarista.ghtml

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/congresso-nacional/mensagens-apontam-que-hang-financiou-blogueiro-bolsonarista-allan-dos-santos/

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/11/5051983-allan-dos-santos-se-confunde-e-discute-com-brasileiro-em-ny-covarde.html

 

 

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