Ex-deputado está preso desde outubro de 2022. Esse foi o primeiro depoimento em ação que responde por tentativa de homicídio contra quatro agentes da PF.
Em depoimento na Justiça Federal, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) admitiu, nesta sexta-feira (26), que atirou cerca de 50 vezes e que arremessou três granadas de luz e som contra os quatro policiais federais que foram prendê-lo em 23 de outubro do ano passado. O ex-parlamentar disse ainda que não teve a intenção de matá-los. Na ocasião, dois agentes da Polícia Federal (PF) tiveram ferimentos leves.
Jefferson se mostrou arrependido e pediu desculpas aos policiais que foram à casa dele para cumprir uma ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi interrogado por cerca de duas horas na Justiça Federal de Três Rios (RJ). Roberto Jefferson é acusado de tentativa de homicídio contra os quatro agentes federais, além de resistência qualificada, posse ilegal de arma e de três granadas adulteradas.
“Eu estava no meu quarto no celular quando vi os policiais chegarem pela câmera de monitoramento. Peguei a carabina que fica do lado da minha cama e a bolsa com os três artefatos. Fui pra varanda. Eles disseram que foram me prender e fazer busca na minha casa. Eu disse que não ia, que estava sendo perseguido pelo Alexandre de Moraes, e falei pra eles [policiais] saírem de lá. Um policial pulou o portão”, disse Jefferson, completando que na sequencia mostrou a bomba de luz para os policiais. “Aí eles correram, se abrigaram. E eu só lancei depois. Depois eu disparei no pára-brisa, na capota, no giroflex. Dei uns 45, 50 tiros.”
Apesar do ataque, o ex-deputado ressaltou que teve a preocupação de não atirar na direção dos agentes policiais. “Eles não tinham colete [à prova de balas], por isso eu tive cuidado. Mirei todos os tiros na viatura”, se defendeu. Quando questionado pelo Ministério Público Federal (MPF) por que tinha granadas de luz e som com pregos presos com fita adesiva, Jefferson disse que apenas uma das três tinha sido alterada, e que o correto era chamar os explosivos de bombas de luz e som (por causa do seu efeito moral) em vez de granadas.
“Depois que eu tive o mandato de deputado federal cassado no escândalo do mensalão, passei a ser muito hostilizado nas ruas, nos aeroportos. Decidi comprar as bombas de luz e som para usar em caso de necessidade. E coloquei pregos numa delas porque recentemente carros com vidros escuros passaram a circular perto da minha casa, e estranhos começaram a perguntar na cidade [Levy Gasparian] sobre a minha rotina. Fiz isso para me defender”, respondeu. “Hoje eu não repetiria. Estou preso, afastado da minha casa, da mulher que eu amo”, complementou.
Perícia
A Justiça Federal também ouviu na tarde desta sexta-feira o depoimento de Jeferson Evangelista Corrêa, perito criminal aposentado da Polícia Federal. Ele disse que a cena do crime foi alterada antes da perícia de local da Polícia Federal. “A cena perdeu vestígios até que a perícia fosse feita. O isolamento da área foi precário. Isso torna o laudo vulnerável”, afirmou. “As lesões nos policiais foram leves. Foram atingidos por estilhaços de alguma coisa. Não foram tiros de fuzil direcionados a eles”.
A juíza federal Abby Ilharco Magalhães abriu prazo para alegações finais do MPF e da defesa. Em seguida, ela vai decidir se Jefferson vai a júri popular. (Foto: Imagem: Reprodução/GloboNews)