Rio Negro atinge menor nível em 121 anos

O Serviço Geológico do Brasil alerta que os impactos da seca devem ser sentidos até o próximo ano e afetam diretamente as populações ribeirinhas e a economia regional

 

Nesta segunda-feira (16), o Rio Negro, do Amazonas, registrou o nível mais baixo de toda a sua história contabilizada. Segundo dados do Porto de Manaus, o rio, que é o sétimo maior do mundo em volume de água, estava com uma vazante de somente 13,59 metros. Essa é o menor registro desde 1902, quando as medições começaram a ser realizadas. O menor registro desde então tinha sido captado em 24 de outubro de 2010. O estado passa por uma seca histórica, com impacto na distribuição de alimentos e água. Além da estiagem, Amazonas também vive uma onda de queimadas.

Na Marina do Davi, por exemplo, onde as embarcações partem para as praias do rio e para as comunidades ribeirinhas, a situação é de desolação. As embarcações flutuantes, que antes eram utilizadas para venda de passagens e embarque de passageiros, estão agora ilhadas e inutilizáveis. Além disso, outras embarcações estão encalhadas na lama. Para chegar ao rio, é necessário caminhar por passarelas de madeira improvisadas, onde antes havia apenas água.

Nas comunidades e praias, os relatos são de isolamento, lama e escassez de recursos. Essa seca também tem sido observada em outros pontos da Amazônia. No médio Solimões, os igarapés secaram completamente, obrigando os ribeirinhos a percorrerem quilômetros em busca de água potável nas torneiras de Tefé (AM). Nas proximidades das Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho, também em Tefé, o rio Solimões se transformou em um deserto, com bancos de areia que parecem infinitos. Os indígenas relatam dificuldades para escoar suas produções, e o consumo de água parada em igarapés tem causado problemas de saúde.

O Serviço Geológico do Brasil alerta que os impactos da seca devem ser sentidos até o próximo ano. “Os níveis dos rios muito baixos e consequentemente suas vazões reduzidas tem potencial de gerar diversos impactos na região, por exemplo sobre: abastecimento; navegação; estabilidade geológica local, em razão dos fenômenos de terras caídas ocasionados pela diminuição muito rápida dos níveis de águas; e processos ecológicos, levando à mortandade de peixes em razão do reduzido espaço para circulação, elevação da carga orgânica e também das temperaturas das águas”, diz a empresa governamental, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Ainda segundo o órgão, esses impactos afetam diretamente as populações ribeirinhas e a economia regional. O governo do Amazonas tem adotado uma série de ações emergenciais para acolher a população e minimizar os danos. Entre as providências já adotadas pela Defesa Civil do estado estão a capacitação de agentes municipais e estaduais, entrega de purificadores coletivos de água, emissão de alertas e orientações para a população e demais entes públicos.

O governo também distribui kits de higiene pessoal, hipoclorito de sódio, além de renegociar dívidas e fomentar os produtores rurais que serão afetados pela estiagem.  Um dos fatores que contribuem para a chegada da seca histórica é o fenômeno climático El Niño, que inibe formação de nuvens de chuva, fazendo com que a estiagem deste ano seja prolongada e mais intensa, se comparada a anos anteriores.

(Foto: Bruno Kelly/Reuters)

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