No Dia Internacional da Enfermagem, Opinião em Pauta destaca e compartilha o artigo da Doutora em Saúde Pública, Margareth Gomes, professora licenciada da UFRJ , que foi publicado no jornal El País das Espanha
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Especialistas em saúde estão sofrendo cada vez mais com problemas psicológicos e físicos devido às condições de trabalho, que, após a COVID-19, se tornaram um dos empregos mais estressantes.
Quase dois milhões de pessoas exercem a enfermagem no Brasil, a esmagadora maioria delas, mulheres. Eles trabalham no chamado SUS (Sistema Único de Saúde), o serviço público de saúde do maior e mais populoso país da América Latina.
Lá, como em quase todo o Sul Global, é cada vez mais comum que enfermeiros sofram com problemas psicológicos e físicos, seja pelo excesso de carga de trabalho, pelo ambiente ou pelas condições de trabalho, o que tem levado a um sofrimento emocional que atinge níveis epidêmicos, segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), responsável por regulamentar e fiscalizar o exercício profissional no país e promover estudos e campanhas para seu aprimoramento.
O COFEN também discute e implementa estratégias para reduzir o sofrimento dos profissionais de enfermagem, além de oferecer apoio personalizado, coordenar esforços e propor políticas para melhorar as condições de trabalho na enfermagem.
Assim como os médicos, os enfermeiros brasileiros fazem um juramento ao se formarem: o de prestar assistência integral às pessoas necessitadas. Por isso, e principalmente após a pandemia da COVID-19, que colocou em evidência o trabalho dos profissionais de saúde e os impulsionou definitivamente ao topo do ranking das profissões mais estressantes do mundo, os enfermeiros brasileiros estão respondendo a novos cenários e desafios, incluindo a emigração para países como Alemanha, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e Emirados Árabes Unidos com organização de classe e capacitação.
A proposta incentiva a busca por soluções colaborativas para melhorar a saúde tanto local quanto globalmente, e para fortalecer as respostas a futuras emergências, reconhecendo que há interdependência em questões de saúde e que o sofrimento de uma parcela significativa dos profissionais de saúde de um país pode em breve se tornar a realidade de todas as nações.
A prevenção, a produção local de medicamentos, o impacto das mudanças climáticas na saúde e a importância de uma abordagem “Saúde Única”, que integra a saúde humana, animal e ambiental, são as prioridades estabelecidas para avançar nessa cooperação impulsionada pelo Brasil.
Essas diretrizes, vontades e esforços têm razões bem fundamentadas: a população mundial continuará a crescer para 10 bilhões até 2080 e as projeções da ONU indicam que a expectativa de vida chegará a 77,4 anos até 2054. Isso significa muitos estão demandando cuidados em um contexto no qual, se o número de novos enfermeiros não ultrapassar o número de enfermeiros que se aposentam e o número daqueles que deixam a profissão devido às más condições de trabalho, uma parte significativa da força de trabalho em saúde disponível envelhecerá, especialmente no Sul global.
Em virtude da missão que exercem, os enfermeiros precisam recuperar o senso de reconhecimento social. Para atingir esse objetivo, é essencial um tipo de cooperação internacional capaz de facilitar e possibilitar o intercâmbio de boas práticas relacionadas à proteção dos profissionais de saúde e à promoção de condições de trabalho dignas, sempre que possível.
Salários justos, culturas seguras de serviços prestados, ambientes de trabalho saudáveis e incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional são essenciais para reduzir o esgotamento e a fadiga.
Uma das reivindicações do COFEN, que está sendo analisada pelo governo brasileiro, é a criação de uma carreira federal específica para profissionais de enfermagem que atuam em territórios indígenas. Esses enfermeiros são essenciais para prestar cuidados às comunidades vulneráveis, mas enfrentam condições precárias de infraestrutura para realizar seu trabalho.
Os enfermeiros são a força motriz dos sistemas de saúde. Sua notoriedade no enfrentamento da pandemia, sua implementação da ação-chave de imunização e o reconhecimento de seu árduo trabalho na linha de frente do combate ao vírus trouxeram à tona a grande vulnerabilidade que enfrentam em suas rotinas de trabalho, suas longas jornadas, seus turnos de trabalho em pé e muitas outras demandas, que eram e são problemas comuns que podem levar à fadiga por compaixão e ao esgotamento.
Investir no bem-estar dos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros que atuam na linha de frente dos sistemas de saúde, como a atenção primária, aumenta a eficácia e a sustentabilidade desses sistemas.
A enfermagem desempenha um papel fundamental nos cuidados essenciais e pode melhorar a cobertura e a qualidade do atendimento prestado. Para o benefício de todos, é hora de cuidar de quem se importa. No Brasil e no mundo.