Senado homenageia a Marcha das Margaridas

Ministros e parlamentares participaram da sessão solene

 

Como parte da programação da Marcha das Margaridas em Brasília, o Senado Federal promoveu nesta terça-feira (15) uma homenagem a maior ação política de mulheres da América Latina com protagonismo das mulheres do campo, da floresta e das águas. O plenário do Senado ficou lotado com a participação de ministro do governo, congressistas e centenas de mulheres participantes da sétima edição da marcha. A sessão extraordinária foi requerida e presidida pelo senador Beto Faro (PT-PA) que discursou sobre dupla jornada feminina e direitos fundamentais.

“Não deveria ser assim, mas, segurança alimentar, moradia renda, uma vida sem violências, ainda são privilégios de uma minoria, apesar de compor direitos universais previstos na Constituição Federal. A responsabilidade de mudar esse cenário é de todos os brasileiros e brasileiras, mas principalmente de nós, representantes eleitos pelo voto direto da população”, afirmou o parlamentar.

O senador destacou que a homenagem se mostrava como uma oportunidade única de celebrar a valentia e a grandeza das mulheres brasileiras. Ele defendeu a igualdade entre os gêneros e criticou a cultura do patriarcado. Segundo o senador, a homenagem também é uma oportunidade de alertar para as dificuldades e para as situações de desigualdade que atingem as mulheres, principalmente as trabalhadoras rurais.

Faro ainda ressaltou algumas das bandeiras da 7ª Marcha das Margaridas: democracia participativa, soberania popular, autonomia das mulheres, acesso à terra, foco na biodiversidade, mais participação feminina na política, universalização da internet e uma vida livre de violência, de racismo e sexismo. “Hoje, celebramos a esperança e a fraternidade. Lutamos por justiça com a certeza de que seremos ouvidos, pois juntos somos mais fortes”, concluiu o paraense.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, ressaltou que a participação feminina foi essencial para a eleição do presidente Lula. Segundo Teixeira, o governo vê a pauta feminina como prioritária. Ele citou algumas ações do governo em prol das mulheres, como a criação do Pronaf Mulher (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), lembrando que a presença feminina é acentuada dentro da agricultura familiar. “O importante é continuar a marcha, a marcha para mudar o Brasil e para construir um bem viver. A revolução é ecológica e feminina”, definiu o ministro.

Já a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, assinalou que a marcha é um movimento legítimo de reinvindicação. A ministra destacou a Lei da Igualdade Salarial (Lei 14.611, de 2023), sancionada no início do mês passado, como uma forma de fazer valer a luta pela igualdade. Segundo a ministra, as mulheres marcham há décadas pela liberdade e contra a cultura do estupro e da violência. Ela prometeu “caminhar junto” com as trabalhadoras rurais e implementar políticas públicas voltadas para as mulheres. “Precisamos tirar o ódio que colocaram neste país. Precisamos de paz neste país. Precisamos de um país que respeite as mulheres e que saiba dialogar”, pediu a ministra.

Na tribuna do Senado, a coordenadora-geral da Marcha das Margaridas e secretária nacional de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a piauiense Mazé Morais, agradeceu a homenagem e comparou o plenário da casa a um jardim florido de margaridas. Mazé lamentou que poucas vezes espaços como o do Congresso Nacional recebem as mulheres, em especial, as negras e pobres, e por isso, a data de hoje foi celebrada por ela.

“Marchamos por democracia, soberania popular, poder e participação política das mulheres. Não somos apenas milhares de mulheres em Brasília, mas milhões de mulheres no Brasil que lutam pela reconstrução do país e pelo bem viver. Por isso, valorizamos esse espaço no qual estamos sendo recebidas agora. Nele queremos afirmar que somos solidárias às companheiras [parlamentares] que enfrentam constantemente a tentativa de silenciamento e de intimidação, como forma de violência, porém, não se cala e nem foge da luta, como disse Margarida Alves”, enfatizou a coordenadora.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) lembrou que a igualdade entre homens e mulheres é prevista na Constituição de 1988. Ele disse que, a exemplo do pastor e ativista norte-americano Martin Luther King, tem o sonho de nenhum brasileiro ser julgado pelo gênero, pela cor da pele ou por sua orientação sexual. “Tenho fé em Deus de que um dia vou subir na Tribuna e afirmar que tenho orgulho de ser brasileiro. Pois no país que eu ajudei a construir todos somos iguais perante a lei”, argumentou Contarato.

Em discurso, a representante da Marcha Mundial de Mulheres, Sônia Maria Coelho Gomes Orellana, alertou que a reconstrução do Brasil passa por colocar a sustentabilidade da vida no centro da política. Sônia considera a mobilização social fundamental para conquistar avanços. “Não vamos reconstruir esse país se não tiver democracia, a mobilização social e, principalmente, a participação e o protagonismo das mulheres negras, das mulheres do campo da floresta e das águas”. Na mesma linha, a coordenadora do Greenpeace Brasil, Luiza Lima, criticou iniciativas legislativas que liberam o uso de mais agrotóxicos e afirmou que a agenda ambiental não pode ser dissociada da agricultura familiar.

O senador Paulo Paim (PT-RS) ressaltou a presença de mulheres de todas as regiões do país, que vieram a Brasília para fazer uma “linda caminhada” em busca de direitos. O senador anunciou que o projeto que inclui a agricultora Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (PLC 63/2018) será votado no Plenário nesta terça ou quarta-feira (16). Margarida Alves é quem dá nome à marcha. Paim também defendeu a igualdade entre homens e mulheres e disse que a equidade de salários deveria ser natural.

Também participaram da homenagem as senadoras Augusta Brito (PT-CE), Zenaide Maia (PSD-RN) e Leila Barros (PDT-DF); os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Humberto Costa (PT-PE), Rogério Carvalho (PT-SE), Sergio Petecão (PSD-AC), Otto Alencar (PSD-BA) e Weverton (PDT-MA) e os deputados José Guimarães (PT-CE), Guilherme Boulos (Psol-SP), Dilvanda Faro (PT-PA), Maria do Rosário (PT-RS), Juliana Cardoso (PT-SP), Erika Kokay (PT-DF), Célia Xakriabá (Psol-MG) e Alice Portugal (PCdoB-BA), entre outros parlamentares. Deputadas estaduais, vereadores, trabalhadoras rurais, representantes de entidades ligadas ao campo e às mulheres também acompanharam a sessão especial.

Após a sessão solene no Congresso, as margaridas retornaram ao Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília. A programação em curso conta com diversas atividades, como oficinas temáticas, painéis e rodas de conversa, entre outras. A população de Brasília pode participar.

A 7ª Marcha das Margaridas começou nesta terça e termina nesta quarta-feira (16), em Brasília. O tema deste ano é “Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”. O movimento, que surgiu no ano 2000, reúne mulheres trabalhadoras rurais do campo e da floresta em busca de visibilidade, reconhecimento social e político e cidadania plena. A marcha é feita a cada quatro anos em agosto, mês da morte da sindicalista e agricultora Margarida Alves, assassinada na frente de sua família em 1983. A estimativa é que a marcha mais recente, em 2019, tenha reunido cerca de 100 mil mulheres em Brasília. O número esperado para este ano é de 150 mil participantes.

(Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

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