Ramagem é alvo de operação da PF contra monitoramento ilegal na Abin

Ex-chefe da agência no governo do ex-presidente Bolsonaro é suspeito de integrar organização criminosa que utilizava software espião israelense para monitorar autoridades

 

O deputado federal de extrema-direita e pré-candidato à Prefeitura da capital fluminense, Alexandre Ramagem (PL-RJ) é um dos alvos da operação da Polícia Federal (PF), deflagrada na manhã desta quinta-feira (25), que apura possível organização criminosa que teria se instalado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas. O parlamentar comandou a agência no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

São cumpridos 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, incluindo a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais. Os mandados são cumpridos em Brasília (18), Juiz de Fora (MG) (1), São João Del Rei (RJ) (1) e Rio de Janeiro (1). Na capital federal, um dos mandados de busca está sendo cumprido no gabinete de Ramagem na Câmara dos Deputados.

De acordo com as investigações, os suspeitos (grupo formado por policiais federais e servidores da Abin) utilizavam o software espião FirstMile, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint), que permitia monitorar os passos de até 10 mil pessoas. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.O deputado federal é investigado por causa dos monitoramentos ilegais durante sua gestão, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ramagem também é suspeito de ter se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião.

A ação é uma continuidade da operação Última milha, deflagrada no ano passado. Segundo a PF, as provas obtidas a partir das diligências executadas à época indicam que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal.

Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que “o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”.

Documentos em posse da PF indicam que funcionários da Abin lotados no CIN (Centro de Inteligência Nacional) utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro. O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por Ramagem. Apelidada de Abin paralela, os cargos de chefia da então nova estrutura foram lotados por servidores da agência e policiais federais próximos à Ramagem e da família Bolsonaro.

A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar “atividades de inteligência” destinadas “ao enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado” e assessorar órgãos competentes sobre “atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosa”. O centro foi desmontado pela reestruturação promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação da PF que mirou o software espião.

Ramagem

Deputado federal eleito pelo PL em 2022, Alexandre Ramagem é ex-delegado da Polícia Federal (PF), função que desempenhou até o começo do mandato de Bolsonaro, em 2019. No início de 2019, Ramagem foi nomeado superintendente da PF do Ceará, mas abandonou a carreira policial para ingressar na política. Ele passou um breve período como assessor da Presidência e depois foi escolhido para chefiar a Abin em junho daquele ano. Na Câmara, ele é um dos vice-líderes do PL e é titular da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e do Conselho de Ética. Ramagem também é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais deste ano. Até o momento, o parlamentar não se pronunciou sobre a operação da Polícia Federal.

(Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

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