Publicado originalmente no jornal O Liberal, artigo assinado pelo senador Beto Faro, e reproduzido abaixo, aborda a agenda do presidente Lula no combate à carestia da comida.
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Lula no Combate à Inflação da Comida
Beto Faro
Os leitores de O LIBERAL que eventualmente acompanham este espaço são testemunhas que por várias vezes pautamos o tema da inflação dos alimentos. Inclusive, há duas semanas retornamos ao assunto para comentar a inflação de 2024, com ênfase na análise do IPCA da alimentação no domicílio, em razão dos seus impactos, em especial, sobre as populações mais pobres.
As preocupações com os efeitos socioeconômicos e políticos desse fenômeno, nos levam a receber com entusiasmo a iniciativa do presidente Lula de se envolver diretamente nesse enfrentamento. Fique claro que estamos tratando de pressões de preços que não são de agora; se arrastam por longo tempo e, conforme especificamos no artigo anterior sobre a matéria, resultam de uma conjugação de fatores que se diferenciam conforme o grupo de alimentos.
Durante a pandemia, por conta da similitude de comportamentos sociais, a inflação do alimento adquiriu significativa dispersão no mundo. Na atualidade não é bem assim. No Brasil, a despeito de fatores fortuitos e outros, a inflação da comida se explica, sobretudo, por uma somatória de fatores relacionados às nossas opções políticas internas.
De acordo com a trading economics, em 2024, entre 172 países o Brasil, país com inflação geral controlada, e gigante na exportação de (alguns) alimentos, apresentou taxa de inflação da comida (7.6%) superior às de 141 países.
Na verdade, quando consideramos a inflação da “alimentação no domicílio”, tivemos taxa ainda maior (8.2%) fato que rebaixa ainda mais a posição do Brasil nesse ranking. A inflação da comida na União Europeia foi de 2.5%; nos EUA, de 2.4%; na China, 1%; Japão, 4.8%; Chile, 5%…..A Argentina de Milei, com mais de 50% da população em situação de pobreza, foi a campeã mundial da inflação da comida (147%).
Vale lembrar entre os 30 produtos com as maiores altas nos respectivos preços no Brasil em 2024, somente 4 não são alimentos.
Chama a atenção, também, que no rol dos alimentos com as maiores taxas de inflação em 2024, constam produtos dos quais somos líderes na produção e exportação mundiais. São os casos do café, cuja inflação no ano foi de 39.6%; do óleo de soja com IPCA de 29.2%, além de vários tipos de carnes que apresentaram explosão nos preços em 2024, a exemplo do acém (25.2%); patinho (24.1%); pá (22.9%); lagarto (22.8%); etc.
Estamos na torcida para que das reuniões no Planalto resultem medidas capazes de reverter definitivamente esse quadro angustiante para a nossa população, ruim para a economia, e que mexe fundo com a sensibilidade do presidente e do governo como um todo.
Porém, é importante que haja convergência nos diagnósticos entre as várias áreas do governo. Há quem ainda acredite que não temos problemas na oferta, o que é uma avaliação pertinente para produtos nobres do agronegócio exportador.
Quando analisamos os casos de alimentos como o arroz, por exemplo, constatamos que em 1987 produzíamos quase 12 milhões de toneladas do produto para uma população de 139 milhões de habitantes. Em 2024 produzimos 10.5 milhões de toneladas para uma população de 212 milhões de toneladas. Ou seja, nesse período, a produção per capita de arroz caiu de 86.3 kg/pessoa, para 49.5 kg/pessoa.
Com o feijão não foi diferente a redução importante na produção per capita. Será que a diversificação e mudanças nos nossos hábitos ocorreram ao ponto de levar a população a abominar o consumo do feijão com arroz e a consumir miojo e outros ultraprocessados? Absolutamente nada colabora com essa tese. Claro que temos problemas efetivos na oferta! Então, é crucial a convergência em diagnósticos corretos para aplacarmos as angústias das populações mais vulneráveis.
Não podemos permitir que o custo da comida neutralize as conquistas de renda dessa população no nosso governo.