“Eu sou de uma entidade empresarial e nós acreditamos no livre mercado, na concorrência, no capital e no lucro.”
Presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), uma das mais fortes representantes do setor industrial no país, José Velloso faz questão de dizer que não encampa “um discurso de esquerda”.
Porém, considera exagerada a reação do mercado financeiro ao pacote de cortes de gastos do governo, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na semana passada.
Ele fez essa declaração em entrevista ao jornalista Carlos Juliano Barros, colunista do UOL.
“Quando você vê movimentos bruscos de bolsa e dólar, é preciso ter calma para analisar”, diz Velloso, em entrevista à coluna. “Essa movimentação especulativa não é um bom termômetro porque tem alguém que vai ganhar dinheiro com isso”, complementa.
Apesar de enxergar uma “falha política” no anúncio da reforma do Imposto de Renda (IR) em conjunto com o dos cortes de gastos, o representante da indústria crê que o plano de Haddad “vai no caminho correto”. E lembra que os resultados do ajuste fiscal vão depender do Congresso Nacional, onde as medidas serão debatidas e votadas.
Velloso faz ressalvas à leitura dos analistas do mercado financeiro e faz um desabafo: “Essa discussão sempre desembocar no aumento da taxa de juros é disfuncional. Essa taxa de juros elevadíssima — não é elevada! — é mais prejudicial do que qualquer outra coisa na economia”.
“Quando você vê movimentos bruscos de bolsa e dólar, é preciso ter calma para analisar”, diz Velloso, em entrevista à coluna. “Essa movimentação especulativa não é um bom termômetro porque tem alguém que vai ganhar dinheiro com isso”, complementa.
Apesar de enxergar uma “falha política” no anúncio da reforma do Imposto de Renda (IR) em conjunto com o dos cortes de gastos, o representante da indústria crê que o plano de Haddad “vai no caminho correto”. E lembra que os resultados do ajuste fiscal vão depender do Congresso Nacional, onde as medidas serão debatidas e votadas.
Velloso faz ressalvas à leitura dos analistas do mercado financeiro e faz um desabafo: “Essa discussão sempre desembocar no aumento da taxa de juros é disfuncional. Essa taxa de juros elevadíssima — não é elevada! — é mais prejudicial do que qualquer outra coisa na economia”.
Leia a íntegra da entrevista abaixo.
Qual é sua avaliação sobre o pacote anunciado pelo ministro Haddad?
É importante esse movimento do Haddad, já há algum tempo, de buscar um ajuste fiscal. Realmente, a dívida [pública] está aumentando e alguma coisa tem que ser feita. O plano que ele apresentou vai no caminho correto. Se ele conseguir atingir os R$ 70 bilhões, que é o programado, ele vai conseguir ajustar o arcabouço fiscal que o próprio governo aprovou.
E a reação do mercado?
Houve um nervosismo no mercado porque vazou aquela notícia [da isenção] do Imposto de Renda até R$ 5 mil. Quando você vê movimentos bruscos de bolsa e dólar, é preciso ter calma para analisar. Isso tem que ser analisado daqui 10, 20, 30 dias. Essa movimentação especulativa não é um bom termômetro porque tem alguém que vai ganhar dinheiro com isso.
Eu acho que onde houve uma falha — mas aí não é uma falha técnica, é uma falha política — é que a movimentação em torno de alguma reforma do Imposto de Renda deveria ter sido feita apartada do plano fiscal. Deveriam ter apresentado num outro projeto.
Mas eu acredito que ele [o pacote de corte de gastos] vai no caminho certo. E o importante é que ele seja robusto e que ele atinja o objetivo porque a coisa mais importante que tem em economia hoje no Brasil é reverter a curva longa de juros.
Por ora, a tendência é o mercado cobrar juros ainda mais altos, argumentando que o pacote foi insuficiente e que o governo precisa “cortar na carne”. Como o senhor vê esse cenário?
Nós só vamos saber o teor completo do pacote depois das votações na Câmara e no Senado. Ele vai ter mais ou menos intensidade fiscal, dependendo do comportamento do Legislativo. Lembrando que uma parte do projeto é evitar um aumento exagerado das emendas parlamentares.
É fundamental que o projeto fiscal tenha resultado positivo porque o pior índice da economia no momento são os juros altos. O PIB está crescendo 3,3%, tem desemprego baixo, aumento da renda. Você tem alguns elementos da economia que são positivos e estão no caminho correto. No entanto, os juros estão elevados demais.
Os juros estão acima de onde deveriam estar. Os fundamentos da economia são suficientemente claros para mostrar que os juros estão exageradamente altos. Uma taxa de juros real acima de 7% [da inflação] é muito alta.
Qual é sua opinião sobre a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais?
Esse projeto de zerar o IR para quem tem renda de até R$ 5 mil por mês é uma promessa de campanha do Lula. Ele foi eleito com isso.
Colocar um patamar mínimo de 10% de IR para quem tem renda superior a R$ 50 mil é super razoável. Se você pegar qualquer país em desenvolvimento ou país desenvolvido do mundo, a média do IR na pessoa física é muito além disso.
Tem muito CLT que não ganha nem perto de R$ 50 mil e está pagando alíquota de IR de 27,5%…
E vai continuar pagando. Na Europa, nos Estados Unidos, tem casos que [as alíquotas] passam de 50% da renda para grandes fortunas. Então, é super razoável.
A reação do mercado está um tanto exagerada. Por quê? Eu não tenho as contas, mas a Receita Federal, que apoiou o Haddad, disse que o aumento da carga tributária, nesse piso de 10% para quem ganha acima de R$ 50 mil, anula a isenção de quem ganha até R$ 5 mil. Se isso é verdade, a reação negativa do mercado foi extremamente exagerada.
Como o senhor avalia o debate econômico feito no país e esse cenário de aumento de juros?
Você pega qualquer país da Europa, ou mesmo os Estados Unidos, que tiveram explosão do déficit fiscal, não tiveram essa reação [de aumento explosivo das taxas de juros].
No Brasil, tem uma predominância de uma parcela da população [que é] rentista. Essa população rentista domina as páginas de jornais, os comentaristas econômicos. É uma elite.
Eu não estou querendo fazer aqui proselitismo e muito menos um discurso de esquerda, porque essa não é a minha posição. Eu sou de uma entidade empresarial e nós acreditamos no livre mercado, na concorrência, no capital e no lucro.
Mas veja bem: essa discussão sempre desembocar no aumento da taxa de juros é disfuncional. Essa taxa de juros elevadíssima — não é elevada! — é mais prejudicial do que qualquer outra coisa na economia.
Houve uma reação um tanto exagerada [do mercado]. Por quê? Como é que no dia anterior, quando ninguém conhecia o plano, você já podia dizer que o plano não ia dar certo e ia [precisar] aumentar a taxa de juros? (Foto: Redes Sociais)