Desafetos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, trocaram um breve e tímido aperto de mãos nesta quarta-feira, durante a festa de aniversário do deputado Elmar Nascimento (União-BA). O reencontro entre o articulador do governo Lula e o chefe da Casa Legislativa despertou as atenções da noite e gerou burburinho entre os convidados.
Ao som do Timbalada, numa mansão em área nobre de Brasília, e com a presença de 12 ministros, além de outros nomes influentes em Brasília, o festejo foi organizado por aliados de Elmar, que buscam cacifar a candidatura do baiano à presidência da Câmara. Ele é o nome favorito do atual presidente da Câmara, Arthur Lira, para a sua sucessão, em fevereiro de 2025.
‘Centralizador’
Lira e Padilha acumulam atritos desde os primeiros meses do governo Lula. Com críticas veladas de ambos os lados ao longo dos últimos meses, a relação entre eles piorou gradativamente.
Em abril do ano passado, Lira criticou Padilha, porém, em um tom mais polido. Ao comentar a distribuição de emendas para deputados, Lira afirmou que “a SRI precisava se organizar”. Sobre Padilha, Lira não fez ataques diretos, mas o definiu como “centralizador”.
— Eu sempre disse que o orçamento é muito mais democrático se decidido por 600 parlamentares do que por dez ministros. […] O governo precisa se organizar, mais especificamente a Secretaria de Relações Institucionais. Padilha é um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades. Não tem se refletido em uma relação de satisfação boa. Talvez a turma precise descentralizar mais, confiar mais. Se você centraliza, prende muito — disse na ocasião.
Diálogos cortados
De acordo com pessoas próximas a ambos, em outubro do ano passado os dois já não se falavam mais. A ruptura teria partido de Lira, que teria cortado o diálogo com Padilha, a voz de Lula no legislativo. O estopim para o rompimento, segundo aliados do presidente da Câmara, foi a edição de uma portaria do governo que prevê novas regras para liberação de recursos apadrinhados por parlamentares na área da Saúde. A nova norma, que entrou em vigor em dezembro, condiciona transferências à aprovação de um colegiado formado por gestores estaduais e municipais do SUS em cada estado.
Lula foi avisado ainda em dezembro por Lira que não havia mais diálogo com Padilha, seja sobre a liberação de emendas ou sobre a tramitação de projetos. Desde então, Lira elegeu como interlocutores o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para tratar de assuntos de interesse do Palácio do Planalto.
‘Incompetente’
O embate entre os dois escalou em abril deste ano, quando o alagoano se referiu a Padilha como “um incompetente” e seu “desafeto pessoal”.
As falas foram dadas durante evento no Paraná, enquanto respondia sobre a votação que manteve preso o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado como um dos mentores do assassinato da vereadora Marielle Franco.
De acordo com Lira, boatos sobre uma suposta interferência dele para soltar Brazão partiram de Padilha. O ministro negou as suposições e afirmou que os parlamentares tiveram liberdade para votar conforme as suas vontades.
— Essa notícia foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, um incompetente. Não existe partidarização. Eu deixei bem claro que ontem a votação foi de cunho individual, cada deputado responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver — disse Lira.
Depois, em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, Lira fez um mea-culpa e disse que foi um erro chamar Padilha de “desafeto pessoal”. (Foto: G1)