Regulamentação da Inteligência Artificial distancia Europa dos EUA

Por Henrique Acker  –   Líderes políticos, executivos da indústria tecnológica e cientistas reuniram-se em Paris nos dias 10 e 11 de fevereiro numa conferência destinada a debater o impacto da Inteligência Artificial (IA) na segurança, economia e governança mundiais.

O evento foi utilizado como plataforma para lançar uma parceria de “interesse público” denominada “Current AI”, com um investimento inicial de 387 milhões de euros (400 milhões de dólares).

A iniciativa visa angariar 2,5 bilhões de dólares nos próximos cinco anos e envolverá governos, empresas e grupos filantrópicos que fornecerão acesso de código aberto a bases de dados, software e outras ferramentas a atores de IA “confiáveis”, de acordo com o gabinete de Macron.

O presidente francês, Emmanuel Macron, aproveitou a ocasião e anunciou na véspera da abertura da Conferência um plano de investimento de 109 bilhões de euros para projetos de IA em seu país nos próximos anos.

 

UE anuncia investimentos em IA

 

A União Europeia vai canalizar 200 bilhões de euros para investimentos em IA, anunciou a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen. É uma tentativa de recuperar o atraso em relação aos ecossistemas tecnológicos dos EUA e da China.

Deste montante, 20 bilhões de euros serão destinados a mega fábricas de IA – algo que, segundo a Comissão, é necessário para permitir o “desenvolvimento colaborativo” dos modelos de IA mais complexos.

“Ouvi dizer que a Europa está atrasada em relação aos Estados Unidos e à China, que já se adiantaram. Discordo, porque a corrida à IA está longe de ter terminado”, disse Úrsula Von Der Leyen durante o encerramento da Conferência de Paris, em 11 de fevereiro.

A UE foi uma das primeiras potências mundiais a consagrar regulamentos abrangentes em matéria de IA, como o Regulamento de Inteligência Artificial (*).

 

EUA contra “regulamentação excessiva”

Presente na Conferência, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, alertou contra a “regulamentação excessiva” da inteligência artificial, advertindo tanto os aliados europeus quanto os rivais presentes à Conferência de Paris, como a China, contra o aperto governamental.

“A regulamentação excessiva do setor de IA pode matar um segmento transformador no momento em que ele está decolando”, disse Vance a líderes globais, chefes da indústria de tecnologia e formuladores de políticas.

“A administração Trump está preocupada com os relatórios de que alguns governos estrangeiros estão considerando apertar a vigilância às empresas de tecnologia dos EUA com presença internacional”, disse Vance, acrescentando: “A América não pode e não vai aceitar isso, e achamos que é um erro terrível, não apenas para os Estados Unidos da América, mas para os vossos próprios países”.

 

China quer IA sem barreiras ideológicas

Em Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Guo Jiakun, manifestou a oposição a quaisquer medidas para restringir o acesso a ferramentas de IA, especialmente depois do lançamento da DeepSeek ter suscitado apelos no Congresso dos EUA para limitar a sua utilização por razões de segurança.

“Opomo-nos a traçar linhas ideológicas e a alargar excessivamente os conceitos de segurança nacional e a politizar questões econômicas e comerciais”, referiu Guo.

O Governo dos Países Baixos proibiu os funcionários públicos de utilizarem a aplicação chinesa de inteligência artificial, sob a alegação de risco de espionagem. Nos EUA, funcionários do Estado de Nova York também foram proibidos de usar o DeepSeek em dispositivos do governo.

 

EUA e Reino Unido não assinaram documento

O documento final da Conferência compromete-se com a promoção da “acessibilidade da IA para reduzir as divisões digitais” e “garantir que a IA seja aberta, inclusiva, transparente, ética, segura, protegida e confiável”.

A declaração, aprovada sem apoio dos EUA e do governo do Reino Unido, apela também a “tornar a IA sustentável para as pessoas e para o planeta” e a proteger “os direitos humanos, a igualdade de gênero, a diversidade linguística, os direitos dos consumidores e a propriedade intelectual”.

Numa atitude considerada surpreendente por analistas ocidentais, a China – criticada em matéria de direitos humanos – assinou a declaração, aumentando ainda mais a distância entre os EUA e o resto do mundo na luta pela supremacia da Inteligência Artificial.

 

IA no campo militar

 

O presidente francês Emmanuel Macron tem instado a França e a UE a intensificarem os seus esforços em matéria de IA, especialmente no domínio da defesa. No entanto, um dos principais obstáculos a uma maior cooperação da UE são os dados.

Para serem eficazes, os algoritmos requerem conjuntos de dados de diferentes tipos, alguns dos quais muitos produtores de armas não estão convencidos a partilhar.

“Há provavelmente uma dificuldade, mas não é só na França ou na Europa”, disse Christophe Meyer, especialista em IA e diretor de tecnologia da cortAIx Labs. “É o acesso aos dados, porque estamos a lidar com dados sigilosos, dados muito, muito, muito complicados”.

“A capacidade de adaptação ao curso de ação de um inimigo é realmente importante. Vemos isso na Ucrânia. Por isso, é uma questão de vida ou morte. Se não nos adaptarmos rapidamente a esta escala, morremos”, disse o comandante supremo da OTAN para a transformação, Pierre Vandier.

Na segunda-feira (10 de fevereiro), a Helsing, empresa alemã especializada em defesa, associou-se à Mistral AI, uma start-up francesa de IA generativa, para desenvolver sistemas de IA de próxima geração para a defesa da UE.

 

Por Henrique Acker  (correspondente internacional)

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Fontes:

AQUI     AQUI     AQUI     AQUI

Regulamento sobre Inteligência Artificial da UE

 

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